Padecer no paraíso? As dores e as delícias da vida com os pequenos
Chrystina Barros* Publicado em 21/11/2024, às 06h00
No universo adulto, a felicidade frequentemente parece um objetivo distante, algo a ser conquistado com grandes realizações. Mas quando crianças, a alegria estava mais perto em coisas simples do cotidiano. Aprender a ser feliz com os pequenos prazeres pode ser uma prática de redescoberta inspirada na leveza que as crianças têm pela vida.
As crianças sabem transformar experiências comuns em momentos especiais. Para elas, o brilho das bolhas de sabão e o voo de um passarinho são motivos de encantamento. Essa habilidade de observar o mundo com curiosidade e admiração nos relembra que podemos encontrar satisfação ao estar presentes no agora. Estudos mostram que a prática de atenção plena – a capacidade de estar totalmente presente no momento – contribui para a felicidade. Reservar um tempo no dia para observar detalhes ao redor, como uma criança faz, pode enriquecer nossa experiência e trazer uma sensação de calma. Nas atividades cotidianas, desligue o celular e concentre-se totalmente no que estiver fazendo. Essa presença transforma qualquer tarefa em um momento significativo.
Para as crianças, não são brinquedos caros que garantem a diversão. Uma caixa de papelão vira um castelo, um lençol se transforma em cabana mágica. Essa habilidade de valorizar a simplicidade nos mostra que, muitas vezes, a felicidade está em aproveitar o que temos, sem buscar o inalcançável. Exercitar a criatividade e investir em momentos que não exigem grandes planejamentos – como um jogo em família – ajuda a valorizar o essencial, trazendo alegria e leveza.
Crianças também têm o dom de celebrar as pequenas conquistas. Um desenho concluído ou até mesmo um pulo mais alto são motivos de orgulho. Esse entusiasmo é algo que podemos adotar para cultivar mais satisfação. Focar nas pequenas realizações diárias traz uma sensação de progresso e propósito. Ao final do dia, pensar nas pequenas coisas que trouxeram orgulho nos ajuda a manter uma perspectiva positiva, tornando a rotina mais prazerosa.
Outro aprendizado poderoso das crianças é a aceitação. Elas vivenciam frustrações diárias – seja ao tentar montar algo ou ao lidar com um “não”. Elas sentem, choram, mas logo seguem em frente. Muitas vezes, a felicidade está em aceitar a vida como ela é. Inspirando-se nas crianças, ao enfrentar um problema, respire fundo, aceite e siga adiante. Esse exercício traz leveza e nos ensina a focar no que realmente importa.
Por fim, as crianças nos mostram a importância das conexões humanas. Elas buscam companhia e encontram felicidade nas interações genuínas, seja com amigos ou familiares. Esse desejo natural de conexão nos lembra que o contato humano é uma das maiores fontes de bem-estar. Estar presente em uma conversa, ouvir com atenção e demonstrar interesse pelas pessoas ao nosso redor transforma as interações em momentos ricos e significativos.
As crianças nos ensinam, todos os dias, que a felicidade não precisa estar longe ou em algo grandioso. Elas nos mostram que é possível ser feliz ao valorizar o presente, aproveitar pequenas conquistas e aceitar a vida como ela é. Ao nos inspirarmos na forma como os "pequenos" vivem, redescobrimos a magia e a leveza de viver de maneira mais simples. Que possamos reaprender com elas a olhar o mundo com mais curiosidade e encantamento, para uma felicidade autêntica e descomplicada.
*Chrystina Barros é doutora em administração pelo COPPEAD / UFRJ, com
certificação profissional em ciência da felicidade pela Universidade de Berkeley