Por uma cultura de paz

Em vista dos recentes ataques, é necessário promover uma cultura de paz no ambiente escolar

Ana Carla de Amorim* Publicado em 12/05/2023, às 06h00

Professores são essenciais para o desenvolvimento dos alunos -

Ao contrário do que possa parecer, a minha relação com a docência não se deve ao fato de eu ter nascido em um 15 de outubro, dia do professor, embora eu me sinta privilegiada em celebrar a data do meu aniversário com a profissão docente. Profissão aliás, que está bem distante de uma vocação, dom ou missão, é um ofício que assim como os demais, são necessários anos de estudo e dedicação e que após a graduação, muitos são os cursos de especialização para complementar a formação. Por isso que para ser professor, só o “gostar de crianças”, não basta.

É ainda na infância, nos Centros de Educação Infantil, onde os professores acompanham o desenvolvimento das crianças durante a rotina diária: desde os primeiros meses de vida, a identificação do choro, a alimentação, o banho, da troca até a retirada da fralda, a hora de dormir, assim como os primeiros passos, dos balbucios até a fala, da interação na roda de conversa, na contação de histórias, nas músicas e brincadeiras: seguindo as regras, aprendendo a aguardar a sua vez, a ganhar e a perder, a ouvir não, a respeitar as diferenças, a partilhar os espaços e o convívio com os seus pares, momentos de aprendizagem e socialização que as crianças vivenciam desde cedo, ao mesmo tempo em que expressam os seus sentimentos e emoções, como a raiva, o medo, a alegria, o nojo, a tristeza, a lidar com a frustração...

Brincar de boneca, jogar bola, brincar de escolinha, são algumas brincadeiras que fizeram parte da minha infância, sendo escolinha, uma das minhas preferidas. A partir dela e com ela, com um giz na mão, eu ensaiava alguns traços exercitando a escrita e aprimorando o que futuramente viria a ser o maior de todos os meus desejos e sonhos: ensinar.

Assim, pelo fato de ser professora um desejo de infância e por ter uma memória afetiva de algumas professoras, na minha dissertação de Mestrado “Aprendendo a ser professora de Educação Infantil”, realizada entre os anos de 2017 e 2018, entrevistei 5 professoras de um Centro de Educação Infantil da cidade de Campo Grande / MS, tendo como parte do roteiro duas perguntas: Que motivos a levaram a ser professora? Quais as razões a motivam, a levam a permanecer na docência?

Como resposta às perguntas, encontrar na escola um ambiente acolhedor, uma segunda casa, um lugar de pertencimento com afeto e segurança onde possam desenvolver, realizar e acompanhar o resultado do seu trabalho, foram as motivações que as levaram a escolha da profissão, fatores e razões que fazem com que superem as dificuldades encontradas no cotidiano escolar e permaneçam na docência.

No entanto, no momento em que a educação é evidência nos jornais locais e nacionais, assim como nas redes sociais e demais veículos de comunicação em decorrência dos recentes ataques contra as instituições educacionais e sobretudo, contra crianças e funcionários, o que podemos fazer para juntos construirmos uma cultura de paz?

Dia 28 de abril foi o dia da educação e muitas são as discussões e os debates em como prevenir e combater a violência, garantindo a segurança em creches e escolas. Estados e municípios realizam ações como a ronda escolar, combate às fake news, a criação do botão do pânico, o videomonitoramento e uma cartilha com orientação aos pais e responsáveis para que a boa convivência no ambiente escolar aconteça. Nesse sentido, no dia 20/04 em Campo Grande / MS, escolas públicas e privadas desenvolveram atividades de acolhimento, levando palavras e gestos de carinho como um abraço, pequenas gentilezas que podem fazer a diferença e promover a paz em sala de aula.

No entanto, ações como estas não ficam limitadas ao Centro-Oeste do país. A rede Transvê Poesias é um coletivo independente que existe há 9 anos e que acredita na transformação do mundo através do acesso a arte, à educação de qualidade, à literatura e sustentabilidade trazendo poesias em garrafas.

 

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Inicialmente, um edital foi lançado para a seleção dos poemas, e muitos destes autores, são alunos de diversas escolas espalhadas por todo o país. Depois, as garrafas são envolvidas em jornais e colados os poemas. E finalmente, as garrafas são penduradas em locais de grande circulação como praças, parques e escolas, chamando a atenção de quem passa. O objetivo é fazer com que a pessoa ao se aproximar e gostar da poesia, leve gratuitamente a garrafa para casa ou até mesmo possa presentear alguém.

E os resultados dessa intervenção já começam a surgir. Relatos de pessoas vivenciando o luto e que encontraram uma mensagem de conforto, casais se presenteando com as garrafas poéticas, o envolvimento de crianças e jovens, grupos de professores, instituições e organizações participando desta ação, são alguns dos registros. A estimativa é que neste ano sejam distribuídas aproximadamente 8 mil garrafas.

Para Anderson Valfré, coordenador nacional da rede Transvê Poesias, “O foco é sensibilizar o cotidiano brasileiro através de versos que irão poetizar as ruas, como também alimentar a esperança nos olhos e corações”.

 

A Terceira Intervenção Poética acontece de 13 de abril a 20 de maio em todo o território nacional e as informações sobre os locais, datas e horários das intervenções podem ser obtidas nas redes sociais da transvepoesias.

Sim. É sobre a profissão docente, sobre poesia, sobre educação e cuidado com o meio ambiente, mas não é só isso. É sobre união, solidariedade, encantar as pessoas, distribuir sorrisos, gentileza, incentivo à leitura. É espalhar amor e boas notícias com poesias em jornais, com palavras e mensagens que trazem esperança. Porque coisas boas acontecem e acontecem também nesses espaços. Por isso, enquanto professora de formação, desejo além das atividades desenvolvidas no ambiente educacional em benefício das relações humanas e afetivas, que mais notícias e movimentos como este virem notícia e rotina em todos os lugares. Juntos por uma cultura de paz.

 

*Ana Carla de Amorim é graduada em pedagogia e tem mestrado em educação pela Universidade Católica Dom Bosco. Pesquisadora das temáticas de gênero e formação de professores.

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