Refletindo sobre a pressão social que as mães enfrentam e a necessidade de autocuidado na jornada da maternidade
Juliana Honorato* Publicado em 26/08/2025, às 10h00
Ser mãe é viver em intensidade máxima. É estar disponível para acolher choros no meio da noite, lembrar do lanche da escola, da consulta no pediatra, dos aniversários dos coleguinhas, das vacinas em dia, das roupas que já não servem mais. É equilibrar trabalho, casa, vida conjugal, demandas sociais e, ainda assim, carregar a expectativa silenciosa de “dar conta de tudo” com sorriso no rosto.
Não é à toa que muitas mulheres, em algum momento, já se pegaram pensando: “eu só queria sumir por uns dias”. Esse desejo, que muitas vezes gera culpa, não significa falta de amor pelos filhos. Pelo contrário: é uma resposta legítima do corpo e da mente diante da sobrecarga invisível que a maternidade carrega.
Essa “herança da exaustão", muitas vezes vinda de nossas mães e avós diz que o amor se demonstra por meio do sacrifício. Elas cuidaram de todos e raramente de si mesmas. Descansar, para muitas delas, era sinônimo de fraqueza ou de luxo — algo que não cabia em suas realidades. Essa herança cultural se perpetuou e ainda marca a vida de muitas mulheres hoje.
O problema é que essa crença tem um preço alto. Mulheres que não se permitem pausar vivem em constante estado de alerta, acumulam estresse, ansiedade e, em muitos casos, desenvolvem quadros de depressão. A maternidade, que deveria ser vivida com mais leveza e prazer, passa a ser atravessada pela exaustão.
Vivemos em uma sociedade que ainda valoriza a mulher multitarefas. A mãe que trabalha fora, organiza a casa, acompanha cada detalhe da vida dos filhos e ainda mantém tudo funcionando em perfeita harmonia é exaltada como exemplo. Mas, por trás dessa imagem, muitas vezes há uma mulher cansada, sobrecarregada e que sente que não pode falhar.
Essa autoexigência é cruel. Mesmo em famílias nas quais o parceiro participa ativamente, a carga emocional recai, em grande parte, sobre a mãe. É ela quem pensa no detalhe, quem antecipa as necessidades, quem organiza mentalmente a vida de todos. E isso cobra um preço.
Permitir-se pausar não é sinal de fraqueza. É sinal de sabedoria. É entender que não precisamos repetir os padrões das gerações anteriores. A “mãe que dá conta de tudo” nunca esteve tão fora de moda.
Nos últimos anos, os retiros femininos ganharam força como uma resposta concreta a essa necessidade de pausa. Diferente de férias tradicionais, que muitas vezes se resumem a descanso ou diversão, o retiro é um convite para silenciar, refletir e se reconectar consigo mesma.
Em um retiro, a mãe pode — talvez pela primeira vez em muito tempo — respirar sem pressa, dormir sem interrupções, olhar para dentro de si. Atividades como meditação, visualização criativa, exercícios de introspecção, respiração consciente e rodas de conversa fortalecem a autoestima e ajudam a reorganizar as emoções.
No retiro Curar, Amar e Prosperar, que facilito inspirado no trabalho de Louise Hay, o processo é profundo e estruturado. Em três dias de imersão, trabalhamos temas como a reconexão com a criança interior, a prática do perdão, a reprogramação de crenças limitantes e a consciência dos padrões familiares que carregamos. Muitas mães relatam que esse mergulho vale por anos de aprendizado em tão pouco tempo.
Quando uma mãe retorna de um retiro, os efeitos não ficam restritos a ela. Seus filhos e parceiros percebem a diferença. Uma mulher mais leve, mais confiante e mais em paz consigo mesma consegue maternar com mais presença e equilíbrio.
Costumo dizer que “os filhos só vão até onde os pais foram”. Se uma mãe deseja que seu filho seja autoconfiante, saiba colocar limites, viva com mais leveza e serenidade, ela precisa trilhar esse caminho primeiro. O exemplo é o maior ensinamento.
Enquanto as férias costumam estar ligadas ao descanso físico, turismo ou lazer, o retiro é uma escolha consciente de crescimento pessoal e espiritual. É uma pausa planejada para olhar para dentro, aprender novas ferramentas emocionais e sair fortalecida para a vida real. As férias acabam quando a viagem termina. O retiro, por outro lado, traz ensinamentos e práticas que podem ser aplicados no cotidiano — como a respiração consciente, as afirmações positivas ou os exercícios de introspecção. É um investimento de longo prazo na saúde
Apesar de todos os benefícios, muitas mães ainda enfrentam barreiras internas para se permitir viver essa experiência. É comum que se questionem:
Esses pensamentos revelam o quanto ainda precisamos mudar nossa cultura em relação ao autocuidado. Descansar não é luxo. É necessidade. É ato de coragem e de autoamor.
Se quisermos criar filhos mais seguros, menos ansiosos e mais saudáveis, precisamos primeiro cuidar das mães que os guiam. Quando uma mulher aprende a pausar, a respirar, a se ouvir, ela não apenas se fortalece — ela ensina, pelo exemplo, que o autocuidado é parte essencial de uma vida plena.
Pausar não é desistir. Pausar é recuperar forças para continuar. Pausar é se amar.
*Juliana Honorato é terapeuta sistêmica e de libertação de traumas. Mentora de vida e carreira. Instagram @juhonoratoser