Mariana Kotscho
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Leite que salva: projeto que já beneficiou 5 mil bebês inaugura novo ciclo de cuidado integral às mães

Lactare amplia sua atuação com atendimentos gratuitos em ginecologia, nutrição, psicologia e outros serviços voltados à saúde das doadoras e puérperas

Redação* Publicado em 19/05/2025, às 14h00

Maio é o mês da Doação de Leite Humano - divulgação
Maio é o mês da Doação de Leite Humano - divulgação

Em uma pequena sala silenciosa, refrigerada e branca, um frasco de vidro guarda 120 ml de leite humano doado. Pode parecer pouco. Mas para um bebê prematuro com menos de 1 quilo, internado em uma UTI neonatal, essa doação representa mais do que nutrição: é sobrevivência.

É nessa lógica, de que o cuidado começa muito antes da alta hospitalar, que o Lactare, primeiro banco de leite humano mantido por uma farmacêutica no Brasil, avança. Criado pela Eurofarma em 2019, o projeto já beneficiou diretamente mais de 5 mil recém-nascidos internados na rede pública de saúde e, neste mês de maio, dedicado à doação de leite humano, dá início a uma nova fase: a oferta gratuita de atendimentos especializados para lactantes e doadoras.

Instalado em Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, o centro passa a oferecer serviços como ginecologia, nutrição, odontopediatria e enfermagem, tendo como principal foco  apoio, promoção e proteção da amamentação. Em parceria com o Hospital Geral de Itapevi e outros 9 hospitais, a proposta é ampliar a atuação do banco, que já realiza coleta domiciliar de leite humano excedente e acompanha de perto lactantes que desejam doar.

"Não se trata apenas de arrecadar leite. É sobre escutar, acolher, orientar. Amamentar, por mais natural que seja, pode ser doloroso, solitário, exaustivo. A gente precisa estar lá para essas mulheres", afirma Sayonara Medeiros, enfermeira especializada em aleitamento humano e coordenadora do Lactare, que também integra a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH Brasil).

Desde o início da operação, já foram captados mais de 15 mil litros de leite humano e cadastradas mais de 13,5 mil doadoras. O volume, cuidadosamente pasteurizado e controlado por rígidos protocolos sanitários, é distribuído para hospitais públicos parceiros, priorizando UTIs neonatais. Parte do estoque é mantido para emergências.

Mas talvez o aspecto mais inovador da iniciativa esteja na logística: o Lactare se encarrega da coleta diretamente na casa das doadoras, uma ação essencial para mulheres em puerpério que enfrentam dificuldades para se deslocar.

Um olhar que começa dentro de casa

A história do Lactare começou de forma tímida, quase despretensiosa, com um olhar voltado às funcionárias da própria Eurofarma que estavam em fase de amamentação. Com o tempo, o que era política interna virou política pública: salas de ordenha, licença-maternidade estendida e acompanhamento psicológico passaram a dividir espaço com uma rede de apoio mais ampla — agora aberta também à comunidade.

Em maio, mês da mobilização nacional pela doação de leite humano, a equipe promove rodas de conversa, ações educativas e eventos com foco em saúde mental e amamentação. O objetivo, segundo os organizadores, é romper o tabu do desmame precoce e alertar para a importância do leite humano, que segundo a OMS reduz significativamente os riscos de doenças graves em mães e bebês.

“Hoje temos tecnologia, equipe qualificada, estrutura. O que falta, muitas vezes, é cultura de amamentação. Quando nasce o primeiro dentinho, já dizem: ‘Agora pode parar’. Dar mamadeira parece mais prático. Mas a conta disso é cobrada lá na frente”, reforça Sayonara.

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Um caso

Laila Madalena Cardoso Kolya é uma das doadoras do Lactare. Aos 29 anos, ela já tinha um filho de 12 e em 2024 teve uma perda gestacional de 30 semanas. Com pouca orientação a respeito da lactação, mesmo usando medicações para cortar o processo, ela passou a ter leite. Ao longo de seis meses ela contribuiu para o abastecimento do banco.

"Cada vez que eu coletava o leite era como se eu estivesse alimentando o meu bebê. Tive depressão e a doação me ajudou a ressignificar e enfrentar o processo do luto", afirma.

Laila engravidou novamente, recentemente deu à luz a Giulia e voltou a ser doadora do Lactare.

"Tive oportunidade de conhecer o projeto pessoalmente e foi oferecido todo o suporte de avaliação. Tive um processo de amamentação muito tranquilo e atualmente quando minha filha está mamando já aproveito e faço a coleta do excedente para doar", conta. "É muito gratificante saber que estamos ajudando outras mães e bebês que precisam", completa.

ESG que se materializa

A atuação do Lactare se insere no braço de responsabilidade social da Eurofarma — e é frequentemente citada como exemplo de ESG na prática, com impacto direto, mensurável e contínuo. A farmacêutica, com 53 anos de história, presença em 24 países e mais de 13 mil colaboradores, afirma ver no banco de leite uma de suas iniciativas mais transformadoras.

A meta, agora, é ampliar a captação mensal para 400 litros e garantir atendimento a pelo menos 100 bebês por mês. Cada doação pode salvar até 10 vidas — um frasco por vez.

“Se toda mulher que tivesse leite excedente soubesse do potencial que carrega nos seios, nenhum bebê sairia da UTI desnutrido”, finaliza a coordenadora, emocionada, após mais um dia de atendimentos.

O leite humano pode não resolver todos os problemas do mundo. Mas para milhares de bebês prematuros — e para suas mães — ele pode ser o primeiro passo para uma vida melhor.