Entenda como o câncer de colo de útero é prevenível e as ações necessárias para reduzir sua incidência
*Por Giancarlo Frá Publicado em 01/03/2025, às 12h00
O câncer de colo de útero (CCU) é amplamente prevenível, no entanto, continua a ser um dos tipos de câncer mais incidentes no Brasil, causando a morte de uma mulher a cada 90 minutos¹. Neste Março Lilás, mês da conscientização e combate à doença, os dados alarmantes evidenciam que ainda precisamos melhorar o acesso à saúde no País e que medidas adequadas de prevenção e rastreamento devem ser rapidamente implementadas de forma eficaz.
No Brasil, um dos maiores desafios enfrentados pelo sistema público é a organização do programa de rastreamento do CCU. Atualmente, grande parte da população rastreada está fora da faixa etária recomendada pelas diretrizes técnicas, o que resulta na priorização repetida de um grupo de mulheres, enquanto outras que necessitam do exame ficam sem acesso. Além disso, sabemos que a incidência e a mortalidade pela doença estão diretamente relacionadas a fatores socioeconômicos, educacionais e ao acesso limitado aos serviços de saúde².
A introdução de testes moleculares mais modernos, como o teste de DNA-HPV - que substitui o famoso teste de Papanicolaou - representa um avanço significativo na detecção precoce da doença. No ano passado, o exame recebeu o parecer final positivo para incorporação ao SUS, contudo o programa de rastreamento baseado na metodologia de DNA-HPV segue em construção. Esse tipo de teste oferece maior precisão na identificação do vírus do HPV, permitindo intervenções médicas mais rápidas e eficazes, reduzindo, assim, a incidência e a mortalidade associadas ao câncer de colo de útero. Especialistas em saúde pública ao redor do mundo recomendam o uso dessa inovação como método principal, justamente por sua maior confiabilidade e capacidade de prevenção.
Um estudo realizado na cidade de Indaiatuba (SP), por exemplo, do qual participaram 20.551 mulheres, mostrou a eficiência do programa de rastreamento de teste de DNA-HPV para diagnóstico precoce e prevenção de câncer de colo de útero². Publicado na revista Nature Scientific Reports, ele apontou um aumento de detecção em até quatro vezes de lesões pré-cancerosas, 83% dos casos detectados em estágio inicial e diagnóstico com 10 anos de antecedência, em comparação com rastreamentos realizados com testes de citologia, como o Papanicolaou².
Além do programa, é fundamental a implementação de soluções digitais que integrem os dados das pacientes testadas com as bases populacionais do Ministério da Saúde, garantindo um acompanhamento mais eficiente e sustentável. Esse monitoramento de forma integrada, feito por softwares já disponíveis no mercado, é essencial para organizar a gestão do trabalho de atendimento à população, ajudando os médicos a definir quem deve realizar o exame e com que frequência. Outro desafio é a prevenção: a vacinação é fundamental, no entanto, ainda há dificuldades para garantir a equidade no acesso em todo o território nacional. Importante reforçar que embora exista uma vacina, ainda existem pacientes expostos ao vírus em risco de CCU, tornando essencial a sua associação com um rastreamento eficiente baseado no teste de DNA-HPV, que permitirá a detecção precoce do vírus e a redução significativa das lesões precursoras do câncer.
Erradicar o câncer de colo de útero é um desafio coletivo que exige uma abordagem intersetorial, envolvendo prevenção, detecção precoce e tratamento eficaz. É importante o tema estar sendo debatido pelos municípios, estados e a União, para definir responsabilidades e fortalecer as políticas públicas de saúde, já que é necessária a colaboração de todos os atores envolvidos no sistema de saúde. Já avançamos com a incorporação do teste DNA-HPV no SUS, agora precisamos, de fato, fazer o programa funcionar. A adoção de tecnologias modernas, a equidade no acesso à vacinação e a implementação de políticas públicas eficazes são medidas essenciais para garantir que nenhuma mulher perca a vida para uma doença prevenível. Afinal, nenhuma mulher deveria morrer de câncer de colo do útero.
Referências:
² Nature Scientic Reports: https://www.nature.com/articles/s41598-024-71735-2
*Giancarlo Frá é Diretor de Acesso e Medical da Roche Diagnóstica no Brasil.