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A influência da organização financeira no seu bem-estar mental

Aprenda práticas importantes para reduzir o peso e a ansiedade da pressão financeira

Luciana Pavan* Publicado em 12/03/2025, às 06h00

É preciso entender a sua situação financeira atual para fazer decisões conscientes para o futuro
É preciso entender a sua situação financeira atual para fazer decisões conscientes para o futuro

Atualmente, já se sabe o quanto a saúde financeira impacta diretamente a saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Serasa, em agosto de 2024, revelou dados alarmantes: 53% dos brasileiros se sentem pressionados por problemas financeiros, o que pode desencadear quadros de ansiedade e depressão. Além disso, 39% afirmam que dificuldades com dinheiro afetam a qualidade do sono – um fator essencial para a saúde física e mental. E aqui, faço mais um adendo: com descanso atrasado, quem tem condições de se organizar financeiramente? A bola de neve também é no campo das emoções.

Os efeitos dos problemas financeiros vão além do emocional e podem afetar a produtividade no trabalho e os relacionamentos interpessoais. Muitas vezes, o primeiro sinal de que as finanças estão prejudicando o bem-estar mental aparece nas relações: discussões frequentes com familiares, amigos ou parceiros podem estar diretamente ligadas ao estresse financeiro. Por isso, é importante refletir se as tensões cotidianas não têm origem em dificuldades econômicas que, muitas vezes, são invisíveis para quem está ao redor. Reforço que o diálogo é o melhor caminho: muitas vezes, a pessoa ao seu lado não vai saber o que te aflige, a não ser que seja informada.

Mas por onde começar?

A consciência financeira é a chave para reduzir o estresse e a ansiedade. Isso significa encarar a própria realidade financeira com coragem. No entanto, muitas pessoas evitam analisar seus extratos bancários ou faturas, justificando falta de tempo. Na verdade, essa resistência geralmente está ligada a traumas emocionais relacionados ao dinheiro. Superar o medo de enfrentar as próprias finanças é o primeiro passo para aliviar o peso das preocupações financeiras.

De forma pragmática, algumas práticas são essenciais para reduzir a ansiedade financeira: gastar menos do que se ganha, estabelecer objetivos claros, poupar para metas de curto e longo prazo e planejar a aposentadoria. Essas ações trazem um senso de controle que impacta positivamente a saúde mental.

Vale destacar que a organização financeira não significa, necessariamente, estar livre de dívidas. Uma pessoa organizada compreende sua situação financeira em detalhes e tem um plano para lidar com ela. Mesmo em cenários de endividamento, saber exatamente a extensão do problema e possuir uma estratégia para resolvê-lo gera alívio e tranquilidade. Esse controle sobre a vida financeira é fundamental para uma boa qualidade de sono, maior produtividade e uma saúde mental mais equilibrada.

Sozinho não deu: e agora?

Em alguns casos, buscar ajuda profissional pode ser necessário. E aqui, estamos falando de psicólogos especializados, consultores ou planejadores financeiros com foco em comportamento, capacitados para auxiliar não apenas no entendimento da situação econômica, mas também na identificação de padrões emocionais que perpetuam dificuldades financeiras.

Outro ponto importante é entender que o alívio financeiro não ocorre de imediato. Organizar-se financeiramente é um processo gradual que exige paciência e disciplina. Como costumo dizer aos meus mentorados: “Você não chegou aqui do dia para a noite, então também não sairá daqui do dia para a noite”. Pequenos passos consistentes são a base para mudanças duradouras.

Um dos maiores mitos em relação ao dinheiro é a ideia de que ele é a solução para todos os problemas. De fato, quando as necessidades básicas não são atendidas, ter dinheiro faz toda a diferença. Contudo, após certo patamar, possuir mais capital não garante automaticamente maior segurança ou menos ansiedade. As preocupações apenas mudam de forma.

Em minhas aulas, reforço três pilares para um comportamento financeiro saudável:

1.) Fazer um controle financeiro: monitorar receitas, despesas, dívidas e investimentos proporciona uma visão clara da situação atual.

2.) Ter disciplina: manter atualizados os registros financeiros e ajustar-se ao planejamento quando houver desvios.

3.) Planejar o futuro: definir objetivos financeiros e traçar um caminho para alcançá-los fortalece a relação com o "eu-futuro" e orienta decisões conscientes.

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O mundo externo também interfere e sofre interferências

No contexto atual, o estímulo ao consumo pelas redes sociais também merece atenção. Um comportamento comum é o chamado FOMO (fear of missing out), ou medo de ficar de fora. Por receio de não pertencer a um grupo, muitas pessoas gastam com produtos ou experiências desnecessárias, agravando sua situação financeira.

Empresas também têm um papel fundamental ao reconhecerem que preocupações financeiras afetam a produtividade. Segundo a mesma pesquisa do Serasa, 68% dos entrevistados relataram que suas dificuldades financeiras impactam o desempenho profissional. Programas de educação financeira no ambiente corporativo ajudam a melhorar a produtividade, reduzem o absenteísmo por motivos de saúde mental e diminuem as taxas de turnover.

Por fim, é fundamental ter coragem para encarar a realidade financeira. Para quem não sabe por onde começar ou já sente a saúde mental abalada, buscar ajuda profissional é um passo importante. Caso haja curiosidade em saber como está sua saúde financeira, uma dica prática é iniciar com o teste de saúde financeira da Febraban, uma ferramenta acessível para quem deseja compreender melhor sua situação antes de se aprofundar em planilhas e extratos.

A saúde financeira está profundamente conectada à saúde mental – e encarar essa realidade com consciência e coragem pode ser o primeiro passo para uma vida mais equilibrada.

*Luciana Pavan é fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças

*com edição de Marina Yazbek Dias Peres