Mariana Kotscho
Busca
» CRIAÇÃO

Malcriações dos filhos podem ter raízes mais profundas na família

Reconhecer e nomear emoções é essencial para lidar com o mau comportamento; aprenda a se observar e se entender para lidar com malcriações

Mônica Cereser* Publicado em 01/03/2025, às 06h00

Educar é trabalhoso
Educar é trabalhoso
A maioria das mães, quando pensa em como resolver problemas de mau comportamento de seus filhos, imagina que essa é a solução para a maioria dos desafios da maternidade.
Na verdade, essa é apenas a ponta do iceberg. Na parte de baixo desse “bloco de gelo” muitas vezes há um sinal de que a criança precisa de orientação e apoio para desenvolver autocontrole e compreensão das regras sociais.
O mau comportamento das crianças pode ser entendido como ações ou atitudes que desafiam normas sociais, regras familiares ou expectativas de comportamento adequado para a idade. Mas pode também ter raízes mais profundas nas próprias crenças e na maneira como o adulto lida com essa situação que tem um impacto direto no aprendizado e no comportamento futuro da criança.

Veja também

Existem crenças que as crianças desenvolvem sobre como ser amada, por exemplo, assim como nós mesmos também temos, e muitas vezes, desconhecemos. Por conta disso, resolvi escrever sobre questões importantes a focar, muito antes de pensar na desobediência do filho, que é como a mãe lida com seu próprio comportamento. 
Antes de olhar para o comportamento dos nossos filhos temos que realizar uma jornada que possui duas paradas:

  • 1. O que essa mãe pensa?
  • 2. O que essa mãe sente sobre o que ela pensa?

O que entendo e posso dividir que também aconteceu comigo e, que há bem pouco tempo tomei consciência, é de que se quero me tornar uma pessoa mais inteira, preciso saber nominar o que sinto. Geralmente pela correria do dia a dia, pelo automatismo que vivemos, esquecemos de nos observar.

Nosso alfabeto emocional é muito pequeno e com isso nós nos afastamos do nosso eixo. Saber nomear o que estou sentindo frente ao mau comportamento de meu filho, frente a uma discussão, é ⁠ deixar bem claro o que penso como se estivesse formulando uma frase.

Se concentre ao fato, ou seja, algo que todos podem ver como sendo a mesma coisa e saber identificar os seus valores. O reconhecimento de seus valores pessoais fará com que as suas atitudes sejam tomadas de forma a satisfazer e a estar de acordo com esses valores.

Os valores são o nosso Norte, o que direciona a nossa vida e nos impulsiona a buscar os nossos sonhos. Reconhecer os nossos próprios valores nos torna mais seguros sobre quem somos, o que queremos e o que realmente tem importância para nós.

Saber quais são os meus desejos autênticos é um conjunto de elementos que orientam nossas escolhas e ações de modo alinhado com nossa essência. Ele serve como um guia para vivermos de forma autêntica com clareza sobre o que realmente queremos experimentar em nossas vidas.

Qual é a emoção agradável que você quer sentir? Deixe claro isso para você. Escrever quais são os indicadores que vão de encontro com o que quero sentir e que estejam alinhados com seus valores.

Você sabe nomear em poucas palavras estes indicadores? Faça uma lista de ações que possam contribuir para ir de encontro com seu desejo autêntico e valores é a dica que sugiro para responder essa pergunta.

Outro ponto importante é deixar claro primeiro para você e, depois para os demais, o que quer e o que não quer. Reflita sobre qual o exemplo que está dando ao seu filho, esse modelo vai de encontro com suas emoções agradáveis e seus valores?

Se seu filho chegasse e batesse a sua porta daqui uns vinte anos, como ele estaria? Você se orgulha dele ? Você se considera feliz exercendo a sua maternagem da forma como está fazendo? Reflita a respeito.

*Mônica Cereser é especialista em psiquiatria de crianças, adolescentes e adultos há 30 anos. Formada em Medicina com especialização em psiquiatria geral na Santa Casa de São Paulo e em psiquiatria da infância e adolescência no Hospital das Clínicas da USP. É autora do guia “Se eu soubesse” e coautora de mais 4 livros.