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Em entrevista exclusiva, Ana Hickmann desabafa sobre violências que continua sofrendo

Ana Hickmann tenta provar que teve a assinatura falsificada. Novo perito, que contestou laudo anterior de falsidade, já se envolveu com fake news

Mariana Kotscho* Publicado em 21/02/2025, às 16h00

A apresentadora Ana Hickmann
A apresentadora Ana Hickmann

Não é de hoje que no Brasil, em casos de violência doméstica, a estratégia de agressores costuma ser a de desmoralizar e atacar as vítimas numa tentativa de culpar a vítima e vitimizar o culpado.

Desde que denunciou o ex-marido por violência doméstica, a apresentadora Ana Hickmann vem enfrentando outros processos, ataques e diversas formas de violência. A própria Maria da Penha, que dá nome à Lei, está sempre sofrendo ataques orquestrados por grupos, principalmente em redes sociais. E isso também começa a acontecer com Ana. Mas, a quem interessa atacar essas mulheres e o combate à violência de gênero?

Esta semana, um novo perito atestou que eram verdadeiras assinaturas de Ana Hickmann já consideradas falsas anteriormente. O perito Reginaldo Tirotti já tinha ficado conhecido anteriormente por emitir um laudo falso sobre suposto caso envolvendo o Padre Julio Lancellotti. Em suas redes sociais, há vídeos apoiando intervenção militar no Brasil e golpe de estado.

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Entenda o caso da assinatura

O Banco Daycoval entrou com um processo cobrando R$730 mil, referente a um suposto empréstimo. Advogados de Ana Hickmann apresentaram a defesa e juntaram laudo comprovando que as assinaturas não eram dela. Como o banco não aceitou a perícia juntada pela defesa de Ana, o Juiz do caso determinou a realização de outra perícia dentro do processo, com um perito indicado por ele. Essa nova perícia atestou que as assinaturas falsas seriam verdadeiras.

Isso abriu um novo capítulo na jornada judicial que a apresentadora vem enfrentando no último ano. Ana Hickmann afirma que não reconhece a assinatura e mostra a verdadeira e a que considera falsa.

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Assinatura que Ana Hickmann não reconhece

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Assinatura de Ana Hickmann em documento original

Muito abalada, ela aceitou conversar com este site. 

Entrevista exclusiva com Ana Hickmann

MK: Como está a situação atual do divórcio e da violência doméstica?

AH: Estou divorciada desde o ano passado, mas os nossos bens ainda estão sendo discutidos. São muitas dívidas envolvendo o meu nome e as empresas, grande parte delas eu só tive conhecimento após a separação. Então, infelizmente, é um processo que leva tempo para ser resolvido. Estou empenhada em trabalhar para cuidar do meu filho e pagar as dívidas que foram deixadas para mim. Estou tentando vender a minha casa, um patrimônio que dediquei a minha vida para construir, pois trabalho duro desde os meus 15 anos. Hoje preciso resolver as coisas de maneira prática, ainda que não seja fácil. Sobre a violência doméstica, estou confiante que o meu agressor será condenado. O julgamento estava marcado para setembro do ano passado, mas o Alexandre conseguiu suspender a audiência com recurso de Habeas Corpus. Em novembro, ele sofreu derrota no julgamento desse recurso e a decisão foi negada por todos os desembargadores. Eu acredito que o processo de violência doméstica deve ser julgado em breve.

MK: Você continua sofrendo violências?

AH: Todos os dias. O meu agressor divulga notícias falsas sobre o que acontece no processo de divórcio, com o intuito de manipular a opinião pública contra mim. Isso acontece com muita frequência. Diariamente, o vejo me xingando e contando mentiras sobre mim, insinuando situações que nunca aconteceram para tentar me descredibilizar como mulher e mãe. Ele, inclusive, cometeu alienação parental quando publicou um vídeo do meu filho contra mim nas redes sociais. Desde o dia 11/11/23, quando sofri agressão física dentro de casa, venho sofrendo muitos outros tipos de violência.

MK: Você reconhece sua assinatura nesses documentos?

AH: Não. A empresa tinha sim algumas dívidas e eu estava ciente disso, mas foi uma surpresa quando me deparei com contratos que eu nunca tinha visto, com assinaturas falsas como se fossem minhas. Foi um choque. Eu não sabia o que faziam em meu nome e tomei conhecimento do tamanho do problema pouco antes da minha separação. A agressão física aconteceu quando eu comecei a enxergar as coisas com clareza e o questionei. Contratei uma perícia grafotécnica particular e foi atestado que 48 assinaturas falsificadas foram feitas pela Claudia Helena dos Santos, minha ex-agente e braço direito do Alexandre, com quem ele tem uma amizade íntima há muito tempo. Eles continuam trabalhando juntos, inclusive. Meus advogados, que já contestavam todas as assinaturas falsas, passaram a trabalhar também com esse documento. O DEIC, que conta com peritos oficiais, reconheceu a falsificação de 10 assinaturas até o momento. Foi comprovada a fraude em contratos firmados com o Itaú e o Bradesco desistiu da cobrança, porque reconheceu a falsidade da assinatura. O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu um processo do Safra até o final da decisão, além de outros processos que estão parados até a apuração das falsificações. Tenho tido vitórias importantes, mas é uma batalha longa e exaustiva.

MK: O que acha de este perito que atestou ser sua a assinatura já ter feito laudo falso que prejudicou o padre Julio Lancellotti?

AH: Assim como em todas as vezes, fui tranquila colher o material para a perícia, pois estou segura de que falsificaram as minhas assinaturas e de que estou sendo vítima desse golpe. Ver o resultado me preocupou muito, porque eu confiei ser uma análise justa e idônea. Quando soube do caso do padre Júlio, entendi que a situação era muito maior e mais grave do que eu imaginava. Nós vamos contestar e eu acredito que vamos comprovar que as assinaturas nesse contrato não são minhas, assim como já fizemos em outros casos. Mas é muito duro ler comentários de algumas pessoas me tratando como criminosa. As assinaturas já foram comprovadas falsas em outros contratos de bancos respeitados como o Itaú e o Bradesco; o DEIC já comprovou 10 falsificações no total, mas estão usando essa perícia com vários vícios para invalidar tudo que aconteceu. Isso não é justo.

MK: Você sente que está no meio de algo maior que envolve questões políticas e violência de gênero?

AH: Sim, está tudo muito polarizado. As pessoas tomam partido por questões ideológicas e muitas deixam de se apegar aos fatos já comprovados. A busca por justiça e direitos é legítima, mas sinto que como mulher, sou descredibilizada diversas vezes. Seja porque fiquei tantos anos casada com meu agressor, porque denunciei o pai do meu filho, porque iniciei um novo relacionamento antes do que as pessoas encaram como o tempo certo para isso acontecer. São infinitas razões que algumas pessoas tentam encontrar para invalidar a minha história.

MK: Sabemos que há uma onda de fake news orquestrada para descredibilizar a Lei Maria da Penha e as vítimas de violência doméstica. O que acha disso?

AH: É muito triste. Vivemos em um dos países que mais mata mulheres no mundo e eu não consigo aceitar que parte da sociedade encare isso como algo normal. Não existe razão para justificar uma violência. É abominável! A história da Penha foi tão triste, dura e significativa que ela conseguiu ser traduzida em uma lei extremamente necessária para nós, vítimas. A luta é difícil, mas eu acho importante falarmos sobre esse assunto para disseminar o poder da lei e mostrar que sim, ela é efetiva. Eu sou prova disso.

MK: O que você espera no fim dessa história?

AH: Eu acredito na justiça dos homens e de Deus. Trabalhei a minha vida inteira para dar conforto para minha família e hoje, luto para que tudo que construí para o meu filho não seja perdido. Acredito que o meu agressor será condenado pela violência que cometeu contra mim, e que conseguirei comprovar a atuação direta dele, da Claudia Helena, e todas as outras pessoas envolvidas no esvaziamento do meu patrimônio.

A Defesa de Ana Hickmann

Para o advogado de Ana Hickmann, Roberto Leonessa, “a credibilidade do perito está totalmente abalada e sob uma sombra de dúvidas, por ter se envolvido em uma situação pública e política de fake news. Isso claramente o descredencia para ser um Perito de qualquer Juízo nesse momento!”. O advogado acrescenta que “usar sua qualificação e trabalho para uma fake news de interesse político é totalmente condenável e o descredencia para produzir um laudo judicial que decide o rumo de um processo e a vida das pessoas envolvidas!”.

A defesa de Ana Hickman pretende contestar o laudo de Reginaldo Tirotti e a capacidade e confiança no profissional, levando em conta um passado que o deixa com a sombra da dúvida. “Nesse sentido, a jurisprudência é clara que, na dúvida, tem que ser nomeado um novo perito que possa realizar um novo laudo sem contaminações erros e vícios”, completa Roberto Leonessa.

Nota completa da defesa de Ana Hickmann

A defesa de Ana Hickmann informa que o laudo pericial ainda não foi homologado pelo juiz e, caso acolhido, pode ser revisto pelos Tribunais, pois possui vários vícios em sua condução e conclusão. O material será contestado.

O perito que assina o laudo está envolvido em polêmicas de supostas farsas atribuídas ao caso do Padre Julio Lancelotti, o que causa grande preocupação. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) reconheceu a falsificação de 10 assinaturas da apresentadora presentes em diversos contratos, dentre eles, contratos que estão sendo discutidos judicialmente.

Além disso, um dos contratos supostamente firmados com Banco Itaú já foi periciado e a conclusão é de que as assinaturas da apresentadora são, irrefutavelmente, falsas. Não podemos esquecer que o Bradesco desistiu de prosseguir com uma cobrança contra Ana Hickmann porque reconheceu, previamente, a falsidade da assinatura. Em outro processo, da mesma casa bancária, o juiz determinou a suspensão de todos os atos até final da apuração, diante da existência de outros laudos atestando as falsificações. Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu por prudente a suspensão de um processo do Safra até o final da decisão.

* Mariana Kotscho é jornalista