Uma das matérias escolares que mais evidencia a presença de problemas de aprendizagem é a matemática
Helen Mavichian* Publicado em 21/07/2023, às 14h00
Transtornos de aprendizagem podem se tornar evidentes em qualquer fase da vida, mas, geralmente, são percebidos por pais, mães e professores nos primeiros anos do ensino escolar. Num primeiro instante, é comum que a criança seja apenas considerada desatenta, preguiçosa e receba outros “rótulos” similares. Porém, vale ter atenção redobrada para que condições neurológicas que limitam o processamento de informações no cérebro não deixem de ser avaliadas e as crianças deixem de receber o devido suporte para se desenvolver.
Uma das matérias escolares que mais evidencia a presença de problemas de aprendizagem é a matemática. Restringir a avaliação a apenas “fulano é bom ou ruim com matemática”, pode adiar um diagnóstico assertivo de um transtorno de aprendizagem, que deve incluir avaliações médicas, psicológicas, intelectuais e educacionais.
Certa vez, apliquei uma avaliação neuropsicológica em uma criança de 10 anos no meu consultório. Era uma menina que estava com dificuldades de aprendizado na escola e o pai, preocupado, queria entender porque sua filha estava indo tão mal nas provas, principalmente em matemática. Realizei algumas análises, pois um transtorno de aprendizagem pode ser ocasionado por diversos fatores.
Considerei todas as hipóteses, desde TDAH, dificuldades de leitura, como é o caso de dislexia, se existia algum prejuízo na escrita ou até mesmo a discalculia, que é focada em dificuldades com cálculos e raciocínios matemáticos. Através da avaliação neuropsicológica, identifiquei e avaliei possíveis déficits cognitivos, problemas em áreas como memória, atenção, linguagem, raciocínio, habilidades visuoconstrutivas, função executiva, entre outros. A avaliação neuropsicológica é um processo que envolve a análise detalhada das funções cognitivas e comportamentais de um indivíduo, utilizando testes e outras técnicas específicas. Essa avaliação tem um papel importante na identificação de disfunções cerebrais e suas implicações para a vida diária do indivíduo.
Como o alerta era sobre baixo desempenho nos estudos, tudo precisava ser investigado, mas acabei concluindo, através do processo avaliativo com aplicação de diversos testes especializados, que era realmente um transtorno de aprendizagem com prejuízo na matemática o que atrapalhava a menina nas atividades do dia a dia e a desmotivava com os estudos em geral. Isso fazia com que ela tirasse notas baixas, se sentisse inferior em relação aos demais colegas e, consequentemente, tivesse baixa autoestima. Após o encaminhamento necessário, com o devido apoio da família e dos professores, dentro de suas possibilidades, a criança aprimorou suas habilidades e se desenvolveu bem melhor na escola.
A discalculia é um termo usado para fazer referência a um padrão de dificuldades relacionadas ao processamento de informações numéricas, fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Para constatá-la, é importante observar também se não há questões adicionais ao raciocínio matemático, como a imprecisão de leitura ou prejuízo na escrita. Os transtornos de aprendizagem, sejam eles com prejuízo na leitura, escrita ou matemática, podem surgir de forma isolada ou não. Por exemplo, quando um indivíduo tem dislexia (distúrbio de aprendizagem caracterizado pela dificuldade de leitura), pode apresentar prejuízo na escrita ou ter a capacidade reduzida para resolver problemas matemáticos por pouca compreensão do que está escrito no enunciado da questão.
Com isso, sempre que pais e responsáveis percebem uma criança dá sinais de alerta de que pode ter algum transtorno de aprendizagem, o ideal é buscar um psicólogo ou uma psicóloga para realizar uma avaliação neuropsicológica e entender a origem do sintoma. Talvez não esteja relacionada a um transtorno como dislexia e/ou prejuízo na escrita ou matemática e seja apenas uma dificuldade dentro do esperado para idade ou contexto daquela criança. Mas, mesmo assim, uma avaliação abrangente é sempre indicada para que não hajam dúvidas ou descaso.
*Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.