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"Segurança no parto está acima de polarização política", defende médica neonatologista

Segundo Dra. Letícia Correa, procedimentos e decisões no parto devem ter base científica e contar com profissionais tecnicamente preparados

Redação Publicado em 16/02/2025, às 06h00

Toda mulher tem direito a um parto seguro - Arquivo: Dra. Letícia Correa
Toda mulher tem direito a um parto seguro - Arquivo: Dra. Letícia Correa

A neonatologista Dra. Letícia Correa, que há quase 20 anos participa de partos em alguns dos maiores hospitais de São Paulo, vem observando, na última década, mudanças na dinâmica dos nascimentos, acompanhadas de debates sobre procedimentos que carregam "uma pitada de ideologia" e se inserem em contextos de polarização política. Segundo ela, "os partos humanizados, às vezes associados ao naturalismo, não deveriam excluir a presença de uma equipe médica para rotinas e atendimento a emergências, como o ´golden minute` - momento em que é preciso agir em segundos para garantir a segurança do recém-nascido".

​"A necessidade de atender em escala tornou a prática da medicina aparentemente fria e impessoal e, como reação, surgiram propostas experimentais", diz ela. "A humanização não se contrapõe à medicina, estão integradas, mas é preciso considerar o conhecimento científico e seus resultados comprovados para a sociedade; isso significa contar com profissionais tecnicamente preparados em momento tão decisivo quanto o nascimento".

​Para Dra. Letícia, alguns tipos de acolhimento trazem a impressão de ser mais importantes do que a técnica, mas não oferecem segurança: "Acredito na empatia mas para ser bom médico tem que ter base técnica."

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​No Brasil, há 10 anos, 92% dos nascimentos eram por cesárea, hoje apenas 70%. Desde 2021, uma resolução do Conselho Federal de Medicina não recomenda cesárea antes de 39 semanas de gestação: "Está associada ao aumento do risco de internação em UTI neonatal por complicações respiratórias, hipoglicemia etc., o que explica o crescimento dos partos naturais".

​Segundo a Sociedade Brasileira de Neonatologia, em 10% dos partos, os nascidos precisam de auxílio para iniciar a respiração, e a reanimação só pode ser feita por profissional treinado. "O aumento dessas circunstâncias impõe um debate menos acalorado e mais responsável em relação à segurança dos partos, para a mãe e para o bebê, pois os primeiros dias podem ser os mais importantes da vida", conclui Dra. Letícia Correa.

Sobre Letícia Correa

Dra. Letícia Correa, 43 anos, formada em Medicina pela Universidade Federal do Paraná, fez residência médica no Hospital das Clínicas, em São Paulo, e especialização em Neonatologia na USP, onde foi professora assistente. Há 20 anos na capital paulista, trabalhou em quase todas as maternidades da cidade. Na última década, passou a atuar em ambulatórios, onde se aprofundou em cuidados com recém-nascidos em sala de parto, berçário e UTI neonatal. É especialista em prematuros e nascidos de alto risco, com experiência em aleitamento materno e banco de leite. Atende Neonatologia (acompanha a gestação, o parto, o nascido, UTI, berçário), Pediatria (até 18 anos) e Puericultura (acolhimento de mães e famílias). Tem como objetivo ser porta-voz do parto seguro, difundindo critérios que são garantias comprovadas de saúde física e mental para mães e bebês.