Mariana Kotscho
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Sem Alcoólicos Anônimos não alcançaria uma vida feliz

Após uma relação doentia com o álcool, Joana chegou espontaneamente ao A.A. e hoje seu processo de recuperação e sobriedade está em primeiro lugar para ter uma vida feliz

Joana* Publicado em 21/11/2023, às 06h00

A toxicidade do álcool é maior no organismo feminino em razão de sua composição biológica
A toxicidade do álcool é maior no organismo feminino em razão de sua composição biológica

Eu tenho 54 anos e moro em São Paulo. Minha relação com álcool começou muito cedo, na minha festa de 15 anos, quando tive meu primeiro apagão. De lá pra cá, foi só ladeira abaixo, em minhas festas e em festas alheias, sempre dando vexame e não lembrando de nada. Foi assim na festa de 18 anos, no meu casamento com um homem também alcoólico, na minha lua de mel e na minha festa de 50 anos. Eu não vivi esses momentos, não tenho lembranças deles, aliás não sei nem como fui embora desses eventos.

A vida de casada foi triste e solitária, nós dois bebíamos cada vez mais, ele na rua com outras mulheres e eu em casa, bebendo nas madrugadas, esperando ele chegar. Depois de 25 anos dessa relação doentia, com dois filhos pequenos e todos expostos à violência doméstica e ao uso abusivo do álcool, nos divorciamos.

 Aí sim eu podia beber sem ninguém para me controlar, dia e noite, durante nove anos. Acabei com a minha herança de família, a vergonha e a dignidade. E foi neste fundo de poço que conheci Alcoólicos Anônimos, espontaneamente, levada por mim mesma, porque não aguentava mais a humilhação que as bebedeiras e os apagões me faziam passar.

Autorrejeição, falta de aceitação, baixa autoestima, obesidade mórbida, medo de não conseguir ser alguém na vida, eu acreditava de verdade que não era capaz de fazer o básico. O meu pensamento reforçava a crença de que na minha vida tudo dava errado mesmo, então só me restava beber para afogar a tristeza. Eu não queria ser alguém grande e importante, o medo era não dar conta do básico mesmo, de estudar e poder me sustentar do meu trabalho.

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Eu cheguei às reuniões presenciais, e depois passei a frequentar as reuniões online. Também participo das reuniões de composição feminina, que são libertadoras.

Hoje o meu processo de recuperação e sobriedade está em primeiro lugar, para tudo na minha vida. Foi o programa de Alcoólicos Anônimos que me devolveu a dignidade, e me fez conhecer a maternidade aos 21 anos do meu filho. Foi o A.A. que permitiu eu me tornar uma empresária e alcançar uma vida feliz. Sem Alcoólicos Anônimos isso não seria possível mesmo!

*Joana tem 54 anos, mora em São Paulo e é uma alcoólica em recuperação (nome fictício, preservando o anonimato)

Saiba mais sobre o alcoolismo na mulher

A toxicidade do álcool é maior no organismo feminino em razão de sua composição biológica, como menos quantidade de água no corpo e menos enzimas que metabolizam a substância. Diante disso, os problemas relacionados ao álcool tendem a surgir mais rápido e são progressivamente mais acentuados nas mulheres, em comparação aos homens. Isso também acontece com a dependência alcoólica.

“O alcoolismo é a doença da solidão. Uma doença crônica, progressiva, fatal, de múltiplos fatores que leva o indivíduo a um estado de autoabandono. O preconceito associado com uma cultura de desigualdade social, torna o alcoolismo ainda mais invisível para as mulheres”, destaca Jaira Freixiela Adamczyk, psicóloga e mestre em tratamento e prevenção à dependência química.

Se você se identificou com a história da Joana, busque ajuda! Há espaços de apoio e tratamentos gratuitos no Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (CAPS-AD), que são unidades de saúde especializadas em atender usuários e dependentes de álcool e drogas, ou ainda os hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Outro recurso disponível são os grupos de mútua ajuda. São mais de 60 reuniões de composição feminina de Alcoólicos Anônimos realizadas semanalmente em todo o Brasil. Para acessar a programação das reuniões femininas presenciais e virtuais, clique aqui. A mulher alcoólica que precisar de ajuda pode ainda entrar em contato pelo Canal de Ajuda.