Aprenda estratégias práticas para educar seus filhos sobre finanças, desde a mesada até decisões de compras conscientes
Luciana Pavan* Publicado em 21/07/2025, às 06h00
“Mamãe, o que é caixa eletrônico?”. “Papai, como era o Pix na sua época, se não tinha celular?”. Pode parecer cômico, mas essas gerações mais recentes – Z e Alfa – não devem sequer ter visto um cheque ou uma nota de 1 real. Caixa rápido, envelope, cheque compensado ou sem fundos: o glossário é amplo e soa antiquado. Mas o que não muda são os desafios que pais e mães enfrentam para educar filhos e filhas sobre finanças e como gerir bem o dinheiro.
Um bom momento para trazer o assunto à tona são as férias. Neste aguardado intervalo, a rotina desacelera, os compromissos diminuem e a casa ganha novos sons: risadas, música, conversa – e até mesmo os barulhos das polêmicas telas. Entre um passeio e outro, esse tempo de descanso pode se tornar um grande aliado na educação financeira dos filhos.
Afinal, quando não estamos mergulhados na correria do dia a dia, sobra espaço para escolhas mais conscientes e planejadas. Um passeio no parque em vez de uma tarde no shopping. Um piquenique em vez de delivery. Uma ida ao museu no dia gratuito. A cada escolha explicada – “vamos hoje porque é de graça”, “preferimos esse programa porque planejamos juntos” –, os filhos aprendem, de forma prática, que cada decisão financeira tem um motivo e uma consequência. Isso os ensina a pensar, avaliar e priorizar.
Durante as férias, as atividades lúdicas ganham ainda mais valor. Uma simples receita de bolo, por exemplo, pode ensinar muito: desde planejar a lista de ingredientes, estimar os custos e comparar preços, até entender que alguns resultados levam tempo. Temos aqui uma metáfora perfeita para explicar os investimentos. Assim como a massa precisa de um tempo no forno, os investimentos precisam de tempo para crescer. Resultados rápidos e milagrosos quase sempre são uma armadilha.
Nesses momentos, pais e mães podem aproveitar para conduzir boas conversas, que estimulem o pensamento dos pequenos, mas sem entregar conclusões de bandeja. O ideal é que os jovens elaborem os pensamentos.
Outro momento rico em aprendizado são os passeios maiores, como viagens e idas ao shopping. Antes de sair, que tal combinar alguns limites? A criança vai poder comprar algo? Com qual valor? Vai administrar sozinha um pequeno orçamento? Esse tipo de conversa prévia cria um ambiente de segurança e autonomia. Para os mais velhos, um cartão pré-pago pode ser um bom recurso (claro, com valores definidos e responsabilidade compartilhada).
Mas quando começar a falar de dinheiro com os pequenos? A educadora Cássia D’Aquino, referência no tema, sugere que a introdução comece cedo, por volta dos 3 ou 4 anos, com moedas esporádicas e a participação em pequenas decisões. Aos poucos, a criança pode receber uma mesada semanal e, mais tarde, mensal. O valor? Simples: a idade multiplicada por R$ 1,00 por semana. A partir dos 12 anos, o foco passa a ser o planejamento de gastos maiores, a noção de imprevistos e até o conceito de reserva financeira.
Alguns cuidados são essenciais. A mesada deve ter data certa para ensinar rotina. Não deve ser prêmio, tampouco punição. E o mais importante: o exemplo vem de casa. Se os responsáveis não planejam, gastam por impulso ou vivem em conflito por causa do dinheiro, é essa a lição que os pequenos aprenderão - mesmo sem uma palavra ser dita. Costumo dizer aos meus mentorados: filhos de pais que leem serão, naturalmente, bons leitores. E isso se aplica para tudo.
Evite também fazer do dinheiro um vilão. Frases como “isso é caro demais”, “não temos dinheiro pra isso”, “dinheiro na mão é vendaval” ou brigas envolvendo finanças criam, na criança, uma imagem negativa e até traumatizante. Aliás, conflitos na frente dos jovens devem ser terminantemente evitados. Em vez disso, explique: “Hoje não vamos comprar porque escolhemos guardar para outra coisa mais importante”. Isso ajuda a construir uma relação saudável, consciente e realista com o dinheiro.
Por fim, gosto sempre de trazer situações lúdicas, como o emprego de desenhos animados. O Tio Patinhas pode ser um exemplo negativo sobre avareza, enquanto outras obras, como Turma da Mônica e Bob Esponja, trazem exemplos interessantes sobre a gestão financeira e o uso do dinheiro de uma forma mais coletiva – e claro, responsável.
Educar financeiramente não é ensinar a economizar por economizar. É preparar para a vida. Como férias são tempo de memórias afetivas, por que não fazer delas um espaço para plantar as primeiras sementes da autonomia, da responsabilidade e do respeito ao dinheiro?
*Luciana Pavan é educadora financeira e fundadora do 90 Segundos de Finanças