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Setembro Amarelo: a importância da escuta, do acolhimento e da autocompaixão no tratamento de jovens

A mestre em Psicologia Positiva, Adriana Drulla, comenta sobre como ajudar jovens que estão passando por algum tipo de doença mental

Adriana Drulla* Publicado em 14/09/2022, às 06h00

Setembro amarelo é o mês de prevenção do suicídio
Setembro amarelo é o mês de prevenção do suicídio

O dia 10 de setembro marcou o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Momento de refletir sobre o crescente aumento no número de casos de suicídio, especialmente entre jovens. Segundo a OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.

De olho no cenário brasileiro, chama a atenção uma enquete realizada pela UNICEF com mais de 7,7 mil adolescentes e jovens de todo o Brasil que mostra que, recentemente, metade sentiu necessidade de pedir ajuda sobre saúde mental. Outra pesquisa Datafolha, encomendada por Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e divulgada em julho deste ano, indica que cerca de 34% dos estudantes estão tendo dificuldades para controlar as suas emoções. Além disso, 24% estão se sentindo sobrecarregados e 18% estão tristes ou deprimidos.

Uma das motivações da minha pesquisa “Transmissão Intergeracional da Autocompaixão” foi buscar entender como os adolescentes desenvolvem a autocompaixão, que é apontada na literatura como mediador entre a depressão e o estresse. Ou seja, adolescentes autocompassivos são mais resilientes, deprimem menos, têm maior performance acadêmica e mais bem-estar. Uma das grandes questões na adolescência hoje é o aumento da comparação social, tanto por conta das redes sociais quanto porque hoje os pais, a escola e a sociedade têm maiores expectativas com relação às crianças. Essa sensação de ter que atingir expectativas altíssimas para se sentir bom o suficiente é um dos fatores que contribui para o aumento da depressão nesta faixa etária.

Uma segunda pergunta que me motivou foi o que os adolescentes precisam aprender para entenderem que não precisam se comparar com ninguém ou atingir nenhuma expectativa para saberem que têm valor. Como fazer para que eles aprendam que têm valor intrínseco. E foi quando descobri trabalhos que apontam a autocompaixão como um antídoto para este foco excessivo na competição e destaque.

A autocompaixão tem grande importância na etiologia dos pensamentos suicidas e de automutilação. Jovens com baixa autocompaixão, são mais propensos a terem sofrimento psicológico, como por exemplo depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. Eles também reportam maior uso de álcool, automutilação e ideação suicida em comparação com aqueles que têm maior autocompaixão.

A autocompaixão, é mais do que a ausência de autocrítica. Em vez disso, é um processo no qual os indivíduos têm a intenção e motivação para adotar e aplicar uma mentalidade compassiva em relação a si mesmos. Por exemplo, a aceitação das falhas/dificuldades pessoais em vez de criticá-las; ter uma consciência clara sobre pensamentos, emoções e experiências que são emocionalmente dolorosas; e adotar ativamente uma postura gentil e de apoio com relação a si mesmo, em vez de se julgar severamente por esses eventos. Além disso, implica reconhecer que o fracasso é algo que todos experimentam, em vez de se sentirem isolados, sozinhos ou inferiores. 

Como os pais podem ajudar?

Na minha pesquisa, feita nos Estados Unidos com 246 pares de mães e filhos,  descobri que mães autocompassivas têm filhos mais autocompassivos e estas crianças se sentem mais conectadas às suas mães. Além de ensinar pelo exemplo, o que acontece quando somos gentis com as nossas imperfeições e nos tratamos com cuidado é que nos tornamos mais saudáveis emocionalmente, menos reativos, conseguimos nos conectar com o jovem de uma forma mais profunda.

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Por exemplo, conseguimos usar a nossa própria experiência para mostrar ao jovem que às vezes também temos dúvidas, é normal nos sentirmos inadequados e inseguros. A partir desta conexão, normalizamos para o adolescente as suas dificuldades, facilitando o entendimento de que imperfeições são naturais e esperadas, não sinais de inferioridade. Como consequência, o jovem consegue se aceitar e entender que tem valor pelo que ele é, defeitos inclusos. Por isso fica mais fácil ser gentil consigo mesmo diante do sofrimento.

Quando o adolescente se apoia diante da dificuldade, ele se sente mais confiante e corajoso para lidar com os desafios e superá-los. É por isso que as pesquisas mostram que jovens autocompassivos lidam melhor com o estresse, se automutilam menos, têm melhor performance acadêmica, e melhores relacionamentos.

Pelo contrário, quando o jovem se ataca pelos seus erros, ele conclui que é inadequado e incompetente. Isso rouba a coragem e autoconfiança necessários para superar obstáculos. A forma que os pais vêem os próprios erros servem como exemplo para o adolescente. Mais do que isso, o relacionamento que os pais têm consigo influência a capacidade de ajudar seus filhos a lidar com as dificuldades naturais da idade. A autocompaixão envolve a capacidade de fornecer suporte emocional a si mesmo, enfrentando desafios e adversidades com maior perspectiva e com a compreensão de que as dificuldades são comuns a todas as pessoas.

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Adriana Drulla

*Adriana Drulla é Mestre em Psicologia Positiva, pela Universidade da Pennsylvania, e especialista em Compaixão e Autocompaixão pela Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA) e pela USP. É formada em Conscious Parenting, por Shefali Tsabary, psicóloga referência mundial em parentalidade consciente. Primeira brasileira a se formar como Terapeuta Focada em Compaixão (TFC). Teve como mentor Paul Gilbert, criador da TFC  e maior pesquisador no mundo no tema da compaixão. Adriana também é certificada em mindfulness e autocompaixão pelo Centro de Treinamento Profissionalizante em Mindfulness da Universidade da Califórnia em San Diego.