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Crianças: a importância do cuidar. No mundo real e no virtual também

Estudo revela que 93% dos jovens brasileiros usam a internet, mas muitos enfrentam situações ofensivas nas redes sociais. Quem tem a obrigação do cuidar?

Wania Sant’Anna* Publicado em 04/07/2025, às 06h00

Ser cuidada é um direito da crtiança - pexels
Ser cuidada é um direito da crtiança - pexels

A preocupação com o acesso à internet e uso das redes sociais por parte de crianças e adolescentes assumiu lugar de destaque no seio familiar, nos ambientes escolares e entre legisladores.  Em todas essas situações a tônica é o debate sobre como proteger o público infantil e adolescente da exposição a conteúdos inadequados, aliciamento, violência e práticas discriminatórias (o cyberbullying).

Pesquisa da Tic Kids Online Brasil, iniciativa associada ao Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Informação (Cetic.br) e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) demonstrou esse uso expandido da internet entre crianças e adolescentes brasileiros. Em 2024, 93% da população com idade entre 9 e 17 anos eram usuárias de internet.  A frequência de acesso à internet por esse público é igualmente expressiva: 24 milhões de acessos nos três meses anteriores à realização da pesquisa e o celular é o principal dispositivo utilizado para esses acessos.   

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O problema aparece quando 29% dessas crianças e adolescentes afirmam que já experimentaram situações ofensivas nessas interações ainda que 77% dos responsáveis afirmem que seus filhos utilizam a internet com segurança e que apenas 8% desses responsáveis acreditem que suas crianças e adolescentes tenham vivenciado alguma situação incomoda.

Frente a este cenário, especialistas apontam que é preciso muito mais diálogo entre as partes - filhos e seus responsáveis - a fim de garantir que o público infanto juvenil seja protegido contra os conteúdos e as práticas inadequadas que circulam na internet e, em especial, na interação com as redes sociais.

Uma outra dimensão deste debate é saber o quanto as empresas e o mercado de trabalho podem colaborar neste debate oferecendo mais empatia aos colaboradores com filhos na primeira infância e sinalizar que se importam com esse particular experiencia de vida - a paternidade e a maternidade.  As empresas podem e é desejável que explicitem atenção aos filhos e filhas de seus colaboradores e existem muitas formas de fazer isso. 

Por exemplo, que tal a ideia dar folga nos aniversários das crianças com até 6 anos - limite percebido como a primeira infância?  Também é possível contribuir na formação dessas crianças, que tal presentear essas crianças e aqueles ingressantes na adolescência com livros que expandam a sua percepção de mundo, incluindo respeito às diferenças e não discriminação? 

Existem experiências iniciais de considerável sucesso nesta direção. Um exemplo de onde acontece esta iniciativa é o escritório Daniel Advogados. Esse tem sido um dos caminhos trilhados para reconhecer as responsabilidades familiares de seus colaboradores e demonstrar o seu compromisso com as futuras gerações. Ou seja, destinar aos trabalhadores tempo para estar com seus filhos e apoiá-los na sua formação é algo que pode ser feito com considerável desempenho e múltiplos resultados.

Reconhecer as necessidades temporárias de seus empregados, e saber que é possível acolhê-las, também é uma forma de garantir um ambiente de trabalho mais justo e, ao mesmo tempo, engajar esses colaboradores às metas de resultados positivos das empresas.

Enfim, é possível instituir medidas objetivas que respondem aos problemas de seus colaboradores e, também, aos problemas mais emergentes na sociedade como os desafios que as redes sociais apresentam à segurança e direitos das crianças e adolescentes.

*Wania Sant’Anna é historiadora, pesquisadora do campo das relações de gênero, relações étnico/raciais, desigualdades, discriminação e diversidade em ambientes corporativos. Consultora do Programa de Diversidade da Daniel Advogados. Integra o Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdade Racial (CEDRA), é Presidente do Conselho de Governança do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e do Conselho do Pacto de Equidade Racial. Wania é Conselheira do Fundo Elas+ - Doar para Transformar e da BrazilFoundantion. É colunista do site Congresso em Foco na coluna Olhares Negros.