Mariana Kotscho
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Abrir caminhos também é liderar

Os caminhos de Patrícia Chacon destacam a importância da liderança feminina no setor de seguros e suas conquistas ao longo dos anos

Patrícia Chacon* Publicado em 26/05/2025, às 06h00

Aprenda a abrir caminhos - pexels
Aprenda a abrir caminhos - pexels

Para mim, o líder de negócio tem um papel fundamental: além de buscar resultados, ele também precisa transformar a organização a cada ciclo — e só transformamos por meio das pessoas.

Minha busca por participar ativamente dessas transformações se deu ao longo da minha trajetória profissional, construída em um mercado ocupado historicamente por homens: o setor de seguros. Foram mais de dez anos na Liberty Seguros, onde passei por diversas áreas até me tornar CEO. Em 2023, assumi a posição de COO na Porto e, no ano passado, me tornei a primeira mulher a presidir o SindSeg SP — o Sindicato das Empresas de Seguros e Resseguros do Estado de São Paulo — em 80 anos de história. Gosto de olhar para esse marco não como um feito individual, mas como um símbolo do quanto ainda temos para avançar — e do quanto avançamos.

Hoje, nós mulheres já representamos 54,4% da força de trabalho no setor, segundo a Escola de Negócios e Seguros (ENS). Mas seguimos sendo minoria onde as decisões são tomadas: 38,6% das gerências, 21,2% das diretorias e apenas 16,1% dos conselhos de administração. Esses números não são apenas dados — eles contam histórias. Histórias de barreiras invisíveis e talentos não reconhecidos. A boa notícia é que esse cenário está mudando. E isso passa diretamente pela forma como lideramos e abrimos espaço para outras lideranças.

Por que a liderança feminina importa

Acredito profundamente que, quando mulheres prosperam, os benefícios se multiplicam. Essa frase, que já repeti algumas vezes, não é só uma crença pessoal — ela é respaldada por estudos sólidos. Assim que consultei um levantamento feito pelaWomen in theWorkplace 2024, recentemente lançado pela McKinsey, vi que empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança têm 25% mais chances de alcançar uma performance financeira acima da média. E mais: mulheres líderes tendem a reinvestir em suas comunidades, na educação dos filhos, no bem-estar das famílias.

Lideranças plurais entregam resultados melhores. Equipes diversas são mais empáticas, criativas e próximas da realidade dos clientes. Num setor como o nosso, que cuida da vida e dos sonhos das pessoas, isso não é detalhe — é essencial.

Em março, vivi um momento especial no congresso do setor de seguros, o Brasesul, onde me reuni com mais de 600 corretoras de seguros. Participei de um talk show conduzido por Zeca Camargo sobre os caminhos e obstáculos da liderança feminina. Ouvir tantas histórias reais me lembrou que não estamos sozinhas — e que juntas, seguimos abrindo caminhos.

Mulheres que me inspiram

Falando em fazer diferente, gostaria de citar duas mulheres cujas trajetórias me motivam profundamente. Cada uma, à sua maneira, abriu caminhos em tempos e contextos distintos — mas ambas representam o poder da coragem e da consistência em ambientes ocupados na maioria por homens.

A primeira é Ruth Bader Ginsburg, ex-ministra da Suprema Corte dos Estados Unidos. Ruth dedicou a vida à luta pela igualdade de gênero e pelos direitos civis. Ela costumava dizer: “Lute pelas coisas que você valoriza, mas faça isso de uma forma que leve os outros a se juntarem a você.” É exatamente esse o tipo de liderança que me inspira: firme, transformadora, mas aberta ao diálogo.

A segunda é Rosa Garfinkel. Ela foi uma das fundadoras da Porto Seguro, assumiu a presidência da empresa em 1978 e liderou ao lado do filho, Jayme Garfinkel. Rosa faleceu em 2018, aos 102 anos, deixando um legado de persistência, sabedoria e visão. Ela chegou aonde, até então, nenhuma mulher havia estado — e o fez com muita coragem.

Essas duas mulheres representam gerações que vieram antes de mim. Gerações que abriram portas para que eu e muitas que estão lendo essas palavras estivesse aqui. Ter consciência disso é o que me move — e me compromete a deixar as portas ainda mais escancaradas para quem vem depois.

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Boas práticas

Muitas empresas têm buscado fazer esse caminho de forma consistente. Atualmente na Porto 57% das pessoas colaboradoras são mulheres, e 44% dos cargos de liderança já são ocupados por elas — números acima da média do setor.

E para incentivar esses números, em 2023, foi lançado o Lidera, um programa para impulsionar o protagonismo das mais de sete mil mulheres que atuam na empresa. Em apenas um ano, 125 mulheres foram promovidas, nove chegaram a posições de liderança, e dezenas participaram de processos seletivos, mentorias e bolsas de estudo.

Mais do que ações pontuais, o Lidera é um compromisso contínuo com a equidade. Porque a mudança começa quando criamos ambientes onde as mulheres se reconhecem como protagonistas — e são reconhecidas como tal.

O que ainda precisa ser feito

Se por um lado avançamos, por outro ainda temos muito a construir. E isso passa, principalmente, pela desconstrução de estereótipos que limitam onde as mulheres podem ou “devem” estar.

Estar à frente de áreas como tecnologia, digital e inovação — espaços historicamente ocupados por homens — me lembra todos os dias que não existem territórios exclusivos de gênero. Nada impede uma mulher de liderar em engenharia, dados ou negócios. O que muitas vezes falta é incentivo e espaço.

A diversidade precisa deixar de ser uma pauta lateral para ocupar o centro da estratégia. Não como obrigação, mas como oportunidade real de transformação. E isso começa nas escolhas do dia a dia: na escuta, na confiança, na abertura ao novo.

Olhar para trás e reconhecer as mulheres que abriram caminho antes de mim me dá força. Mas olhar para frente e imaginar quantas ainda podem ocupar esses espaços me dá propósito.

Eu acredito em um futuro em que mulheres não precisem mais ser as primeiras em nada. Onde já exista uma trilha possível. Um futuro em que liderança feminina não seja exceção, mas parte da regra.

E esse futuro só vai acontecer se cada uma de nós — que hoje está em posição de liderança — assumir o compromisso de puxar outras para cima. Com generosidade, cuidado, coragem e persistência. Porque abrir caminho é um ato coletivo. E liderar, no fundo, é isso: fazer com que ninguém precise andar sozinha.

Patrícia Chacon é COO da Portoo
Patrícia Chacon é COO da Porto - Divulgação

*Patrícia Chacon é COO da Porto e a primeira mulher a presidir o SindSeg SP (Sindicato das Empresas de Seguros e Resseguros do Estado de São Paulo) em 80 anos.