O sonho acalentado de uma vida que desmorona. Esse é o sentimento que,
normalmente, se abate sobre um casal que quer ter filhos quando recebe a notícia
de que terá de recorrer a alguma técnica de reprodução assistida para conseguir
engravidar. E quando a decisão é encarar o problema e prosseguir, optando pelo
método da fertilização in vitro, começa, para esses casais ‘tentantes’ um período
que pode ser longo e de grandes incertezas, durante o qual os aspirantes a pais
passam por um verdadeiro turbilhão emocional, com vários, e dolorosos, altos e
baixos.
Ao mesmo tempo que buscam esperança na ciência, muitos se fecham,
encarando a fertilização in vitro como um tabu, algo que os envergonha e que
procuram esconder até mesmo da família e de amigos mais próximos. Essa
vergonha surge, justamente, porque a causa que os levou a recorrer a um método
não natural para engravidar está, na maioria dos casos, relacionada a problemas de
saúde reprodutiva. E isso, do ponto de vista psicológico, põe em xeque na mulher,
seu papel de gerar, e, no homem, a masculinidade. Algo, sem dúvida, bastante
difícil de ser vivenciado por qualquer ser humano.
Toda essa problemática leva muitos a encarar a fertilização in vitro como um
problema, quando, do ponto de vista prático, ela é uma solução. E é dessa forma
que a FIV deve ser encarada: como um meio para se atingir um fim, sendo que o
fim, nesse caso, representa uma das maiores realizações do ser humano, o de ser
mãe e de ser pai. De ser capaz de trazer ao mundo uma criança, dar a ela amor e
cuidado e vê-la crescer. Esse sonho, vale lembrar, é legítimo e de forma alguma
pode ser limitado por um preconceito!
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Como o casal deve agir?
Para trabalharem seus conflitos, é importante que os casais ‘tentantes’
busquem uma rede de apoio e possam, assim, trocar experiências com outros
casais que estão passando ou já passaram por situações semelhantes. Falar
abertamente sobre o assunto, expor os medos e dúvidas, é, com certeza, a melhor
forma de atravessar esse período com o máximo de tranquilidade possível.
Desde que foi descoberto, em 1978, pelos cientistas britânicos Robert
Edwards e Patrick Steptoe, o método de fertilização in vitro tornou-se uma das
técnicas de reprodução humana assistida mais utilizadas no mundo. Pelas mãos de
especialistas na prática, já vieram ao mundo, até hoje, mais de 7 milhões de bebês.
No Brasil, a procura de casais por FIV é crescente.
Segundo pesquisa da ANVISA, quase 46 mil ciclos de fertilização in vitro foram realizados em 2021, um aumento de 32% em relação a 2020. Em 2020 e 2021, mais de 36 mil gestações clínicas foram alcançadas no país com as técnicas de reprodução humana assistida - de acordo com relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio).
Que essas estatísticas sirvam de alento, dando novas perspectivas para que
os casais encarem o processo de FIV com esperança e naturalidade, focando no
ponto que mais importa: a conquista do sonho da maternidade.
*Marianna Peretti é fundadora da Fiva, plataforma digital para a troca de informações e experiências e avaliações de clínicas sobre fertilização in vitro e tentante de FIV.