Apesar das leis, a desigualdade persiste; a falta de mulheres em posições de poder é um dos principais fatores desta realidade
Raquel Gallinati* Publicado em 28/08/2025, às 06h00

Nesta semana em que celebramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina, precisamos reforçar que não é apenas uma lembrança de conquistas passadas. A data também é um convite para olhar o presente com atenção. A cada ano, os números mostram que ainda existe uma grande distância entre a igualdade garantida na lei e a igualdade vivida no dia a dia. Uma das razões para que esse abismo permaneça está na ausência de mulheres em espaços de decisão e de narrativa.
Quando a presença feminina é pequena em cargos de liderança, seja na política, na economia, na segurança pública ou espaços de fala, o resultado é claro. As experiências das mulheres ficam de fora da mesa de decisões. Políticas públicas são desenhadas a partir de olhares que não contemplam toda a sociedade. E as histórias que chegam ao grande público muitas vezes não traduzem a realidade de muitas mulheres.
Representatividade importa porque quem fala também define o que é falado. É a diferença entre um projeto de transporte urbano pensado apenas por homens ou pensado também por mães que atravessam a cidade com filhos pequenos. É a diferença entre a cobertura de um caso de violência de gênero tratada como “crime passional” e a cobertura que reconhece o feminicídio como um problema estrutural.
A igualdade só se tornará concreta quando a mulher puder ocupar esses espaços sem ser exceção. Mais vozes femininas em cargos de comando significam mais olhares diversos na construção da sociedade. Significam transformar experiências em políticas mais humanas, justas e eficazes.
No dia em que celebramos a igualdade, precisamos lembrar que o futuro só será equilibrado quando as mulheres tiverem voz ativa. Não apenas como eleitoras, consumidoras ou espectadoras, mas como protagonistas de decisões e narrativas. Quem conta a história molda a realidade.
*Raquel Gallinati é delegada de polícia, mestre em Filosofia e diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil