Ter um filho biológico é perfeitamente viável para homens trans, desde que eles ainda não tenham se submetido à cirurgia de redesignação sexual
Redação Publicado em 09/04/2023, às 06h00
A gravidez não é um privilégio da mulher cisgênero. Homens transgênero e trans masculinos podem engravidar e isso tem se tornado cada vez mais comum. Isso porque os homens transexuais são pessoas que nasceram com a genitália (vagina) e órgãos reprodutores femininos; porém, ao longo de seu desenvolvimento, perceberam que não se identificavam com o gênero feminino.
“A gravidez é perfeitamente viável para essas pessoas, desde que elas ainda não tenham se submetido à cirurgia de redesignação sexual, ou seja, retirada dos órgãos reprodutivos”, afirma Dra. Anaísa Dantas, ginecologista, obstetra e membro da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil).
Ela lembra que a cirurgia não é uma regra, uma vez que depende de como cada pessoa se sente em relação aos órgãos com os quais nasceu. “Uma pessoa não é menos transexual porque decidiu não fazer uma cirurgia. A transexualidade é sobre como a pessoa se vê e não sobre o órgão genital que ela carrega", ressalta a médica.
Sendo assim, uma vez que os órgãos reprodutores femininos são mantidos, o homem trans tem a possibilidade de engravidar e gerar um filho, assim como acontece com uma mulher. Mas a médica alerta sobre a necessidade de pausar o processo de hormonização antes da gestação. Segundo a especialista, os hormônios podem levar à infertilidade definitiva.
“Homens trans que tenham desejo de engravidar precisam interromper o uso da testosterona para que suas funções reprodutivas voltem a acontecer”, avisa Dra. Anaísa.
Outra possibilidade levantada pela médica é o congelamento dos óvulos antes de fazer uso da testosterona. “Isso é possível, mas infelizmente ainda não está disponível no SUS, somente em clínicas particulares”, informa.
O primeiro caso de um homem transexual grávido aconteceu nos Estados Unidos, em 2008. O americano Thomas Beatie resolveu engravidar após descobrir que a esposa era estéril. Ele recorreu a um banco de sêmen e gerou o próprio filho.
Beatie disse à revista britânica The Advocate que "querer ter um filho biológico não é um desejo feminino ou masculino, mas sim um desejo humano”. Ele acrescentou que, quando o casal decidiu ter um filho, ele parou de tomar suas doses regulares de testosterona e voltou a ovular naturalmente, não sendo necessário o uso de nenhuma droga para aumentar a fertilidade.
A AMCR -- Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil -- é uma entidade sem fins lucrativos, suprapartidária. Fundada em março de 2021, pela médica ginecologista, Prof. Dra. Marise Samama, possui 42 associadas, pós-graduadas da área da saúde, distribuídas em todas as regiões do Brasil. A associação é fruto da vontade dessas mulheres (cientistas, médicas, biomédicas e profissionais de saúde), que defendem a igualdade de oportunidade entre gêneros, reconhecimento e valorização da mulher e da ciência e atuação das mulheres nas áreas de saúde feminina e Reprodução Humana. Para saber mais informações, acesse o site.