Promover a educação digital é essencial para garantir a privacidade e segurança dos nossos jovens nas redes sociais.
Oscar Antonangelo* Publicado em 12/04/2025, às 06h00
A segurança das informações nas redes sociais nunca foi tão crucial quanto agora. No passado, os dados compartilhados online eram usados principalmente em ataques direcionados como por exemplo tentativas de descobrir senhas ou aplicar golpes. Hoje, com os avanços da inteligência artificial, o cenário é ainda mais preocupante pois já é possível utilizar conteúdos postados para literalmente se transformar na própria pessoa.
Hoje, vemos que se alguém não protege suas redes sociais, qualquer pessoa mal-intencionada com conhecimentos básicos de IA pode criar uma versão falsa, mas incrivelmente realista de si. Com apenas algumas fotos disponíveis publicamente, é possível treinar modelos de inteligência artificial, por meio de técnicas chamadas de "adaptação de baixo nível", e gerar imagens em contextos altamente comprometedores. Para evitar que o uso da tecnologia adoeça nossos jovens, é fundamental promover a educação digital nas escolas e em casa, incentivar o uso consciente das redes e, acima de tudo, proteger a privacidade como um valor essencial.
Imagine, por exemplo, a situação em que seu filho vai para a escola e tem sua vida comprometida por fotos falsas de cunho sexual, criadas por outra pessoa. Os riscos antigos, como fraudes e roubo de identidade, ainda existem e continuam perigosos. Mas agora enfrentamos também riscos emocionais, psicológicos e sociais que são igualmente graves.
Os alfabetos secretos usados por adolescentes nas redes sociais como o “leet speak” (forma de escrever que usa números e símbolos em vez de letras), fazem parte da cultura digital desde os anos 80 especialmente dentro de comunidades hacker, mas esses códigos não são por si só um problema, mas muitas vezes são formas de se conectar com grupos com interesses em comum. No entanto, eles podem sim ser um sinal de influência de comunidades online que promovem ideias nocivas, por exemplo. E as famílias que não estiverem atentas ao tipo de conteúdo que o filho tem consumido e compartilhado na internet, pode abrir precedente para um grave problema.
O que realmente importa no meu ponto de vista é o tipo de conteúdo e valores que estão sendo compartilhados nesses ambientes, pois a vida online tem permitido que adolescentes criem formas anônimas e sofisticadas de atacar colegas, destruir reputações e até incentivar discursos de ódio, sem que os responsáveis percebam o que está acontecendo.
No Brasil, esse cenário vem crescendo rapidamente e pode se igualar com países como a Coreia do Sul onde a pressão social entre jovens é altíssima e já podemos notar consequências graves como o aumento dos casos de suicídio entre estudantes.
Os pais devem ficar atentos não apenas aos códigos, mas à profundidade da influência digital sobre seus filhos. É possível encontrar o significado desses dialetos na internet sim, mas o mais importante é manter um canal de diálogo aberto e observar mudanças de comportamento além buscar entender os ambientes virtuais em que seus filhos estão inseridos para garantir a sua segurança.
Infelizmente, nos deparamos com a triste constatação que o universo do cibercrime é extremamente sedutor para qualquer jovem com conhecimento em tecnologia e segurança ofensiva. Isso não se deve apenas ao mistério que o tema envolve, mas também aos altos retornos financeiros que ele oferece, que é muitas vezes com baixo risco.
Para se ter uma ideia, enquanto um profissional experiente de cibersegurança atuando na defesa de empresas pode ganhar acima de 20 mil reais por mês, um cibercriminoso especializado em comercializar bases de dados pessoais ou financeiros pode lucrar mais do que isso em apenas um dia. Essa assimetria nos coloca em uma posição de desvantagem, especialmente diante de um público jovem que, muitas vezes, busca pertencimento, status ou liberdade financeira de forma imediata.
Ao mesmo tempo, vemos uma tendência crescente das pessoas, em especial adolescentes, de viverem mais intensamente no mundo digital do que no mundo real. E essa tendência deve se intensificar.
Em dez anos, será possível que testemunharmos uma virada social onde a identidade digital de uma pessoa será mais relevante do que sua presença no mundo físico e eu acredito sim que esse novo cenário pode nos levar a um ponto crítico de perda de controle, não apenas pelos riscos associados ao cibercrime, mas pelo impacto que isso pode ter na formação emocional, moral e social dos jovens.
*Oscar Antonangelo é CEO da Diazero Security, consultoria especializada em soluções de segurança cibernética.