Ginecologista Waleska de Carvalho fala sobre como fatores sociais e de saúde impulsionam a demanda por doações de gametas para fertilização in vitro
Redação Publicado em 18/07/2024, às 06h00
Nos últimos anos, houve um aumento expressivo na procura por óvulos e sêmen doados para tratamento de fertilização in vitro (FIV). De acordo com uma pesquisa realizada pela Redirection International, o setor da medicina reprodutiva do Brasil deve crescer em média 23% ao ano até 2026. Atualmente, o mercado nacional movimenta R$ 1.3 bilhão e deve chegar a pouco mais de R$ 3 bilhões. Essa tendência pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo mudanças sociais e questões de saúde.
A sociedade tem visto uma mudança significativa no perfil das mulheres que buscam engravidar. Muitas estão adiando a maternidade para se dedicarem a suas carreiras e outros interesses, o que acaba impactando a fertilidade. Waleska de Carvalho, ginecologista e obstetra da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR), explica: "A fertilidade feminina diminui a partir dos 35 anos, com uma perda de 50%, e após os 40 anos, essa perda chega a 90%." Muitas dessas mulheres acabam precisando de óvulos doados para realizar o sonho de serem mães.
Além disso, a infertilidade masculina também tem aumentado devido a fatores como consumo de álcool, tabagismo, estresse, obesidade e uso de anabolizantes. "Essas condições afetam a qualidade e a quantidade dos espermatozoides, necessitando, muitas vezes, da doação de sêmen para o sucesso do tratamento," destaca Waleska de Carvalho.
Outra razão para o aumento na demanda é a mudança no modelo familiar, com a crescente aceitação e formação de casais homoafetivos. Segundo dados do IBGE, o número de mulheres acima de 40 anos que se tornaram mães cresceu 65,7% entre 2010 e 2022, e o número de casamentos homoafetivos aumentou 147% entre 2013 e 2021.
A recepção de óvulos ou sêmen doados é indicada para diversos casos em que os casais ou indivíduos não conseguem engravidar com seus próprios gametas. Mulheres que entraram na menopausa, pacientes que passaram por tratamentos de fertilização in vitro sem sucesso, ou aquelas que foram submetidas a tratamentos de quimioterapia ou radioterapia devido ao câncer, podem se beneficiar da recepção de óvulos doados.
Segundo Waleska de Carvalho, "mulheres que passaram por cirurgias nos ovários, como endometriose ou cistos ovarianos, e homens com infertilidade grave também são candidatos a receber gametas doados." Além disso, casais com histórico de doenças genéticas que podem ser transmitidas aos filhos, indivíduos que optam pela produção independente e casais homoafetivos também têm encontrado na doação de gametas uma solução viável para constituírem suas famílias.
O mês de junho, conhecido como mês do orgulho LGBT, é um período importante para a luta contra a discriminação e pela inclusão. "Desde 2011, o STF reconheceu a união homoafetiva com direito à constituição familiar, e o CRM normatizou as regras para o tratamento desses casais," ressalta Waleska de Carvalho. A regulamentação tem permitido que muitos casais homoafetivos realizem o sonho de formar uma família.
Para casais homoafetivos femininos, a gestação compartilhada (onde o embrião é obtido com o óvulo de uma mulher e transferido para o útero da parceira) é uma técnica que tem mostrado benefícios significativos, proporcionando uma maior ligação entre a mãe genética e a mãe biológica. Já para casais homoafetivos masculinos, o processo é mais complexo e envolve a fertilização do óvulo de uma doadora com o sêmen de um dos parceiros, seguido da transferência do embrião para o útero de substituição.
"A regulamentação das leis e das normas de reprodução assistida para casais homoafetivos tem sido fundamental para a concretização do sonho de muitos em constituir uma família," conclui Waleska de Carvalho.
AMCR – Associação Mulher Ciência e Reprodução Humana do Brasil – é uma organização formada apenas por mulheres, pós-graduadas da área da saúde e reprodução humana, que compartilham o mesmo propósito: disseminar o conhecimento científico em ginecologia e reprodução humana, através de uma comunicação clara e acessível à todas as mulheres, além de lutar pela igualdade de oportunidade entre gêneros, reconhecimento e valorização da atuação das mulheres da ciência em saúde feminina. A associação foi fundada em março de 2021, pela Prof. Dra. Marise Samama. Atualmente possui 49 associadas, distribuídas em todas as regiões do Brasil. Para saber mais informações, acesse o site.