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Como o implante coclear vem mudando o desenvolvimento de crianças com perdas auditivas severas

Otorrinolaringologista ressalta a importância da tecnologia coclear e comenta as possíveis dificuldades na sua adaptação

Fernando Balsalobre* Publicado em 09/06/2023, às 08h00

As consultas periódicas fazem parte da agenda de todos os pacientes usuários de dispositivos para surdez
As consultas periódicas fazem parte da agenda de todos os pacientes usuários de dispositivos para surdez

Após o nascimento, é sabido que os bebês precisam passar por determinados testes para detecção de possíveis anomalias. Isso porque, algumas doenças que não costumam apresentar sintomas imediatos precisam ser precocemente diagnosticadas. Um dos testes obrigatórios é o da orelhinha, que permite detectar problemas auditivos leves ou graves nos recém-nascidos, ainda na maternidade.

Para entender melhor os níveis de perda auditiva, que é medido em decibéis (dBHL), podemos classificar da seguinte forma: acima de 25 dB é considerado como perda auditiva leve; entre 40 e 69 dBHL como moderada; entre 71 e 90 dBHL como severa; e superiores a 90 dBHL são as perdas profundas. De acordo com o grau e tipo de perda auditiva do bebê ou da criança será definida a solução mais adequada para o caso.

Neste artigo, quero explicar um pouco sobre a solução por meio do implante coclear, que é um dispositivo implantado cirurgicamente que capta o som do meio, transforma este estímulo em elétrico e que, através de um eletrodo implantado na Coclea (órgão auditivo), estimula diretamente o nervo da audição.            

Quando uma criança nasce com perda auditiva e após o diagnóstico é realizado o implante coclear, é muito provável que suas habilidades linguísticas sejam mais fortes se comparadas àquelas tratadas quando já tinham dois anos de idade. Isso mostra que, quanto mais cedo for o diagnóstico e o tratamento da perda auditiva, maior será a chance do seu filho desenvolver uma linguagem equivalente à de uma criança com audição normal.

O implante coclear é uma opção para a habilitação ou reabilitação de perdas auditivas severas a profundas e indicado para todas as idades a depender do tipo de perda, tanto para bebês que nascem com surdez ou mesmo para pessoas que desenvolvem a surdez ao longo da vida. 

Apesar de muitas pessoas ainda não terem ciência dessa informação, o implante coclear é uma tecnologia coberta tanto pelos planos de saúde (ANS) quanto pelo SUS. Já em relação aos aparelhos auditivos convencionais, esses sim possuem maior dificuldade de acesso pela população, mesmo com programas de governo para essa finalidade. Os planos de saúde, por sua vez, também não são obrigados a fornecer esses dispositivos, o que faz com que muitos pacientes acabem ficando desamparados devido ao custo elevado.

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Muitas famílias de paciente me perguntam como é a vida de uma criança após o implante. Costumo dizer que, com os acompanhamentos de rotina necessários, a vida é normal. Eles podem correr, brincar, nadar, se divertir como qualquer outra pessoa.  Os implantes possuem tecnologia e qualidade de última geração, portanto, feitos para durar muito tempo. Inclusive, o crescimento da criança não afeta no funcionamento do implante.

Vale ressaltar que, caso a criança implantada ou usuária de aparelho convencional comece a apresentar dificuldades de comunicação ou que se queixe de dificuldade de escutar, os pais deverão procurar atendimento especializado imediatamente com otorrino e fonoaudióloga. As consultas periódicas fazem parte da agenda de todos os pacientes usuários de dispositivos para surdez. Manter essa disciplina é a receita do sucesso para uma vida comum de crianças ou adultos de qualquer idade.

Quando falamos sobre tecnologia coclear e o uso dela, vale colocar aqui alguns pontos importantes:

  • Após avaliação criteriosa e detecção de surdez profunda, crianças a partir dos 6 meses de idade já podem se submeter ao procedimento, oferecido pelo SUS e coberto pelos planos de saúde privados.

  • Se a cirurgia for feita precocemente, pacientes podem atingir mesmo desempenho auditivo e de linguagem que colegas ouvintes. Crianças com muito tempo de privação auditiva, geralmente com mais de 5 anos sem nenhum método de habilitação auditiva não costumam apresentar resultados satisfatórios, sendo muitas vezes contraindicada a cirurgia.

  • O procedimento cirúrgico é pouco invasivo e não se estende por mais do que 3 horas. O paciente costuma ter alta no dia seguinte. A parte externa do dispositivo é acoplada à interna 30 dias depois da cirurgia e seu aspecto físico lembra o de um aparelho auditivo comum.

  • Recuperação da audição: a recuperação da audição e o início da fala variam de acordo com o caso e o tempo de privação sonora e envolvem também o trabalho de uma fonoaudióloga.

*Dr. Fernando Balsalobre é otorrinolaringologista (USP), membro da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO).

Instagram: @dr.fernandobalsalobre