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Como avaliar o consumo de álcool pelas gestantes?

No Brasil, 15% das gestantes consomem bebidas alcoólicas, o que pode causar danos irreversíveis à saúde do bebê, como a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).

Lygia Mendes dos Santos Börder* Publicado em 18/02/2023, às 06h00 - Atualizado às 13h01

A ingestão de álcool durante a gravidez pode gerar riscos para o bebê
A ingestão de álcool durante a gravidez pode gerar riscos para o bebê

A ingestão de álcool durante a gravidez é fator de risco para o desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que pode levar a deficiências físicas e a outros distúrbios de neurodesenvolvimento para a criança. 

Esse consumo é muito difícil de ser avaliado durante a gestação, seja porque muitas gestantes costumam omitir o uso de bebidas alcoólicas, por possuírem um sentimento de culpa ou vergonha, ou pelo fato de não ser perguntado de rotina durante as consultas de pré-natal.

Realizar uma entrevista diagnóstica bem estruturada com a gestante, durante a consulta do pré-natal ou no pré-parto, pode levar muito tempo, além da necessidade de profissionais especializados, para que se obtenha um resultado satisfatório.

Existem alguns exames, que dosam a quantidade de álcool presente no sangue, na urina ou no cabelo das gestantes, que ingeriram álcool até mesmo há vários meses. Porém, ainda não dispomos dessa metodologia de rotina em nosso meio.   

Em 1989, o médico pediatra americano Ronald J Sokol e colaboradores desenvolveram o questionário T-ACE, como instrumento de rastreamento por ser mais sensível e de fácil aplicação para identificação de casos suspeitos. A versão brasileira foi traduzida em 2007, pelo médico Carlos Fabbri e colaboradores.

O questionário T-ACE é um acrônimo obtido das palavras inglesas: Tolerance (tolerância), Annoyed (incomodada), Cut down (cortar) e Eye-opener (abrir os olhos).

A primeira questão refere-se aos efeitos ocasionados pela ingestão de bebida alcoólica propriamente dita, ou seja à tolerância; a segunda, se familiares ou amigos manifestam alguma preocupação com o consumo de álcool pela gestante e o grau de incômodo que isso possa causar; a terceira, diz respeito à auto percepção sobre os efeitos da ingestão de álcool; e a última, já indica a dependência. Esse questionário foi proposto e validado especificamente para ser utilizado na prática obstétrica e tem sido largamente empregado. Tem a vantagem de ser de aplicação rápida, levando de 1 a 2 minutos de conversação.

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Cada uma das quatro questões possui uma pontuação que varia de zero a dois pontos, para a primeira questão, e de zero a um ponto da segunda à quarta questão. Um resultado de dois pontos ou mais indicam alta propensão para um consumo alcoólico de risco durante a gestação. Veja abaixo:

1- T – Qual a quantidade que você precisa beber para se sentir desinibida ou mais alegre?

Não bebo – 0 ponto

Até duas doses – 1 ponto

Três ou mais doses – 2 pontos

2- A – Alguém tem lhe incomodado por criticar o seu modo de beber?

Não – 0 ponto

Sim – 1 ponto

3- C – Você tem percebido que deve diminuir o seu consumo de bebida?

Não – 0 ponto

Sim – 1 ponto

4- E – Você costuma tomar alguma bebida logo pela manhã para manter-se bem ou para livrar-se do mal-estar que está sentindo?

Não - 0 ponto

Sim – 1 ponto

Uma avaliação adequada do consumo de álcool durante a gestação é primordial para a prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e dos efeitos tardios no desenvolvimento neurológico dos filhos de gestantes que consumiram álcool, que são totalmente preveníveis.

Há a necessidade de adoção de instrumentos de rastreamento precoces na rotina obstétrica, considerando a tendência atual de aumento do consumo de álcool por mulheres em idade fértil. O uso do questionário T-ACE mostrou desempenho satisfatório, sendo considerado um instrumento adequado para o rastreamento do consumo de álcool de risco por gestantes.

A orientação da Sociedade de Pediatria de São Paulo é a abstinência total de álcool para mulheres que desejam engravidar, para as grávidas e para as mães que estão amamentando seus filhos. 

SE BEBER NÃO ENGRAVIDE, SE ENGRAVIDAR NÃO BEBA!

*Lygia Mendes dos Santos Börder é médica pediatra e membro do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-nascido (SAF) da Sociedade de Pediatria de São Paulo.