Entenda o papel das equipes de ajuda no combate ao bullying. Este exemplo é do Colégio Xingu, em Santo André/SP
Renata Adduci* Publicado em 29/06/2024, às 06h00
O bullying é uma realidade escolar que acomete gerações e que, por isso, mobiliza pesquisadores do mundo todo a refletir sobre ele, a fim de achar maneiras efetivas de combatê-lo. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022 são alarmantes e confirmam dados já coletados em outras pesquisas, revelando que no país 22% das meninas e 26% dos meninos relataram ser alvos de bullying pelo menos algumas vezes por mês. Além disso, 27% dos estudantes entrevistados admitem sentir-se sozinhos na escola.
O Colégio Xingu, de Santo André, saiu na frente, quando em 2020 iniciou a implementação das Equipes de Ajuda, iniciativa que faz parte do projeto de Convivência Ética nas Escolas orientado pelo Gepem (Grupo de Estudos de Pesquisa em Educação Moral) da Unicamp/Unesp). Foi uma das primeiras escolas de São Paulo - e a primeira do ABC - a adotar este modelo que visa a convivência positiva entre pares no ambiente escolar.
Estas equipes são formadas a partir do fundamental 2 depois de uma sequência de atividades que trabalham valores como confiança, empatia e ajuda. Após reflexões, os estudantes escolhem colegas com essas características no grupo para representá-los. Os eleitos - de dois a três por classe - passam por uma formação específica, em que aprendem técnicas da comunicação construtiva, fases da ajuda, mediação de conflitos e sobre fenômenos como bullying e cyber agressões.
A equipe tem o objetivo de oferecer ajuda e acolhimento aos alunos, prevenir e combater o bullying, reiterando o que as pesquisas apontam: o papel essencial dos espectadores diante das intimidações. A constatação é que quando os próprios pares intervêm a favor dos alvos, as agressões são interrompidas.
A idealização das equipes de ajuda também se baseia nos estudos que mostram que quando um aluno passa por um problema, ele procura o par para conversar. Vale lembrar que o bullying é um fenômeno que acontece longe dos olhos dos adultos, de forma velada. Com a preparação dos integrantes da equipe é possível diagnosticar as situações de maus tratos, exclusão em estágios iniciais.
É importante ressaltar que a escola conta com urnas virtuais e físicas, onde é possível fazer denúncias ou desabafos que são levados para discussão entre os alunos da rede de ajuda para que planejem formas de atuação.
Os integrantes também desenvolvem ações coletivas na escola, enfatizando valores universais, promovendo conscientização sobre temas sensíveis, criando campanhas diversas, discutindo temas pertinentes relacionados à adolescência, entre outros.
Nos últimos anos, os alunos da equipe viabilizaram discussões sobre o racismo, ampliando o debate sobre o tema na escola, que também conta com um Comitê de Práticas Antirracistas.
O modelo das equipes de ajuda do Colégio Xingu foi inspirado nos estudos do pesquisador espanhol José María Avilés Martínez, da Universidade de Valladolid, idealizador do programa.
Ter uma equipe de ajuda no colégio é promover o protagonismo dos alunos e empoderá-los a fazer o bem na prática. Toda a comunidade passa a contar com o respaldo de que no colégio o bullying é tratado com a seriedade e atenção que o fenômeno merece.
*Renata Adduci, pedagoga especialista em relações interpessoais e convivência ética