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Por que menores de 18 anos não devem beber?

Alerta é fundamental, ainda mais nessa época de ano, com festas e comemorações. Beber na adolescência é prejudicial e proibido

Mariana Thibes* Publicado em 14/12/2022, às 06h00

Entenda os riscos do consumo de bebida alcoólica por adolescentes
Entenda os riscos do consumo de bebida alcoólica por adolescentes

A experimentação de bebidas alcoólicas por adolescentes é uma questão séria de saúde pública, que sempre preocupa pela gravidade dos problemas de curto a longo prazo. Apesar disso, esses danos são pouco conhecidos e o consumo de álcool por crianças e adolescentes, embora proibido por lei, ainda é culturalmente aceito em nossa sociedade. Sobretudo nessa época de festas e férias, essa é uma questão que deve estar no radar de pais, familiares e cuidadores.

É muito comum, por exemplo, festas de quinze anos ou de aniversário de adolescentes regadas a álcool, que ocorrem, inclusive, com a permissão e a participação dos pais e outros adultos presentes. Acostumados a beberem nessas situações, os adultos acabam passando adiante o hábito sem se dar conta dos danos que ele pode causar a seus filhos.

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É importante lembrar que o álcool faz parte da cultura humana há milhares de anos e está associado a festividades, mas é preciso atenção especial em duas ocasiões. A primeira é quando seu consumo é feito de forma mais frequente e intensa, o que não é raro nesse período de comemorações. A segunda situação preocupante ocorre quando a ingestão alcoólica é feita por quem deveria evitar completamente o álcool. Esse é o caso de gestantes, pessoas que vão dirigir ou que possuem problemas relacionados ao uso de álcool e, claro, menores de 18 anos.

No entanto, essa experimentação precoce de álcool é mais comum do que se imagina no Brasil. Seis em cada 10 estudantes entre 13 e 17 anos já beberam alguma vez na vida, 47% deles já passaram por um episódio de embriaguez e 34,6% tomaram a primeira dose com menos de 14 anos. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, de 2019.

Em curto prazo, o consumo de álcool por crianças e adolescentes aumenta a possibilidade de queda no rendimento escolar, sexo desprotegido e gravidez precoce, violência e acidentes. Também pode ocasionar efeitos negativos para o cérebro e outros órgãos.  

Durante a infância e a adolescência, o cérebro está em desenvolvimento, apresentando bastante flexibilidade, e pode sofrer mudanças duradouras em decorrência do uso de álcool. Entre as consequências estão prejuízos nas habilidades cognitivas (aprendizagem verbal, memória e atenção) e socioemocionais (autocontrole, motivação e julgamento), que podem perdurar por toda a vida.

O consumo precoce também está associado ao desenvolvimento da dependência. Estudos apontam que uma pessoa que começa a beber na adolescência tem quatro vezes mais chances de desenvolver dependência de álcool do que alguém que espera até a idade adulta para usar álcool.

Outra consequência dramática é que o uso de álcool também está associado a mortes de adolescentes por acidentes de trânsito, violência interpessoal e afogamento. Essas três causas responderam por 76% dos óbitos relacionados ao álcool entre 0 a 17 anos no Brasil, de acordo com análise do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, feita com base em dados do Ministério da Saúde.

É por todas essas questões que há no Brasil uma lei que criminaliza a oferta de bebidas alcoólicas, mesmo que gratuitamente, a menores de 18 anos de idade. A lei existe, mas acima de tudo, prevenir a ingestão alcoólica precoce deve ser um compromisso de amor e cuidado com as futuras gerações. É preciso desconstruir a ideia de que é natural e aceitável que crianças e adolescentes façam uso de álcool. Afinal, o álcool não é seguro para os jovens e quanto mais adiado for seu uso, menos provável que ocorram problemas associados a ele.

Mariana Thibes é socióloga e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. Possui doutorado em Sociologia pela USP e pós-doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP.