A tragédia que acontece no Rio Grande do Sul tem, entre diversas situações desesperadoras, a questão de crianças que estão sozinhas
Tatiana Bertoni* Publicado em 10/05/2024, às 10h00
Já parou para pensar na quantidade de crianças e adolescentes que se perdem dos pais ou responsáveis durante uma catástrofe como a que está acontecendo no Rio Grande do Sul? Muitas vezes, na hora do resgate, os adultos acabam priorizando os pequenos e é aí que os desencontros acontecem.
Não há como não pensarmos na dor dessas mães e desses pais em terem suas famílias separadas no momento de uma tragédia como essa. Mas tenho certeza de que, assim como eu, qualquer um, priorizaria salvar a vida dos filhos, mesmo que isso custasse, naquele momento, que cada um fosse para um lado durante o salvamento. Diante da magnitude dessa tragédia, ainda não é possível contabilizar quantas crianças e adolescentes estão nos abrigos das mais de 400 cidades que foram atingidas pelas águas.
O presidente da Associação dos Conselheiros Tutelares do Estado do Rio Grande do Sul, Jeferson Leon Machado, contou que participou nesta quinta-feira, 09 de maio, de uma reunião com o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, em Porto Alegre. Ele disse que, nesse encontro, ficou decidido que seria feito um grupo para visitar esses espaços de acolhimento e um levantamento sobre essas crianças desacompanhadas de suas famílias. "O que tem são alguns números aqui e ali, mas esses dados também mudam a cada momento, porque se alguma família é resgatada, daqui a pouco eles acabam reencontrando os filhos". Jeferson contou que algumas crianças ainda têm aquela inocência de chegar nos abrigos muitas vezes rindo, porque andaram de barco ou até mesmo de helicóptero.
A depender da idade, aos olhos da criança, tudo isso pode ser visto como uma grande aventura. "Os relatos que eu tenho colhido dos conselheiros do Estado são de que nas casas oficiais dos municípios, elas já têm os profissionais, os técnicos, que recebem e começam um trabalho de atendimento psicológico com essas crianças. O Conselho Tutelar e o Ministério Público já são acionados para que seja, então, colocado em acolhimento institucional, o que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente", explicou.
Uma preocupação: essas crianças correm o risco de serem levadas por pessoas estranhas? Como garantir que serão entregues aos familiares verdadeiros? Jeferson explicou que é aí que vem o trabalho dos técnicos e dos assistentes sociais. "Como essas pessoas não têm documentos, acaba sendo necessária a realização de uma triagem para checar se existe mesmo um vínculo desse adulto com a criança. Tudo isso, porque a gente pode, também, estar, daqui a pouco, se deparando com oportunistas nessa situação querendo fazer alguma adoção à brasileira".
A orientação é que as pessoas que estão nessas cidades atingidas pelas chuvas e procuram por seus filhos devem se dirigir até o Conselho Tutelar, Ministério Público ou Polícia Civil. "Essa semana ainda será criado um grupo que irá nesses alojamentos fazer um cadastro dessas crianças que estão desacompanhadas dos pais. Esses órgãos terão acesso a essas informações e poderão repassá-las para as pessoas que estão à procura de seus filhos."
Outra informação importante é que o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o UNICEF, está no Rio Grande do Sul para apoiar no trabalho de proteção de crianças e adolescentes. Entre outras coisas, eles estão dando suporte técnico para as crianças que estão desacompanhadas ou separadas dos pais ou responsáveis. Uma maneira de ajudar é fazer uma doação ao UNICEF, que está entregando kits educacionais e recreativos para essas e outras crianças vítimas dessa que já é uma das maiores tragédias ambientais que o Brasil viveu.
*Tatiana Bertoni é jornalista, tem dois filhos e colabora com este site