Reflexões sobre uma frase desrespeitosa a todas mães que conciliam trabalho e maternidade
Érica Chaves* Publicado em 13/03/2025, às 11h00
Me lembro como se fosse ontem, mas faz quase 6 anos.
Nesse dia eu tinha levado o filho de pouco mais de um ano pra escola logo de manhã. Depois, como de costume, fui até o ponto apressada pra não perder o ônibus. O dia começava com as tarefas em dia e não tinha nenhuma pendência pra algum ou nenhum colega ou amigo(a) no trabalho.
No meio da tarde eu recebi a ligação da diretora - que também era dona. Era febre e o melhor era o pequeno ir pra casa.
O trabalho estava feito com a pressa da mãe que precisa voltar logo pra casa, o almoço comido às pressas - ou nem isso, como era comum alguns dias na semana - não tinha pendência, ninguém seria prejudicado.
Não tinha outra pessoa pra quem ligar. Naqueles meses de 2019 eram apenas o filho e eu em casa durante os dias e as noites enquanto eu não estava no trabalho. Então eu contei da ligação e fui prontamente apoiada: claro, vai lá.
Enquanto eu guardava na mochila o celular, algum caderno/bloco/papel e eu ouvi... era pra ser uma brincadeira, mas eu ouvi ele falar:
— Ah, eu também queria ter um filho pra poder sair mais cedo hoje.
Chegando de volta na Vila Mariana eu peguei um bebê molinho de febre - eram 39 graus - o levei com muito carinho pra casa e com todo o amor do mundo, até o fim da madrugada a febre cedeu. Não me lembro se o dia seguinte era sábado, mas lembro que ficamos juntos. Lembro que me dei inteirinha naqueles 6 meses e até voltei ao peso da época da faculdade. Lembro dos elogios pelo meu trabalho, lembro dos sorrisos em casa, dos primeiros passos do filho na cozinha do apartamento, lembro do grande companheiro de 1 ano que colocava a roupa na máquina de lavar roupa, me ouvia com alegria e repetia palavras, sílabas!
Lembro daquela frase que eu ouvi e não deveria sair de ninguém que nasceu de uma mulher.
(Isso de falar pra todo mundo que nasceu de uma mulher eu aprendi com a Mariana Kotscho, mas essa é outra história...)
Depois o companheiro voltou ao Brasil, dividimos os cuidados e raras vezes precisei ter filho pra sair mais cedo do trabalho.
*Érica Chaves é jornalista
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres