Sintomas como insônia e crises de ansiedade são possíveis alertas de algo errado no estilo de vida
Maria Klien* Publicado em 11/08/2025, às 06h00
Nos últimos anos, cresceu o número de mulheres adultas que chegam aos consultórios com sintomas de cansaço profundo. Não se trata apenas de fadiga física. É um esgotamento emocional silencioso, que se instala muitas vezes sem avisar. Por trás dos diagnósticos de burnout ou ansiedade, há algo maior; um modo de viver que cobra demais e acolhe de menos.
A pressão não vem só do trabalho ou da casa. Existe uma sobrecarga de funções, exigências e papéis que se somam até o limite. Se espera que a mulher produza sem parar, cuide de todos à sua volta, mantenha uma imagem impecável e ainda sorria. Mas ninguém sustenta isso por muito tempo sem se romper por dentro.
Vivemos em um tempo onde tudo é mostrado, medido e comparado. As redes sociais viraram vitrines de conquistas. E, aos poucos, fomos nos afastando daquilo que sentimos de verdade. É difícil olhar para dentro quando tudo o que vemos fora é uma cobrança para sermos mais, fazermos melhor, aparentarmos perfeição.
Essa comparação constante aciona uma autocrítica que adoece. A mulher começa a duvidar do próprio valor, mesmo quando está fazendo o possível. Às vezes, o corpo fala antes da consciência entender; insônia, palpitações, crises de ansiedade, dores. São sinais de que algo precisa mudar.
Nas relações mais próximas, os reflexos também aparecem. Irritação frequente, sensação de não dar conta, distância emocional. Muitas mães relatam a culpa de nunca estarem inteiras em lugar nenhum, nem no trabalho, nem com os filhos, nem consigo mesmas.
Cuidar de si não é abandonar as responsabilidades. É escutar o corpo, respeitar os limites, lembrar que descansar não é perder tempo. É necessário reaprender a pausar. Habitar os silêncios. Deixar o corpo respirar sem culpa. E, aos poucos, recuperar o que foi sendo deixado para trás.
Na terapia, esse movimento se torna possível. Com tempo e acolhimento, é viável desfazer a ideia de que dar conta de tudo é sinal de força. Aprendemos que vulnerabilidade também é sabedoria. E que é legítimo escolher outro caminho, mais gentil, mais sincero.
Redefinir o que é sucesso faz parte desse processo. Não é mais sobre resistir até a exaustão. É sobre sustentar uma vida que faça sentido. Uma trajetória com pausas, limites e escolhas conscientes não é menos potente. É mais verdadeira.
Romper com esse ciclo de esgotamento exige um olhar coletivo, não é só uma questão individual. Mulheres saudáveis não são aquelas que aguentam tudo. São as que se autorizam a parar, a sentir, a mudar de rota. Talvez aí esteja o início de uma revolução silenciosa. Mas real.
*Maria Klien é psicóloga
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres