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Querer ser valorizado pelo outro a todo custo pode levar ao abandono das próprias vontades e desejos

O receio de ser malvisto pelo outro faz com que muitas pessoas aceitem demandas, mesmo quando assim não desejam

Gislene Erbs* Publicado em 16/07/2023, às 12h00

No fim das contas, desejando tanto escapar do sofrimento acabam por encontrá-lo
No fim das contas, desejando tanto escapar do sofrimento acabam por encontrá-lo

No consultório, durante os atendimentos, testemunho diversos pacientes lamentando não conseguirem blindar-se de demandas alheias, muitas delas contrárias e prejudiciais às próprias vontades. Ao fazerem isso, a aquiescerem, quando, de fato, gostariam de dizer “não”, eles acabam por perder o foco na realização dos próprios objetivos e sentem como se as rédeas de suas vidas escapassem de suas mãos. Este é um problema comum a muitas pessoas, mas por qual razão?

O desejo de ser valorizado pelo próximo a todo custo está no cerne desta postura. Conjecturando que deixará de ser apreciada pelo outro, caso negue sua solicitação, e temendo sofrer em razão disso, a pessoa obtém o resultado contrário ao desejado, ou seja, vai em direção àquilo que tanto desejava escapar: o sofrimento. Algumas pessoas, somente de pensar que precisarão dizer “não”, já se sentem culpadas envergonhadas ou com medo, a ponto de se perceberem como desvalorizadas, indignas de serem aceitas, até mesmo de serem amadas.

Passar por cima de desejos e prioridades, para agradar alguém, faz com que as pessoas  enfrentem consequências que nunca teriam desejado viver, como, por exemplo, sentir-se com a autoestima baixa e deprimido. Veja como isso é curioso: estes indivíduos perdem coisas exatamente por não conseguirem dizer não por terem medo de perder coisas.

O caminho para sair dessa espiral de sofrimento passa por mudanças que quebrem comportamentos de comodidade. Sim, porque, infelizmente, o ser humano possui a tendência de acomodar-se até mesmo  fazendo aquilo que não nos lhe faz bem. Para isso, é preciso muita coragem, assim como esforço, dedicação, confiança e determinação, sempre ciente de que transformações levam tempo para acontecerem de fato.

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O primeiro passo para a mudança é o diagnóstico do problema. Para isso, é de grande ajuda indagar-se se tem o costume de dizer “sim” quando na realidade quer dizer “não”, priorizando os outros ao invés de si mesmo, em diversas situações. Se você costuma aceder às solicitações alheias porque deseja ser apreciado, para evitar um confronto, para não magoar as pessoas, ou como forma de compensação por algo que deixou de fazer, você é um forte candidato a estar engolindo muitos sapos pela vida, simplesmente por não conseguir dizer “não” quando necessário.

Quem se identifica com as ações descritas acima, é evidente que está colocando os outros como centro da própria vida e priorizando os interesses alheios em vez de dar atenção a si mesmo e ao que realmente lhe interessa. E o mais incrível: age desse modo em busca de saciar o desejo de ser mais valorizado. Só que faz isso pegando o caminho errado e deixa de ser apreciado até por si mesmo.

Depois de inteirar-se sobre os próprios hábitos e costumes, confirmando que realmente prioriza pautas alheias no lugar de assuntos próprios, o indivíduo deve se perguntar se é isso mesmo que deseja para a própria vida e se está feliz, satisfeito e pleno vivendo dessa maneira. São desses questionamentos que sairão intenções, planos e estratégias para que ele consiga ajustar a própria realidade, respeitando os próprios limites e vontades,  decidindo e agindo de maneira mais assertiva, positiva e construtiva para viver uma vida mais plena, saudável e feliz.

*Gislene Erbs é psicóloga, hipnoterapeuta e coach sistêmica. Para ajudar as pessoas a se sentirem confortáveis a dizer “não” quando precisam, escreveu o livro “Sim ou não – a difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua vida”.