O WOLLYING revela como o bullying entre meninas é exposto e explorado, enquanto o silêncio dos meninos permanece invisível e impune
Katia Teixeira* Publicado em 05/10/2025, às 06h00

Um recente episódio envolvendo influenciadoras mirins escancarou mais uma vez uma ferida silenciosa: o WOLLYING, o bullying entre meninas, que ganha força nas redes sociais, travestido de exposição, sinceridade ou “posicionamento”. A sequência de exposes públicos começou com uma delas e se desdobrou em ataques, linchamentos virtuais, e pronunciamentos, inclusive das famílias, tudo transmitido ao vivo para uma audiência voraz. Entre as envolvidas, uma das meninas era apontada como namorada de um jovem de uma família extremamente conhecida (conhecida justamente por evitar a exposição). O que poderia ser apenas uma desavença adolescente virou um espetáculo digital de competição, julgamento e violência velada.
Enquanto os olhares se voltam para as meninas, os meninos permanecem em silêncio, impunes, protegidos, e muitas vezes celebrados. O que se revela nesse cenário é algo estrutural: as meninas ainda são educadas para se enxergarem como ameaças umas às outras, enquanto os garotos assistem de camarote. A rivalidade feminina é vendida como entretenimento, alimentada por cliques e compartilhamentos. Já o comportamento dos meninos, quando envolvido, é silenciado ou ignorado. É a velha lógica: elas se atacam, eles se vangloriam.
É preciso coragem para dizer que não se trata apenas de uma briga adolescente em um “squad”. Trata-se de herança emocional e social. Meninas aprendem desde cedo a vigiar umas às outras, medir beleza, status, seguidores, relacionamentos — e o fazem porque o sistema ensina que há apenas um lugar ao sol. Já os meninos, mesmo quando participam dos mesmos episódios, saem ilesos, com a reputação intacta e o silêncio confortável da sociedade a seu favor. São treinados para serem protagonistas, enquanto as meninas duelam pelo direito de existir no mesmo palco.
O mais cruel é que tudo isso acontece em um palco onde o valor de uma adolescente é medido em seguidores. Os números contam uma história paralela e perversa: enquanto uma ganha milhões de seguidores com a polêmica, a outra perde visibilidade e se vê emocionalmente devastada. É a dança das cadeiras digital, em que o engajamento decide quem merece aplausos e quem será vaiada. Por trás das câmeras, as consequências são reais: ansiedade, insegurança, abandono escolar, crises emocionais — mas disso ninguém fala.
Chama a atenção também o envolvimento público das famílias, cada uma tentando proteger sua imagem e sua filha, mas contribuindo, sem perceber, para amplificar o espetáculo. Ao invés de contenção e cuidado, muitas vezes o que se vê é defesa de território, como se fosse uma guerra de reputações. E nisso, o ciclo continua: meninas rivalizando, famílias revidando, e meninos intocados.
O saldo de tudo isso? Um mar de curtidas, recebíveis milionários, contratos publicitários e uma vida aparentemente encantada, mas que esconde algo que ninguém quer encarar: a solidão, a cobrança desumana e a violência emocional disfarçada de conteúdo.
O palco é bonito, mas o bastidor dói. Até quando fingiremos não ver?
WOLLYING não é só uma palavra nova. É um alerta urgente. Precisamos reeducar nossas meninas para que se reconheçam como aliadas, não rivais. E nossos meninos para que compreendam que neutralidade diante da injustiça é cumplicidade. O silêncio deles também fala — e alto.
"Que essa nova leva de exposes não sirva apenas de entretenimento, mas como espelho do que ainda precisamos romper. Urgente"
*Katia Teixeira é mentora entora das mentoras Goldman SachsWomen SpeakerTEDx / Investidora /Nexialista/Escritora Atua+8 países Alavanca mulheres, nos negócios, através dos palcos. Embaixadora Master no Clube de Mulheres de negocios de Portugal | Vice Pres na Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture | Vice Presidente Lions Clube Sororidade Social | Membro BPW | Membro OBME | Sócia conselheira no Instituto Êxito de Empreendedorismo| Membro Fundadora na HABLA- Academia Hispano Brasileira de Ciências, Letras y Artes Empresária desde 1984 RankBrasil fundadora da Maior LIGA Brasileira de Mulheres investidoras escritoras em prol de mulheres vulneraveis e vitimas.

Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Escreva para @marianakotscho