Aprenda a lidar com a sobrecarga emocional de crianças com altas habilidades e superdotação durante o período de festas
Juliana Honorato* Publicado em 23/12/2025, às 06h00

O período de festas, geralmente associado à alegria, pode ser desafiador para crianças com altas habilidades e superdotação, que enfrentam sobrecarga emocional e sensorial. Essa situação pode levar a reações que não devem ser interpretadas como falta de educação, mas sim como uma resposta ao estresse do ambiente.
Crianças neurodivergentes percebem e processam estímulos de forma intensa, tornando festas familiares em experiências potencialmente caóticas. A compreensão das necessidades dessas crianças é crucial para criar um ambiente mais acolhedor e seguro.
Recomendações práticas incluem preparar as crianças para o que esperar, respeitar seus sinais de sobrecarga e diminuir expectativas irreais. Ter um adulto de referência emocionalmente disponível pode proporcionar um suporte essencial durante as festividades.
Para muitas famílias, o período de festas é sinônimo de alegria, encontros e celebração. Para muitas crianças com altas habilidades e superdotação (AHSD) ou outras neurodivergências, no entanto, esse mesmo período pode ser vivido como excesso: de estímulos, de pessoas, de expectativas e de ruídos externos e internos.
É importante dizer desde o início: quando uma criança “se desregula” nas festas, isso não é falta de educação, ingratidão ou birra. Na maioria das vezes, é sobrecarga neurossensorial e emocional. Entender isso muda completamente a forma como adultos se posicionam.
Crianças com AHSD costumam perceber mais, sentir mais e processar tudo com maior intensidade. O que para um adulto é apenas uma reunião animada, para elas pode ser um ambiente caótico, imprevisível, cansativo ou até tão animado que as impede de desligar na hora de dormir. E o corpo sempre fala quando o sistema nervoso ultrapassa seus limites.
A boa notícia é que pequenos ajustes fazem uma diferença enorme não só para a criança, mas para todo o clima familiar.
A seguir, compartilho recomendações práticas e possíveis, que podem ser aplicadas imediatamente:
Crianças e adultos com AHSD e outras neurodivergências muitas vezes precisam esvaziar suas cabeças para estarem mais relaxados para a quantidade de estímulos que receberão.
Dormir um pouco, ver um filme calminho com a luz apagada antes de sair de casa pode ser uma ótima ideia.
Crianças neurodivergentes se sentem mais seguras quando sabem o que esperar. Explique com antecedência como será o dia: quem estará presente, onde será, quanto tempo deve durar, se haverá barulho, música, brincadeiras.
Além disso, combine saídas possíveis. Dizer algo como “se ficar cansativo, você pode me avisar e a gente dá um tempo” regula o sistema nervoso antes mesmo da festa começar.
Nem toda criança explode. Muitas se fecham, ficam irritadas, silenciosas ou excessivamente agitadas. Esses sinais costumam vir antes do colapso emocional.
Forçar interação, fotos, abraços ou permanência prolongada costuma intensificar o sofrimento. Às vezes, sair para um ambiente mais silencioso, dar água, permitir ficar sozinha por alguns minutos ou até ir embora é o maior gesto de cuidado possível.
Festas familiares ativam expectativas invisíveis: “cumprimentar todo mundo”, “brincar com os primos”, “agir como todo mundo”. Para crianças neurodivergentes, isso pode ser exaustivo. Elas não precisam performar normalidade. Precisam de permissão para serem quem são.
Quando os adultos relaxam nas suas expectativas, o campo inteiro relaxa. E, é nesse espaço mais seguro, que pessoas neurodivergentes se permitem ser como elas são e a “magia acontece”.
Ter um adulto de referência disponível, atento e emocionalmente regulado faz toda a diferença. Às vezes, basta saber que existe alguém que entende, protege e não julga.
Esse adulto não precisa resolver nada, apenas estar presente, acolher, sem minimizar o que a criança sente. Frases simples como “eu vejo que está difícil” ou “está tudo bem se você precisar de um tempo” ajudam neste período de festas mais do que discursos ou repreensões.
Datas simbólicas ativam histórias familiares, lealdades invisíveis e tensões antigas. Crianças, especialmente as mais sensíveis, captam isso com facilidade, mesmo quando ninguém fala nada. Cuidar do seu próprio estado interno é uma forma silenciosa, porém poderosa, de cuidar da criança. Um adulto mais consciente, menos reativo e com sua “criança interior” nutrida oferece um ambiente emocionalmente mais seguro.
Troque a ideia de um Natal perfeito por um Natal mais verdadeiro, mais autêntico. Onde há menos cobrança, mais respeito e espaço para que cada um exista do jeito que se é tudo fica mais leve e cheio de amor.
*Juliana Honorato é terapeuta sistêmica, de libertação de traumas, terpeuta do Método Louise Hay e especialista em Altas Habilidades e Superdotação. Mentora de vida e carreira.
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