Cirurgias plásticas e de afirmação de gênero podem melhorar expressivamente a saúde mental e o bem-estar físico desses pacientes
Redação Publicado em 06/06/2023, às 10h00
Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIA+, um momento importante para se pensar sobre a garantia do acesso de pessoas transgêneros às cirurgias plásticas e de afirmação de gênero. Estudos apontam que esses procedimentos possuem um papel importante na garantia de qualidade de vida, saúde mental e bem-estar para esses indivíduos. Por isso, é fundamental a discussão sobre a importância da garantia desses procedimentos para essa população.
“A cirurgia plástica tem como objetivo recuperar a autoestima dos pacientes, sendo indicada quando a autoimagem está abalada”, diz o cirurgião plástico Dr. Alexandre Charão, membro associado da BAPS (Brazilian Association of Plastic Surgeons) com grande número de casos de cirurgias reparadoras em pacientes transgênero.
E, entre pessoas trans, as cirurgias de mama figuram entre as mais importantes. “As mamas são o maior símbolo da feminilidade e não o órgão genital, como muitos acreditam. Justamente por esse motivo, muitos dos meus pacientes não buscam a cirurgia genital, que é demorada, com várias etapas, além de não ser muito realizada no Brasil”, afirma o médico.
Segundo o Dr. Alexandre, homens transgênero geralmente procuram o cirurgião plástico por se incomodaram com as mamas. “A presença das mamas agride e machuca a imagem que esses pacientes têm de si. Ainda na pré-adolescência, é comum que utilizem roupas mais folgadas para esconder o volume da mama, cabelo mais curto e comecem a usar testosterona para ter voz mais grossa, hipertrofia muscular e uma aparência mais masculina. Mas as mamas continuam lá e muitos pacientes desejam, por exemplo, ir para a praia sem camiseta”, explica o cirurgião plástico.
Nesses casos, é indicada a mastectomia, que, na legislação brasileira, se enquadra como uma cirurgia reparadora. “A mastectomia é a cirurgia que tem como objetivo a retirada das glândulas mamárias, gordura e pele em excesso da região para que as mamas fiquem correspondentes ao gênero com o qual o paciente se identifica”, explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Já as mulheres transgênero, por motivos semelhantes, tendem a buscar o cirurgião plástico para realizar a mamoplastia de aumento. “A mamoplastia de aumento consiste no implante de uma prótese de silicone, por cima ou por baixo do músculo peitoral, para conferir volume às mamas, sendo que o tamanho da prótese pode variar de acordo com cada caso e deve ser escolhido em uma conversa entre o cirurgião e a paciente, levando em consideração fatores como o corpo, o tamanho do tórax e a estatura”, destaca a médica.
No corpo, as cirurgias de remodelação também trazem grandes benefícios para pacientes transgêneros. Mulheres trans que desejam um corpo mais harmônico, por exemplo, podem optar pela lipoescultura. “Nesse procedimento, a gordura, após ser lipoaspirada por meio de uma cânula, é enxertada novamente no corpo para dar volume em outra área, como nos glúteos, sendo que parte dessa gordura é absorvida pelo organismo após certo tempo”, acrescenta a Dra. Beatriz.
As cirurgias estéticas faciais também são recomendadas para pacientes de ambos os gêneros que desejam uma melhor harmonia do rosto. Por exemplo, homens transgêneros que desejam um contorno facial mais marcado podem optar pela mentoplastia. “Nesses casos, o tratamento pode ser feito através de próteses de queixo e mandíbula ou com preenchimentos de hidroxiapatita de cálcio ou ácido hialurônico, que são absorvíveis”, afirma a cirurgiã plástica. No campo das cirurgias faciais, a rinoplastia também se destaca, principalmente entre mulheres trans que desejam afinar o nariz e torná-lo mais delicado.
Mas a importância da discussão sobre a falta de acesso de pessoas transgênero aos procedimentos estéticos e de afirmação de gênero vai muito além da questão do bem-estar e saúde mental. “Negar o acesso das pessoas transgênero a esses procedimentos aumenta a probabilidade dessa população buscar tratamentos alternativos extremamente prejudiciais, incluindo o uso não supervisionado de hormônios e a realização de procedimentos estéticos de alto risco, como a implantação de próteses de silicone de baixa qualidade por profissionais não especializados. É visível então como as cirurgias de afirmação de gênero são uma questão de saúde pública que ainda precisa de muita atenção”, finaliza a Dra. Beatriz Lassance.