Mães atípicas enfrentam barreiras na busca por escolas inclusivas e acolhedoras para seus filhos neurodiversos
Larissa Fonseca Publicado em 28/01/2025, às 06h00
A jornada de uma mãe de um filho neurodiverso, ou "atípico", é repleta de desafios. Essas mães frequentemente enfrentam a tarefa de navegar por um sistema educacional que, muitas vezes, não está totalmente preparado para lidar com as particularidades de seus filhos. A busca por escolas inclusivas e acolhedoras se torna um processo desgastante, marcado pela frustração de encontrar instituições que compreendam verdadeiramente as necessidades de seus filhos e ofereçam um ambiente seguro, adaptado e estimulante.
As mães de crianças neurodiversas frequentemente enfrentam um cenário onde as escolas, apesar de terem uma responsabilidade legal de promover a inclusão, ainda carecem de estrutura e preparo para lidar com as diversas condições que fazem parte do espectro da neurodiversidade. O sistema educacional tradicional nem sempre consegue oferecer as adaptações necessárias, como professores preparados, recursos adequados e um ambiente emocionalmente seguro.
Além disso, o conceito de inclusão em muitas escolas é, na prática, muitas vezes limitado a uma mera integração física dos alunos, sem que haja um compromisso real com a adaptação pedagógica e emocional. Para as mães, isso significa ver seus filhos sendo marginalizados ou tendo dificuldades em se ajustar a um modelo que não foi pensado para atender à diversidade.
A busca por uma escola que seja não apenas inclusiva, mas também acolhedora, exige mais do que a simples presença de políticas de inclusão. Muitas mães se deparam com instituições que, apesar de afirmarem ter uma filosofia inclusiva, não dispõem de uma formação contínua para seus educadores sobre neurodiversidade ou não possuem profissionais especializados, como psicopedagogos ou terapeutas ocupacionais, que possam oferecer apoio constante.
Além disso, a resistência por parte de algumas escolas em admitir que a adaptação do currículo e da metodologia de ensino seja necessária é um obstáculo significativo. Muitas mães sentem que precisam lutar constantemente para garantir que seus filhos recebam o apoio necessário, como ajustes nas avaliações, no tempo de resposta, na metodologia de ensino ou até no ambiente da sala de aula, como o uso de fones de ouvido para evitar a sobrecarga sensorial.
Outro desafio enfrentado por essas mães é a falta de compreensão e empatia por parte de outros pais e da própria comunidade escolar. Em algumas situações, o preconceito e a falta de informação sobre as condições neurodiversas podem gerar um ambiente hostil, tanto para a criança quanto para a mãe. A falta de apoio emocional e prático por parte da escola, muitas vezes, torna-se uma das maiores frustrações para essas mães.
A pressão de encontrar uma escola que seja verdadeiramente inclusiva e acolhedora é significativa. Muitas mães relatam sentimentos de isolamento, frustração e, até mesmo, desespero, diante da dificuldade em encontrar um lugar onde seus filhos possam se desenvolver de forma plena. A constante busca por soluções e por um ambiente mais adequado pode afetar profundamente o bem-estar emocional dessas mães.
O sentimento de inadequação e de não pertencimento é comum. Elas podem sentir que estão lutando sozinhas por um sistema educacional que deveria ser mais acessível e compreensivo. A falta de suporte e a resistência de algumas instituições em adotar práticas inclusivas podem resultar em um aumento do estresse e da ansiedade, tanto para as mães quanto para os filhos.
Para que a inclusão seja genuína, é fundamental que os educadores estejam bem preparados para lidar com a neurodiversidade. Isso envolve a capacitação constante, com treinamentos sobre as diferentes condições e as melhores práticas pedagógicas e emocionais. Além disso, contar com profissionais especializados, como psicólogos e terapeutas, dentro da escola, pode fazer toda a diferença no processo de adaptação.
As escolas precisam oferecer um currículo flexível, que considere as diferentes formas de aprender. Isso inclui o uso de métodos de ensino personalizados, adaptação de avaliações e materiais pedagógicos, além de tempo adicional para alunos que precisam de mais tempo para realizar atividades.
A educação inclusiva deve ir além da adaptação das práticas pedagógicas; ela também deve envolver a construção de uma cultura escolar baseada no respeito à diversidade. Isso pode ser feito por meio de campanhas de conscientização, atividades de sensibilização e projetos que envolvam todos os alunos no processo de aceitação das diferenças. A promoção da empatia deve ser parte do dia a dia escolar, ajudando tanto os alunos quanto os pais a compreenderem a neurodiversidade.
Muitas mães relatam que, além do apoio pedagógico, seria essencial haver suporte psicológico tanto para os alunos quanto para as famílias. O acompanhamento psicológico e terapêutico nas escolas pode auxiliar na adaptação das crianças e ajudar as mães a lidarem com o estresse e as dificuldades que enfrentam.
As escolas precisam ser espaços de diálogo, onde os pais possam participar ativamente das decisões relacionadas à educação dos seus filhos. Envolver as mães na elaboração de planos educacionais personalizados e no acompanhamento das progressões escolares ajuda a criar uma rede de apoio sólida. Além disso, a escuta ativa dos pais é crucial para a construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo e acolhedor.
Encontrar uma escola inclusiva e acolhedora é um desafio constante para muitas mães de filhos neurodiversos. A falta de estrutura, a resistência em adotar práticas inclusivas e o preconceito ainda são barreiras significativas.
No entanto, a colaboração entre escolas, famílias e comunidades pode criar um sistema educacional mais justo e acessível, onde as crianças atípicas tenham as mesmas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento que seus colegas. As mães, ao buscar ambientes mais adequados para seus filhos, desempenham um papel fundamental na transformação da educação, tornando-a mais inclusiva, empática e enriquecedora para todos.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.