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Gordura intramuscular pode aumentar o risco de doenças cardíacas

Estudo inédito sugere que a gordura intramuscular está ligada a inflamações e diabetes, aumentando riscos cardíacos significativos

Redação Publicado em 03/02/2025, às 06h00

Entenda a gordura instramuscular
Entenda a gordura instramuscular
Uma nova pesquisa publicada no dia 20 de janeiro no European Heart Journal trouxe à tona um dado preocupante: pessoas que possuem gordura armazenada nos músculos podem ter maior risco de hospitalização por infarto (ataque cardíaco) ou insuficiência cardíaca (coração fraco), independentemente do Índice de Massa Corporal (IMC). Este é o primeiro estudo a investigar os efeitos da gordura intramuscular nas doenças cardíacas, desafiando métodos tradicionais de avaliação de risco cardiovascular.
Para entender melhor o impacto dessa descoberta, conversamos com a cardiologista Dra. Fernanda Almeida Andrade (CRM 212791), que destacou os principais pontos do estudo e orientou sobre como interpretar esses novos dados.

O que o estudo revelou?

A pesquisa apontou que a gordura intramuscular, ou seja, aquela armazenada nos músculos, pode ser um fator de risco significativo para doenças cardiovasculares. Mesmo em pessoas com IMC considerado normal, a presença de maior taxa dessa gordura intramuscular aumenta a probabilidade de hospitalizações relacionadas a problemas cardíacos.

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“Este estudo reforça que o IMC e a medida da circunferência abdominal, por si só, não é uma métrica suficiente para avaliar o risco cardiovascular. Uma pessoa com IMC normal, mas com alta gordura intramuscular, pode estar em maior risco do que alguém com sobrepeso por acúmulo de gordura subcutânea mas que possui menos gordura acumulada nos músculos… Agora a ciência vai precisar avaliar melhor este fator!”, explica a Dra. Fernanda.

Por que a gordura intramuscular é perigosa?

De acordo com a cardiologista, a gordura intramuscular está associada a processos inflamatórios crônicos, que prejudicam o funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos. “Além disso, ela pode influenciar negativamente a sensibilidade à insulina, aumentando o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e colaborando para a Síndrome Metabólica, outro fator de risco importante para doenças cardiovasculares; de forma similar isso ocorre com relação com a gordura visceral”, afirma.
A especialista destaca que o estudo acrescenta evidências importantes sobre como os métodos atuais de avaliação, como o IMC e a circunferência da cintura, podem ser insuficientes para identificar todas as pessoas em risco. “Precisamos de ferramentas mais precisas para avaliar a composição corporal e identificar precocemente indivíduos vulneráveis”, completa.

Como identificar e prevenir o acúmulo de gordura muscular?

Embora a gordura intramuscular não seja algo facilmente detectado sem exames específicos, como ressonância magnética ou tomografia, algumas medidas podem ajudar a prevenir seu acúmulo. Dra. Fernanda sugere os seguintes passos:
  1. Manter uma alimentação equilibrada: Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em gorduras saturadas pode ajudar a evitar o acúmulo de gordura em áreas indesejadas.
  2. Praticar exercícios físicos regularmente: “Exercícios de resistência, como musculação, ajudam a reduzir a gordura intramuscular e melhoram a saúde geral dos músculos. Já atividades aeróbicas promovem benefícios cardiovasculares e ajudam a queimar gordura corporal total”, explica a cardiologista.
  3. Realizar exames regulares: Ferramentas como a medida antropométrica (feita por profissional especializado e a bioimpedância (com suas limitações) são úteis para avaliar a proporção gordura versus massa magra; no entanto, o padrão ouro é um exame mais avançado, o DEXA (Dual-Energy X-ray Absorptiometry) que identifica a presença de gordura intramuscular.
  4. Ficar atento ao histórico familiar: Pessoas com histórico familiar de doenças cardiovasculares, como infarto ou AVC, diabetes e alterações de colesterol e triglicerídeos devem redobrar os cuidados, pois podem ter maior predisposição ao acúmulo de gordura intramuscular.
  5. Monitorar fatores de risco adicionais: “Mesmo que o IMC esteja dentro do normal, é fundamental monitorar outros fatores, como colesterol, pressão arterial e glicemia. Eles são indicadores importantes da saúde cardiovascular”, alerta Dra. Fernanda.

O que muda com essa descoberta?

A pesquisa publicada no European Heart Journal destaca a necessidade de abordagens mais personalizadas na prevenção de doenças cardíacas. “A avaliação de risco cardiovascular precisa ir além de métricas simples como o IMC. Isso significa adotar uma visão mais ampla da saúde do paciente, incluindo exames de composição corporal e análises metabólicas mais detalhadas”, afirma a cardiologista.

Ela ainda ressalta que esses dados podem ajudar médicos a identificar pacientes que, apesar de parecerem saudáveis, estão em risco silencioso de desenvolver problemas cardíacos graves.

Conclusão: prevenção é a chave!

O estudo sobre gordura intramuscular traz um alerta importante para a comunidade médica e para a população em geral. “Ter um peso saudável é importante, mas não é suficiente. A composição corporal e os marcadores inflamatórios precisam ser avaliados de forma mais detalhada para garantir uma abordagem realmente preventiva”, conclui Dra. Fernanda Almeida Andrade.

Se você tem dúvidas sobre sua saúde cardiovascular ou deseja uma avaliação mais completa, procure um cardiologista. A prevenção e o acompanhamento contínuo são fundamentais para manter o coração saudável e evitar complicações futuras.