Entenda como introduzir a educação financeira aos adolescentes neste mundo de cliques
Luciana Pavan* Publicado em 30/04/2025, às 06h00
Quando falamos de educação financeira para adolescentes, estamos falando muito além de ensinar a economizar o troco ou não gastar tudo de uma vez. É sobre dar ferramentas para que eles possam construir uma vida mais segura, consciente e, principalmente, livre.
Durante a adolescência, muitos comportamentos são formados -- e o modo como lidamos com o dinheiro não é diferente. Se o jovem aprende cedo que suas escolhas financeiras têm consequências (isto é, o cartão de crédito não é uma mágica e, além disso, investir é possível desde já), ele chegará à vida adulta com mais autonomia, responsabilidade e menos medo.
Em um mundo em que basta um clique para comprar, pagar ou parcelar, saber administrar o próprio dinheiro é mais do que uma habilidade: é um ato de proteção e de liberdade.
Não precisa esperar a faculdade ou o primeiro emprego chegar. Pais e responsáveis podem (e devem) introduzir conceitos financeiros desde cedo, de forma natural e prática.
Dar uma mesada ou semanada com objetivos claros, fazer compras juntos comparando preços, explicar a diferença entre desejo e necessidade, ou até criar pequenos desafios de poupança já são maneiras de colocar a educação financeira no cotidiano da família.
Falar sobre o orçamento da casa, com uma linguagem adequada à idade, também é essencial: quando o dinheiro deixa de ser tabu, ele vira aprendizado.
A partir dos 13 ou 14 anos, muitos adolescentes já fazem compras online e começam a ter contato com o cartão de crédito. Por isso, é a idade ideal para introduzir o tema de forma consciente.
É fundamental explicar que o cartão não é renda extra, e sim uma forma de pagamento que exige planejamento. Mostrar a diferença entre comprar à vista e parcelado e fazer simulações de juros do rotativo ajuda o jovem a visualizar o tamanho do risco.
Se for o caso, usar cartões pré-pagos como ferramenta de treino é uma ótima opção. E lembrar sempre: carteiras digitais (como Apple Wallet ou Samsung Pay) também estão atreladas a cartões de crédito -- e seus juros e vencimentos.
Atualmente, investir deixou de ser algo restrito aos adultos com muito dinheiro. Jovens podem começar com valores pequenos, de maneira segura e consciente, como algumas modalidades que permitem aportes de R$30.
Antes de tudo, é importante estudar: entender o que são investimentos, quais os riscos e quais os objetivos. Aplicações como Tesouro Direto ou CDBs de instituições confiáveis são portas de entrada. Um ótimo exemplo para um início seguro são os cofrinhos, que alguns bancos já estão oferecendo.
Aplicativos de simulação financeira podem ser aliados poderosos para mostrar, na prática, como o dinheiro pode crescer no médio e longo prazo.
O mais importante é construir o hábito de pesquisar e desconfiar de promessas de lucro fácil. No mundo dos investimentos, paciência e conhecimento valem ouro.
Adolescentes que recebem educação financeira têm mais chances de se tornarem adultos que planejam a carreira e a vida pessoal com autonomia, evitam dívidas desnecessárias e tomam decisões mais conscientes sobre consumo, moradia, estudos e investimentos.
Além disso, saber lidar com dinheiro ajuda a ter relacionamentos mais saudáveis. Afinal, muitos conflitos entre casais e famílias têm origem em questões financeiras.
As instituições escolares também têm um papel fundamental nessa construção. Desde 2020, a educação financeira foi incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como tema transversal, podendo ser trabalhada em diversas disciplinas — de matemática a geografia, de ética a cidadania.
Projetos interdisciplinares, jogos educativos, feiras de economia e simulações financeiras são formas práticas e envolventes de ensinar os jovens a lidar com o dinheiro.
Organizar as finanças não é sobre privação, mas sobre construção de possibilidades. Ensinar um adolescente a lidar com dinheiro é, antes de tudo, mostrar que ele pode sonhar -- e realizar.
Por isso, não se deve ter medo de abrir esses diálogos em casa ou cobrar essa pauta nas escolas. O melhor investimento que podemos fazer é na consciência dos nossos jovens.
*Luciana Pavan é educadora financeira e fundadora do 90 Segundos de Finanças
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres