Mariana Kotscho
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Receosa sobre usar hormônios para a fertilidade? Especialistas esclarecem dúvidas sobre o tratamento

Tratamento para a fertilidade pode causar efeitos colaterais, mas é seguro quando devidamente acompanhado por um médico especializado

Redação Publicado em 13/10/2023, às 06h00

A partir dos 35 anos a probabilidade de uma gravidez espontânea reduz em 50%
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O uso de hormônios faz parte de muitos tratamentos de fertilidade, principalmente para realizar a chamada estimulação ovariana, essencial em procedimentos de congelamento de óvulos e procedimentos de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro. Mas, apesar do aumento na popularidade desses tratamentos, o processo de estímulo hormonal dos ovários ainda é cercado por grandes dúvidas, principalmente quanto a sua segurança, causando grande receio nas mulheres que precisam fazer uso desses hormônios. “Esses hormônios podem causar efeitos colaterais como inchaço, enjoo, ganho de peso, cansaço e irritabilidade. Em alguns poucos casos, também aumentam as chances de gestação gemelar e, além disso, podem levar ao desenvolvimento da Síndrome do Hiperestímulo Ovariano, condição rara em que os ovários produzem hormônios em excesso, o que pode causar alterações metabólicas, trombose e até mesmo perda da gestação. Esses fatores geram certa resistência das mulheres à estimulação hormonal”, explica o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.

Mas, afinal, o que é exatamente a estimulação hormonal? “A estimulação ovariana  tem como objetivo estimular os ovários a liberarem um maior número de óvulos durante um único ciclo menstrual. No ciclo menstrual normal, múltiplos folículos, que são as estruturas que contêm os óvulos, são estimulados a crescer, mas apenas um amadurece o suficiente para liberar o óvulo em seu interior, processo controlado por hormônios. Então, na estimulação ovariana administramos esses hormônios em maior dose para que vários folículos amadureçam e liberem seus óvulos”, afirma o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime em São Paulo.

De acordo com o Dr. Rodrigo, a estimulação ovariana é um processo comum a praticamente todos as técnicas de reprodução assistida que visam tratar a infertilidade feminina causada por disfunções ovulatórias, incluindo a inseminação artificial e o coito programado. “Independentemente da técnica de reprodução assistida, antes da estimulação ovariana propriamente dita, realizamos uma série de exames para avaliar as condições atuais do sistema reprodutor da mulher para estimar a eficácia do tratamento e verificar a existência de qualquer alteração que possa atrapalhá-lo”, explica. Uma vez que as condições estejam adequadas, a estimulação ovariana é iniciada.

Mas a intensidade desse estímulo e a dosagem dos hormônios será definida caso a caso de acordo com uma série de fatores, como a reserva ovariana da mulher, sua produção habitual de óvulos e a complexidade da técnica de reprodução assistida a ser utilizada. “Nas técnicas de baixa complexidade (coito programado e inseminação artificial), em que o processo de fecundação ocorre dentro do organismo, a estimulação deve ser menos intensa para obtermos uma menor quantidade de óvulos e assim evitar o risco de uma gestação múltipla. Já nas técnicas de maior complexidade, como a fertilização in vitro, o estímulo ovariano pode ser mais intenso, pois a fecundação ocorre de maneira controlada no laboratório e apenas uma certa quantidade de embriões é transferida para o útero. Na verdade, para a FIV, é interessante termos uma maior quantidade de óvulos coletados, o que aumenta o número de embriões viáveis e assim as chances de sucesso do tratamento. Os óvulos e embriões não utilizados podem ser tranquilamente congelados ou doados”, diz o Dr. Rodrigo Rosa

De acordo com o Dr. Rodrigo, todo esse processo de estimulação ovariana é acompanhado por meio de ultrassonografias. Quando os folículos estão devidamente amadurecidos inicia-se a etapa conhecida como indução da ovulação, que, também através da administração de hormônios, faz com que os folículos se rompam e liberem os óvulos. “Nos tratamentos de baixa complexidade, é nesse momento em que os óvulos são liberados e os espermatozoides devem alcançá-los para que a fecundação ocorra, seja através da relação sexual programada ou da inseminação artificial. Já nos casos de fertilização in vitro, os óvulos são removidos com uma agulha colocada na vagina sob orientação de ultrassom para serem fecundados em laboratório”, explica.

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O Dr. Fernando Prado ainda ressalta que dependendo do procedimento a ser realizado (como na FIV) e da paciente (por exemplo, em casos de mulheres com câncer de mama, que têm o uso de hormônios contraindicado) podem ser indicadas técnicas que eliminam a necessidade de estimulação ovariana. Uma dessas técnicas é a Fertilização In Vitro por ciclo natural, que aproveita o óvulo desenvolvido naturalmente, sem intervenção medicamentosa. “Na maioria dos casos, apenas um óvulo é coletado para ser fecundado em laboratório. Então, o único embrião gerado é transferido de volta ao útero, o que faz com que as chances de uma gestação múltipla sejam irrisórias. Além disso, caso o tratamento não seja bem sucedido, a mulher pode repeti-lo em meses consecutivos, o que não é possível com o uso de hormônios”, diz o especialista, que destaca a acessibilidade como outra vantagem da técnica, já que o custo das medicações para estimulação ovariana é elevado.  Mas as taxas de sucesso da FIV por ciclo natural são mais baixas em comparação ao método convencional, pois apenas um óvulo é coletado. “Além disso, há risco de ovulação espontânea antes da coleta do óvulo, caso não seja realizado bloqueio hormonal, e de falta de óvulos no ciclo, o que impossibilita a FIV”, acresenta.

O Dr. Fernando explica que a FIV por ciclo natural pode ser indicada para mulheres que possuem baixa reserva ovariana ou que apresentam contraindicações ao uso de hormônios. “No entanto, é importante que a mulher ovule normalmente, caso contrário outras técnicas precisam ser empregadas, como o mínimo estímulo ovariano, que utiliza hormônios em doses muito baixas para a obtenção de uma pequena quantidade de óvulos de forma ainda acessível e com menos efeitos colaterais”, diz o médico. Para comparação, enquanto na técnica convencional são utilizadas 300 ou mais unidades de hormônios diariamente, no método com mínimo estímulo são geralmente usadas 75 unidades em dias alternados.

Outra técnica livre do uso de hormônios é a Maturação In Vitro (IVM – In Vitro Maturation). “Na IVM, os óvulos são coletados diretamente dos folículos ovarianos, ainda imaturos. Então, são imersos em uma solução de hormônios para que possam amadurecer e serem utilizados na FIV tradicional”, explica o Dr. Fernando Prado. Com todas as vantagens associadas à não utilização de hormônios, a Maturação In Vitro, no entanto, ainda é considerada um procedimento experimental, com taxas de sucesso inferiores a estimulação ovariana tradicional. “Hoje, a IVM é indicada para mulheres que possuem uma grande reserva ovariana, principalmente para pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), que apresentam uma grande quantidade de óvulos imaturos nos ovários”, acrescenta.

No fim das contas, o mais importante para mulheres que desejam realizar procedimentos de reprodução assistida é consultar um especialista em reprodução humana, que, após uma avaliação, poderá recomendar a técnica mais adequada para cada caso, com ou sem estimulação ovariana. “Vale ressaltar que a estimulação ovariana não deve ser temida, pois é extremamente segura e eficaz, desde que devidamente acompanhada por um médico especializado. Por isso, antes de realizar qualquer procedimento, certifique-se que o profissional responsável é experiente e devidamente certificado”, finaliza o Dr. Fernando Prado.