Estudos mostram que o uso frequente de salto alto pode levar a problemas posturais e dores crônicas nas mulheres
Dr. Vinícius Magno* Publicado em 02/06/2025, às 06h00
O salto alto é, sem dúvida, um ícone de elegância e poder. Para muitas mulheres, ele não apenas complementa o visual, como também eleva a autoestima. Porém, por trás da beleza, a saúde da coluna vertebral pode pagar um preço alto.
Mas qual é a relação entre o salto alto e esse cenário preocupante? O uso do salto alto impacta na biomecânica da coluna mais do que se imagina.
O uso contínuo do salto alto altera profundamente a biomecânica do corpo durante o caminhar. Ao elevar o calcanhar, o centro de gravidade do nosso corpo se projeta para frente, forçando uma hiperlordose lombar (aumento da curvatura natural da região inferior da coluna). Essa compensação gera sobrecarga nos músculos paravertebrais, nas articulações da coluna e nos discos intervertebrais — estruturas fundamentais para a sustentação e mobilidade da coluna.
Um estudo publicado no Journal of Physical Therapy Science em 2015 mostrou que mulheres que usam salto alto com frequência apresentam maior atividade muscular nos extensores da lombar e redução do equilíbrio postural, predispondo a microlesões e quadros de dor crônica. Uma revisão do tema publicada em 2020 na Clinical Biomechanics, acrescentou que o uso prolongado de saltos altos leva ao encurtamento da musculatura posterior da perna e à sobrecarga da coluna lombossacral.
Em razão do desalinhamento da coluna e de compensações posturais, além de queixas nos pés e tornozelos, as pacientes que usam frequente salto alto também se queixam com frequência de dores na região lombar, no pescoço, nas pernas e nos joelhos. Além disso, mulheres que já apresentam alguma condição estrutural da coluna, como escoliose, hiperlordose ou espondilolistese, podem ter o quadro agravado ao usar saltos altos com frequência.
Isso significa que saltos devem ser abolidos? Não necessariamente. O problema está no uso contínuo e prolongado, principalmente com saltos muito altos (acima de 7 cm) e com bicos estreitos, que comprometem o equilíbrio. Para quem não abre mão do salto, o ideal é alternar com calçados mais baixos e confortáveis ao longo do dia, usar palmilhas de absorção de impacto, evitar longos períodos em pé, e dar preferência a saltos mais largos e estáveis.
A elegância pode — e deve — caminhar junto com a saúde. O segredo está no equilíbrio. Afinal, nenhuma tendência de moda vale a dor persistente nas costas.
Por tudo isso mulheres, quando se trata de salto alto: Elegância com consciência!
*Dr. Vinícius Magno é Ortopedista Especialista em Doenças da Coluna Vertebral e PhD em Neurologia. Também é Professor de Ortopedia (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e Professor de Cirurgia da Coluna (Instituto Carlos Chagas). Atua dentro da sua especialidade no Rio de Janeiro, prestando assistência aos seus pacientes no Instituto de Carioca de Coluna e Neurocirurgia.