Entenda porque as crianças não ouvem mais "não" e a razão atrás da frustração delas
Larissa Fonseca* Publicado em 29/09/2025, às 06h00
Muito se fala hoje em dia que os pais evitam que os filhos passem por frustrações. Repetimos com frequência que “as crianças não ouvem mais ‘não’”, que os pais não querem contrariá-las. Mas será que sabemos, de fato, o que isso significa?
Frustração não é apenas negar um brinquedo no shopping ou dizer que não pode tomar sorvete antes do jantar. Vai muito além desses exemplos. A frustração, na vida da criança, aparece em várias situações cotidianas: quando a escola corrige uma prova e coloca nota vermelha, e os pais correm para reclamar que isso é “demais”; quando os adultos evitam mostrar um desenho ou um filme por acreditar que o filho não saberá diferenciar fantasia de realidade; quando se pede para alterar o final de uma história, para que a criança não sinta tristeza ou desconforto.
Ao agir assim, sem perceber, estamos subestimando nossos filhos. Subestimamos a capacidade deles de discernir o certo e o errado, de compreender o que é brincadeira e o que é vida real. Mais do que isso: tiramos deles a oportunidade de aprender, de elaborar sentimentos, de perceber que a vida nem sempre tem finais felizes, mas que, justamente por isso, ela pode ser transformada com esforço, resiliência e criatividade.
As histórias, os filmes, os programas e até as pequenas (e grandes) decepções do dia a dia são fontes riquíssimas de aprendizado emocional. Não precisamos mudar versões de contos, suavizar os enredos ou apagar os erros das provas.
O problema não está em evitar sofrimentos desnecessários, mas em eliminar qualquer desconforto. Sem desafios, a infância deixa de ser um espaço de treino emocional para a vida adulta.
Precisamos estar ao lado dos nossos filhos para ajudá-los a interpretar, conversar sobre o que sentiram, construir juntos os significados. Se frustrar, afinal, não é apenas ouvir um “não”. É vivenciar experiências que desafiam, que incomodam, mas que também ensinam. É nesse espaço que a criança cresce, aprende a lidar com o mundo real e se prepara para ser um adulto mais seguro e equilibrado.
A frustração não é vilã. Ao contrário! É a “guia” necessária que ensina a esperar, a tentar de novo, a superar. É no desconforto que a criança aprende a lidar com o mundo real e se prepara para ser um adulto mais seguro e equilibrado.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres