Entenda a relação entre sustentabilidade, finanças e uma vida melhor para o planeta
Luciana Pavan* Publicado em 30/09/2024, às 06h00
A despeito do que muitos questionam, a sustentabilidade está ligada, sim, às finanças pessoais. Pensando que esse conceito pode ser resumido por suprir as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras, a sua versão monetária pode ser definida como o uso consciente do dinheiro agora para alcançar metas no futuro. Por mais que pareça complexo, não é. Podemos colocar a sustentabilidade financeira em prática em 4 situações no nosso dia a dia:
1) Consumo consciente: atentar para a quantidade que compramos, os tipos de embalagem que consumimos, a procedência lícita dos produtos e indústrias que cumpram requisitos de ESG.
2) Investimentos: que tipo de aplicação estou fazendo? Se penso em comprar ações, qual empresa estou priorizando? Estamos trabalhando com um olhar para o futuro, favorecendo boas práticas de ESG ou estamos visando somente ao nosso retorno financeiro mais imediato possível?
3) Desperdício: aqui, falo principalmente de alimentos. Recentemente, saiu o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024 do PNUMA (Food Waste Index Report) e, de acordo com o estudo, em 2022 foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares no mundo. Será que não colaboramos com esse índice alarmante de nove zeros?
4) Descarte: uma reflexão sobre como lidamos com o lixo, não só da nossa casa, mas também com resíduos eletrônicos, eletrodomésticos obsoletos, roupas indesejadas e itens de maquiagem. Estamos investindo tempo e dinheiro para destinar corretamente esses itens?
A consciência financeira que ensino e trabalho com meus mentorados ajuda a olhar como um indivíduo se comporta financeiramente e, portanto, nos convida a analisar os 4 pilares que comentei acima. É importante mencionar que consumir de forma sustentável não significa, necessariamente, gastar mais. Isso é um mito: a indústria está evoluindo e conseguimos gastar o mesmo com alguns itens conscientes.
Critérios ESG antes das comprasAs famílias podem começar olhando para as quantidades que consomem. Fomos ensinados que pacotes tamanho família custam menos se compararmos com o valor unitário do item — como bem sabem, os atacados e atacarejos se multiplicaram pelo Brasil. Porém, se comprarmos em grande quantidade, não utilizarmos e acabarmos jogando fora, a economia foi em vão e o planeta foi lesado. Quem nunca jogou fora uma latinha de molho de tomate vencida? Recomendo atentar para a quantidade de que necessitamos e, só então, pesquisar por preço.
Desafios para colocar essa missão em práticaClareza é o principal gargalo. As informações sobre as indústrias que atendem requisitos ESG não são amplamente divulgadas. O marketing dos produtos ainda enfatiza “estilo de vida”, “status” e “sensações” que aquele produto pode gerar e se esquece de que, se não pensarmos em sustentabilidade como fator decisor de consumo, não haverá planeta para se ter tudo isso.
Quando pensamos nos investimentos em ações, antes de olhar somente o quanto um determinado “papel” vai valorizar, indico procurar os relatórios de sustentabilidade que as empresas divulgam publicamente. Órgãos internacionais já regulamentaram a organização dessas informações em dois principais estudos: “General Requirements for Disclosure of Sustainability-related Financial Information” e “Climate-related Disclosures”.
Palavras finais de uma prosa conscienteAcho que a consciência sobre sustentabilidade precisa aumentar. Quando um médico diz que a pressão está alta, reduzimos o sal, certo? Pois então, o planeta está hipertenso e isso requer atitudes que começam no âmbito pessoal.
A ONU e seus parceiros no Brasil estão trabalhando para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. São 17 metas ambiciosas e interconectadas que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por aqui e mundialmente, mas nada disso vai valer se não mudarmos nossos pequenos hábitos dentro de casa.
Por isso, deixo aqui as principais perguntas para refletirmos: estamos usando nosso dinheiro para comprar coisas de que realmente precisamos? Investimos tempo (e até dinheiro) no descarte correto? Que exemplos de atitudes sustentáveis estamos dando para os nossos filhos? Você já conversou sobre sustentabilidade dentro de casa? E por outro lado, na questão do investimento, estamos olhando as informações que as empresas disponibilizam sobre suas ações com a agenda ESG? Pensemos nisso para termos um planeta e um bolso mais saudáveis.
*Luciana Pavan, fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças