A saúde mental e a felicidade no trabalho são também responsabilidades dos líderes da empresa
Renata Rivetti* Publicado em 02/08/2022, às 08h35
Segundo a pesquisa sobre saúde mental realizada pelo Wellz, plataforma de saúde emocional para empresas, 54% dos colaboradores disseram já terem sofrido algum transtorno de saúde mental, sendo que destes, 63% relataram não ter recebido apoio da liderança para lidar com o transtorno.
Mas afinal, qual o papel do líder e da empresa neste contexto? Quem é responsável pela saúde mental do colaborador? Com a OMS incluindo a síndrome de burnout como uma doença, além dos impactos da pandemia na saúde mental das pessoas percebemos uma mudança acontecendo nas empresas.
Se antes o líder achava que esse tema não era de sua responsabilidade e que seu papel era somente cobrar resultados, em 2022, vemos que esta postura não funciona mais. Certamente a saúde mental de cada um de nós é nossa responsabilidade, pois ninguém fará terapia por nós e nem incluirá hábitos positivos em nossas vidas. Contudo, a empresa e o líder precisam criar um ambiente psicologicamente seguro para as pessoas se expressarem sem medo de serem punidas ou julgadas. E nós sabemos que isso nem sempre ocorre.
Há ainda empresas que buscam controlar o que o colaborador faz, em uma relação sem confiança ou valorização das pessoas. Há líderes tóxicos, que acreditam que a microgestão é a única forma de gerar resultado da equipe. Existem corporações que ainda permitem abusos, como a sobrecarga de trabalho.
A verdade é que o mundo perfeito não existe. Este mundo continuará trazendo ansiedade e insegurança, mas, mesmo assim, podemos ser felizes e termos mais bem-estar em nossas vidas. Primeiro é sempre importante desmistificar: felicidade não é euforia e nem alegria. Tem mais a ver com algo duradouro, como a construção de uma vida com significado. E para isso não é necessário uma vida perfeita, um mundo sem desafios.
Felicidade depende de autoconhecimento, de responsabilidade e disciplina. A verdade é que os imprevistos são inevitáveis em nossas vidas, mas podemos nos adaptar e transformá-los. A empresa tem sim a responsabilidade de cuidar das pessoas e criar ambientes saudáveis e os líderes têm um papel importante nesta construção e engajamento. Além disso, cada um de nós tem a responsabilidade de olhar para suas vidas e suas escolhas e pensar o que podemos fazer para melhorar a situação. Há, claro, situações que não temos controle, porém outras tantas estão em nossas mãos e não mudamos.
Todo mundo sabe que meditar faz bem, que é importante fazer exercícios físicos, nos alimentarmos melhor, descansarmos, buscarmos momentos de lazer, entre mil outras opções que estão disponíveis e acessíveis. Porém, não é fácil mudar. Segundo o Dr. Robert Keagan, somente uma em cada sete pessoas conseguem mudar um hábito caso tenha um prognóstico do médico negativo. A maioria de nós espera o bom resultado mantendo a mesma rotina negativa. Impossível.
Para reverter a situação é preciso então começar pequeno, colocando pequenos hábitos positivos em nossa rotina. Não adianta fazer metas impossíveis, que você sabe que não irá cumprir. Comece cada dia incorporando algo novo em sua rotina. Pense como está sua vida emocional e o que pode mudar, como estão suas relações e como melhorá-las, avalie seu desenvolvimento intelectual, analise seu bem-estar físico e por fim, reflita sobre o propósito e significado de sua vida.
Tal Ben-Shahar, um dos grandes nomes do estudo da felicidade, fala desse modelo para uma vida mais feliz, que é o modelo SPIRE (spiritual, physical, intellectual, relational e emotional). Ao invés de esperar a jornada perfeita, avalie sua vida e construa um caminho de mais bem-estar possível.
*Renata Rivetti, Fundadora da Reconnect, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva. É graduada em Administração pela FGV-EAESP, com Pós-Graduação em Psicologia Positiva pela PUC-RS. Já formou quase 200 pessoas no Itaú, iFood, Nestlé e entre outras. Também é palestrante e professora do MBA Isec Portugal, em Lisboa, de Felicidade Organizacional.