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Cardiopatias Congênitas: diagnóstico precoce e tratamento adequado salvam vidas

Além do amor, 12 de junho é um dia para conscientizar sobre as cardiopatias congênitas, que afetam 1 em cada 100 recém-nascidos

Dra. Marina M Zamith* Publicado em 12/06/2025, às 10h00

Cardiopatia congênita: a importância do diagnóstico precoce - pexels
Cardiopatia congênita: a importância do diagnóstico precoce - pexels

A data de 12 de junho é nacionalmente conhecida pelo Dia dos Namorados. Mas, você sabia que a data também é marcada pelo Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita? As cardiopatias congênitas são as malformações cardíacas mais comuns entre os seres humanos e estão entre as principais causas de morte na primeira infância. Segundo dados do Ministério da Saúde, as condições estão presentes em 1 a cada 100 recém-nascidos vivos, o que representa aproximadamente 29 mil novos casos por ano no Brasil. Destes, em torno de 50% vão precisar de tratamento ainda no primeiro ano de vida.

As malformações mais graves podem exigir tratamentos ou procedimentos logo nos primeiros dias de vida, pois impactam diretamente a circulação sanguínea e/ou a oxigenação dos órgãos do bebê. Esses defeitos cardíacos, geralmente, se desenvolvem nas primeiras semanas de gravidez, durante a formação do coração, que ocorre até a 12ª semana da gestação.

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Por isso, o diagnóstico de uma malformação cardíaca antes do nascimento é muito importante ao permitir que a família, em conjunto com a equipe médica, planeje o parto e inicie o tratamento precoce antes mesmo do surgimento dos sintomas. O exame mais indicado para avaliação cardíaca do bebê é a ecocardiografia fetal, que detecta mais de 90% dos casos de cardiopatias e pode ser realizado entre a 20ª e 26ª semana de gestação. Em 14 de junho de 2023, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 14.598, decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República, que torna obrigatória a ecocardiografia fetal em todas as gestantes.

Uma das cardiopatias mais frequentes que causa cianose, ou seja, baixa oxigenação do sangue no período neonatal, é a Transposição das Grandes Artérias (TGA). Nessa cardiopatia, as principais artérias que saem do coração estão invertidas, interrompendo a circulação sanguínea normal. Embora seja uma cardiopatia extremamente grave, existe uma correção cirúrgica anatômica eficaz desenvolvida pelo renomado cirurgião brasileiro, Dr. Adib Jatene. Com esse procedimento, o fluxo sanguíneo é restabelecido adequadamente, permitindo que o coração funcione corretamente. No entanto, a cirurgia deve ser realizada na primeira semana de vida para garantir bons resultados.

Outros defeitos congênitos que causam obstrução grave do fluxo sanguíneo, como a estenose da valva pulmonar, estenose da valva aórtica e a coarctação da aorta (estreitamento do arco aórtico), também provocam sintomas importantes e comprometem significativamente a circulação do sangue. Em casos mais críticos, pode ser necessário realizar intervenções ainda durante a gestação, por meio de procedimentos intrauterinos, para melhorar o prognóstico do bebê após o nascimento.

E será que é preciso esperar que o bebê apresente sintomas graves com risco de vida para obter o diagnóstico? O tempo perdido entre o diagnóstico e o início do tratamento pode causar danos irreversíveis. Portanto, quando a cardiopatia é identificada durante a gestação, a família pode planejar o parto em um hospital com infraestrutura adequada para o tratamento dessas malformações, garantindo ao recém-nascido o suporte necessário logo após o nascimento. Infelizmente, muitas maternidades no Brasil ainda não dispõem de recursos adequados para o manejo dessas condições, resultando em bebês em estado crítico que precisam ser transferidos para outras instituições, o que aumenta o risco de complicações.

Diante de tudo isso, o diagnóstico precoce das cardiopatias congênitas é fundamental e salva vidas.

*Dra. Marina M Zamith é coordenadora da área de Ecocardiografia Fetal e Neonatal do Hospital e Maternidade Santa Joana