Mariana Kotscho
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O que aprendemos em missão humanitária no Quênia

Conheça relatos de aluna e professor que estiveram no Quênia para missão humanitária proposta por escola

Isabela *e Igor Costa** Publicado em 17/08/2023, às 06h00

Participantes da missão humanitária - Divulgação: Escola Bilíngue Pueri Domus
Participantes da missão humanitária - Divulgação: Escola Bilíngue Pueri Domus

Isabela*, 16 anos, aluna do 2º ano do Ensino Médio da Escola Bilíngue Pueri Domus

Antes da Escola Bilíngue Pueri Domus apresentar a proposta de ida ao Quênia para ação humanitária, eu já tinha o interesse em cursar Medicina na faculdade. Então, naturalmente, me atraí pelo intercâmbio, cuja proposta incluía acompanhar o dia a dia dos profissionais da saúde no hospital. Vi ali a oportunidade de adquirir experiências de teor médico e aprender muito a partir delas. Lá, pude acompanhar médicos e enfermeiros no hospital e até ajudá-los em suas consultas, participando de uma campanha de remoção de bicho do pé (jiggers), doença que aflige 2 milhões de pessoas no Quênia. Realmente, aprendi muito com as vivências na viagem e voltei com ainda mais certeza de que queria ser médica.

Eu já tinha a noção de que o Quênia seria diferente do Brasil e de que eu iria lidar não só com uma cultura, mas também com uma realidade completamente diferente da minha. Lá, tive contato com distintos costumes, hábitos e crenças e tive um choque cultural enorme, o que foi algo muito positivo para mim. Retornei ao Brasil com uma visão de mundo totalmente diferente e serei eternamente grata pelas pessoas e pela oportunidade que pude vivenciar.

Pude me aproximar dos beneficiários da instituição de caridade The Nasio Trust, com destaque para as crianças, com quem brinquei praticamente todas as tardes. Criei um laço muito forte e especial com a Ritah, uma menina de onze anos que era beneficiária da instituição. Ela me marcou muito devido a seu caráter, espírito e personalidade. Espero algum dia vê-la novamente.

Também aprendi muito sobre a spirulina, um suplemento alimentar utilizado no combate à desnutrição, grande problema no país. Descobri como a spirulina é plantada, cultivada e utilizada. Fiquei tão interessada que até decidi produzir pesquisas para o currículo da Escola Bilíngue Pueri Domus, o que me levou a aprender mais sobre o assunto ao conversar com a nutricionista do hospital e com agricultores de spirulina. Vou levar essa experiência comigo para sempre.

Isabela e Ritah, a menina que ela fala no texto
Isabela e Ritah

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Igor Costa**, coordenador do Ensino Médio e do Diploma Programme na Escola Bilíngue Pueri Domus

A viagem realizada ao Quênia, país do leste africano, foi uma experiência acadêmica e humana altamente enriquecedora da Escola Bilíngue Pueri Domus. Desde o contato com dimensões sociais e religiosas muito distintas das realidades cotidianas dos alunos - a região tem população com divisão quase equânime de cristãos e muçulmanos -, até as sutilezas de comunicação local que diferem muito da nossa. No Quênia, as conversas são diretas e a ironia não tem muito lugar.

Dentro de uma dimensão humana, poder ter contato com uma sociedade altamente ruralizada e tradicional, que carece de acesso às mais básicas condições de vida, como alimentação diária, eletricidade, assistência médica, internet e acesso à educação, possibilitou aos alunos pensarem a respeito dos papeis sociais que eles podem desempenhar no Brasil e no mundo.

Para os alunos interessados em carreiras médicas, a viagem possibilitou o acompanhamento da rotina de um hospital local. Os alunos auxiliaram médicos e enfermeiros em consultas cotidianas – tiveram um treinamento clínico antes das consultas –, puderam ter reuniões com psicólogos e assistentes sociais que lidam com HIV AIDS e as estratégias de combate à desnutrição. Além disso, acompanharam pacientes em estado de desnutrição e revistaram estratégias de acompanhamento holístico (dentro e fora do hospital).

Por sua vez, os alunos com interesse na área de negócios tiveram a oportunidade de conhecer como uma fundação é administrada na base, ou seja, como as doações oriundas da Europa e dos Estados Unidos são aplicadas no hospital e escolas mantidas por esta ajuda financeira. Em contato com gestores ingleses e quenianos, notaram como os fundos são dirigidos, como as pesquisas de impacto são desenvolvidas, coletadas e analisadas. Também tiveram a oportunidade de compreender como o desenvolvimento econômico pode ser aliado ao desenvolvimento social e suas interligações com o passado colonial recente do Quênia, país que se tornou independente na década de 1960. Parte da renda da viagem de quatro alunos possibilitou o atendimento médico e social a cerca de 110 famílias que os estudantes conheceram durante a estada no país africano.

As semelhanças culturais trouxeram, ainda, uma oportunidade de aproximação entre o Brasil e o continente-irmão. Na gastronomia, nas danças com batuques e cantoria, nós, brasileiros, conseguimos enxergar muitas de nossas próprias origens, muitas vezes entendidas como distantes ou pertencentes apenas aos livros e à salas de aula.