Entenda os atravessamentos do racismo na vida de mulheres negras e em suas escolhas cotidianas
Tatiane Santos* Publicado em 30/07/2025, às 06h00
Ser mulher preta no Brasil é viver, diariamente, os atravessamentos do racismo. É acordar já consciente de que cada escolha - da roupa ao tom de voz - pode ser usada contra nós. É saber que o modo como falamos, andamos, nos expressamos e até sorrimos será analisado com lentes marcadas por séculos de estigmas e estereótipos.
E mesmo que nos moldemos, que nos preparemos, que entreguemos sempre mais do que nos exigem, ainda assim seremos questionadas. Ainda assim, teremos que nos explicar. Explicar por que o racismo existe, por que dói, por que precisa acabar. Explicar que não é vitimismo, é vivência.
Quando ocupamos espaços de poder ou de visibilidade - aqueles onde raramente nos veem - o fardo se intensifica. Não basta ser competente, é preciso ser impecável. Não basta estar, é preciso provar que se merece estar. O olhar desconfiado, os elogios exagerados, as entrelinhas que gritam aquilo que a boca não tem coragem de dizer: "você não era esperada aqui".
Esses atravessamentos não são sutis. São estruturais. São produto de uma sociedade que ainda estranha ver pessoas negras ocupando lugares que historicamente nos foram negados. E quando essa pessoa é uma mulher negra, a opressão vem em dobro.
Eu, Tatiane Santos, a colunista que vos escreve, agradeço por ter nascido neste tempo. Porque, se tivesse nascido há 100 anos, como mulher, sequer teria direitos. E sendo uma mulher negra, poderia muito bem ter sido escravizada.
É por isso que faço questão de usar minha voz. De estar no mundo com propósito. De ser, todos os dias, inspiração e resistência. Como mulher preta, educadora e mãe, sigo comprometida em semear uma educação para as relações étnico-raciais desde a infância. Quero formar aliadas e aliados entre professores, gestores e famílias, para que nossas crianças cresçam em um mundo onde suas identidades sejam respeitadas, e não silenciadas.
E você, leitor, me acompanha nessa jornada? Porque o antirracismo precisa ser coletivo. E o futuro que queremos começa agora.
*Tatiane Santos (@pretinhaeducadora) é educadora, autora do livro Super Black, o poder da Representatividade, e mãe de 2 meninos.