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“Deixa ele se expressar” está criando crianças sem freio emocional

Quando o discurso moderno enfraquece a educação das crianças e afeta o freio emocional

Larissa Fonseca* Publicado em 22/06/2025, às 06h00

Quando nós justificamos comportamentos desrespeitosos, eles viram hábito
Quando nós justificamos comportamentos desrespeitosos, eles viram hábito

Vivemos em um tempo em que há uma valorização crescente da escuta emocional das crianças. E isso, sem dúvida, é uma conquista importante. Mas em meio a tantos avanços, também surgiram distorções. Uma delas é o uso excessivo de justificativas para comportamentos desrespeitosos, como se todo descontrole emocional fosse natural, aceitável e imune a correção.

Frases como “ele está apenas se expressando”, “é só uma fase” ou “não quero reprimir as emoções dele” tornaram-se quase mantras modernos. Mas a verdade é que o que se repete, se consolida.

O cérebro infantil é moldado por hábitos. Se a criança aprende, desde cedo, que pode gritar, bater, ofender ou reagir com agressividade sempre que se sente frustrada, e isso não é nomeado, contido ou orientado, esse padrão se fortalece e se torna parte da personalidade.

Expressar sentimentos é humano. Sentir raiva, frustração ou tristeza faz parte da vida. Mas não podemos confundir liberdade emocional com permissão para o desrespeito.

Dizer "ninguém gosta de você", "sai daqui", ou "cala a boca", mesmo dito por uma criança, não pode ser interpretado como expressão saudável. São atitudes que machucam, e os adultos precisam ter a coragem amorosa de dizer: “Isso não se fala. Isso machuca.”

Criança malcriada não é uma criança forte. É uma criança frágil, que não sabe o que fazer com o que sente e desconta nos outros. E se não for educada com firmeza e amor, vai crescer sem filtros, sem amigos e sem humildade.

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O que as crianças mais precisam não é de plateias que as aplaudam incondicionalmente, mas de adultos que as orientem. Que ensinem com clareza e afeto que todo sentimento é legítimo, mas nem toda reação é adequada. Educar é oferecer afeto e, ao mesmo tempo, ensinar a verdade com doçura. É dizer com serenidade: “Você está bravo, eu entendo. Mas você não pode gritar.” É mostrar que bater, xingar ou isolar o outro não são formas aceitáveis de lidar com emoções difíceis.

Isso não significa silenciar os filhos. Significa dar a eles um vocabulário emocional, limites seguros e um modelo de convivência. Significa protegê-los do risco de crescerem acreditando que podem dizer tudo o que pensam, da forma que quiserem, sem considerar o impacto disso nos outros.

Se quisermos adultos equilibrados no futuro, precisamos começar agora. Aos dois, três, quatro, cinco anos, é tempo de aprender a falar com respeito. Porque quem não aprende isso aos cinco, provavelmente falará com arrogância aos quinze. E o mundo lá fora, diferente dos pais, não terá paciência para “entender o lado dele”.

A educação emocional verdadeira nasce do equilíbrio entre empatia e limite. É ajudar a criança a entender o que sente, a nomear suas emoções, a buscar alternativas seguras para expressá-las, e a corrigir com firmeza quando a reação ultrapassa o que é aceitável.

A criança não precisa de um público. Precisa de um guia. E esse guia é você.

*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres