A saúde mental das mães ainda é invisibilizada, mas reconhecer sinais precoces e oferecer apoio pode transformar a vida da mãe, do bebê e da família
Rafaela Schiavo* Publicado em 27/09/2025, às 06h00
A maternidade costuma ser apresentada como um período de plenitude, mas a realidade de muitas mulheres é diferente. Alterações emocionais durante a gestação e o pós-parto são comuns e podem trazer impacto profundo para a vida da mãe, do bebê e da família. O problema é que, na maioria dos casos, esses sinais não são reconhecidos nem tratados. Estimativas mostram que 73% das mulheres que vivenciam sintomas de ansiedade, estresse ou depressão nesse período não recebem diagnóstico.
Essa falta de acolhimento tem consequências sérias. Quando não identificados, os sintomas podem se intensificar e evoluir para quadros graves de depressão perinatal. Além do sofrimento materno, há risco maior de parto prematuro, baixo peso do bebê, dificuldades na amamentação e prejuízos no vínculo entre mãe e filho. É um efeito cascata que pode influenciar toda a dinâmica familiar.
Existem muitas razões para essa realidade. A romantização da maternidade faz com que muitas mulheres silenciem suas dores por medo de serem julgadas. Soma-se a isso o despreparo de parte dos profissionais de saúde, a falta de protocolos claros e o número reduzido de especialistas em psicologia perinatal - hoje, menos de 1% dos psicólogos têm essa formação no Brasil.
A boa notícia é que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado transformam essa trajetória. Quando a mulher encontra espaço para falar, quando é escutada sem julgamento e orientada de forma técnica, os riscos diminuem. Ela passa a compreender o que está sentindo e encontra recursos para lidar com o momento. Isso não só fortalece sua saúde mental, como também favorece o desenvolvimento saudável do bebê.
Neste Setembro Amarelo, reforço a importância de olharmos para a saúde mental materna com responsabilidade. Nenhuma mulher deveria atravessar a gestação ou o puerpério sem apoio psicológico quando necessário. Falar sobre o tema é fundamental, mas precisamos ir além, identificar cedo, diagnosticar e oferecer acompanhamento adequado. Cuidar da mãe é também cuidar da criança e da família.
*Rafaela Schiavo é Psicóloga Perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline.
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