Ser mulher, mãe e CEO: liderança que deixa marcas

Costumo dizer que liderar é construir com propósito, presença e visão. Ecomo mulher, mãe e CEO, sei que essa construção acontece todos os dias — entre decisões importantes, reuniões estratégicas, mensagens de boanoite para os filhos e o eterno desafio de equilibrar as múltiplas funções que escolhi desempenhar.

Muitas vezes me perguntam: como conciliar esses papéis? E a minha resposta é simples: não se trata de conciliar, mas de integrar, de aceitar que cada papel me fortalece e me prepara para o outro. A maternidade me ensinou lições que nenhuma formação executiva jamais poderia: escuta verdadeira, empatia profunda e a habilidade de estar presente, mesmo quando fisicamente distante.

Assumir a liderança da maior rede de ortodontia do Brasil, sucedendo outra mulher, foi um marco na minha trajetória. Contamos com um ambiente que valoriza a competência, o comprometimento, a entrega e a equidade.

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O cenário ainda é desafiador, e os números comprovam isso. Na área em que atuo hoje, como CEO, uma pesquisa da Bain & Company mostrou que, embora tenha havido avanços, o Brasil ainda está longe de alcançar a equidade de gênero nas posições de alta liderança. Em cinco anos, o percentual de mulheres em cargos executivos subiu de 23% para 34%. Já na área da saúde, a organização Women in Global Health apontou, em 2023, que, embora 70% da força de trabalho da linha de frente seja feminina, apenas 25% das posições de liderança são ocupadas por mulheres.

Acredito que o mercado de trabalho ainda precisa evoluir para criar condições mais equânimes, ampliando o equilíbrio entre homens e mulheres em cargos de liderança. Para mim, o que sempre deve prevalecer é a qualificação e o preparo. É nisso que acreditoe é por isso que sigo trabalhando: para que o ambiente profissional seja cada vez mais justo, transparente e pautado pelo mérito.

Ser mãe e CEO, para mim, é também uma mensagem viva para os meus filhos: de que é possível liderar com afeto, crescer profissionalmente com integridade e, acima de tudo, ser fiel aos nossos valores em todos os contextos da vida. Nunca me esquecerei de quando precisei viajar no aniversário da minha filha, liderando um grupo em uma feira internacional. Olhei nos olhos dela e disse que não poderia estar presente. Ela me abraçou e respondeu: “Vai, mãe. Brilha lá.” E foi exatamente isso que fiz — com a certeza de que o brilho que meus filhos veem em mim é o mesmo que quero vê-los cultivando em suas próprias jornadas.

Não romantizo a sobrecarga nem minimizo os desafios. Eles existem e são reais. Mas acredito, com todas as minhas forças, que podemos — e devemos — ocupar todos os espaços que desejarmos, sem nos aprisionarmos na ideia de que precisamos escolher entre ser mães ou profissionais. A nossa trajetória pode — e deve — ser múltipla.

Se a minha história puder inspirar outras pessoas — a acreditarem no próprio potencial, a se posicionarem com autenticidade, visão e propósito —, então sei que estou cumprindo uma missão maior do que apenas liderar uma empresa: estou contribuindo para transformar realidades.

Sigamos ocupando nossos espaços. Com força, com sensibilidade, com competência. O mundo corporativo precisa — e já começa a perceber — que a presença de líderes preparados, comprometidos e íntegros transforma, humaniza e impulsiona as organizações.

Ainda há muito a ser feito, mas estamos caminhando. E cada passo importa.

*Lorraine Marcondes é CEO da OrthoDontic