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Mês da mulher: como identificar e acolher vítimas de violência doméstica

A advogada de família orienta sobre os cuidados necessários no acolhimento e identificação das vítimas

Redação Publicado em 22/03/2025, às 06h00

Os sinais de abuso nem sempre são só físicos, e varias vezes aparecem na forma de sofrimento emocional
Os sinais de abuso nem sempre são só físicos, e varias vezes aparecem na forma de sofrimento emocional

A violência doméstica é um problema grave e persistente no Brasil, afetando milhares de mulheres em todo o país, muitas das quais não conseguem ou não sabem como buscar ajuda. Dados recentes da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres apontam que, em 2024, mais de 267 mil mulheres foram vítimas de violência doméstica no Brasil, um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Esses números alarmantes refletem a realidade de um problema que, embora invisível para muitos, impacta diretamente a vida das vítimas.

A advogada de família Barbara Heliodora, especializada em casos de violência doméstica, explica que, muitas vezes, os sinais de abuso não são visíveis à primeira vista. "É comum que as vítimas apresentem comportamentos que revelem um sofrimento emocional. Mudanças no comportamento, como ansiedade, medo excessivo ou isolamento social, podem ser indícios de violência psicológica ou até física. Embora hematomas e lesões sejam sinais mais evidentes, é preciso também observar o comportamento e o estado emocional da mulher", alerta Barbara.

Além disso, a violência doméstica pode se manifestar de diferentes formas, como violência física, psicológica, sexual, moral e patrimonial. A advogada enfatiza que, muitas vezes, o abuso psicológico ou moral pode ser mais difícil de identificar. "A violência psicológica, como insultos, humilhações e ameaças constantes, é uma forma de controle que pode minar a autoestima da vítima. Já a violência patrimonial envolve a destruição de bens, controle financeiro ou até proibição de trabalhar, o que afeta diretamente a autonomia da mulher", explica Barbara.

Quando alguém identifica que uma mulher próxima a ela está sendo vítima de violência doméstica, a primeira atitude deve ser agir com cautela. A advogada Barbara Heliodora recomenda que a pessoa se aproxime da vítima com sensibilidade, sem pressionar a falar ou a tomar decisões. “ A vítima precisa sentir que tem alguém ao seu lado sem julgamentos. Oferecer apoio emocional, estar disposto a ouvir e ajudar a mulher a perceber que ela não está sozinha são atitudes essenciais”, orienta.

Além disso, é fundamental que quem identifica a situação de violência saiba que existem recursos e redes de apoio disponíveis. A pessoa pode ajudar a vítima a acessar esses serviços, como a Central de Atendimento à Mulher (180), ou encaminhá-la para uma delegacia especializada ou centros de apoio, onde ela pode receber o suporte jurídico e psicológico necessário. "Informar a vítima sobre os recursos de proteção e ajudá-la a compreender que ela tem direitos e opções legais é crucial. Não se deve minimizar a situação ou tentar resolver sozinha. Buscar apoio de profissionais especializados é sempre a melhor escolha", diz Barbara.

No momento do acolhimento, Barbara recomenda um cuidado especial. "É fundamental que quem está oferecendo apoio crie um verdadeiro espaço de confiança para a vítima. O primeiro passo é escutá-la sem julgamentos e com empatia. O acolhimento deve ser respeitoso e sem pressa. A vítima não deve ser pressionada a tomar decisões de imediato, pois muitas vezes ela está emocionalmente fragilizada e com muito medo do agressor", orienta a advogada.

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A advogada também enfatiza a importância de oferecer informações claras sobre os recursos disponíveis, como a Lei Maria da Penha, que garante proteção para a mulher em situação de violência doméstica, e os serviços de apoio que podem ser acessados. Muitas mulheres desconhecem os mecanismos legais que podem ser acionados, e isso pode ser um fator decisivo para que elas busquem ajuda.

Em 2024, o Brasil registrou um aumento na busca por ajuda por meio do número 180, em torno de 800 mil ligações realizadas. No entanto, é importante ressaltar que muitos casos ainda não são denunciados, e o medo da retaliação, a dependência financeira ou a falta de apoio emocional ainda são barreiras significativas para as mulheres vítimas de violência.

*com edição de Marina Yazbek Dias Peres