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Proibição de celulares nas escolas: uma nova medida do MEC

A proibição de celulares nas escolas ganha cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo

Diana Quintella* Publicado em 10/12/2024, às 06h00

O celular prejudica o desempenho pedagógico
O celular prejudica o desempenho pedagógico

Escola por essência é espaço de sociabilização. O aprendizado na escola vai muito além do conteúdo acadêmico. A escola é a metáfora da vida, portanto são nos anos e no espaço escolar que a criança e o adolecente desenvolve a capacidade de interação, de comunicação, o senso de pertencimento a um grupo, onde aprende a lidar e resolver conflitos e os tantos desafios da convivência.

Por mais desenvolvida que seja a tecnologia, ela não substitui a interação humana na convivência e nos aprendizados da sociabilização. Entretanto, é comum vermos cada vez mais crianças e adolescentes entretidos com o celular a tal ponto de não conversarem e nem mesmo olharem para as pessoas ao seu redor.

O mundo virtual é capaz, infelizmente, de tirar a pessoa do mundo real. E se isso acontece também na escola, em que momento estas crianças irão aprender a conviver? Crianças na hora do recreio mexendo no celular ao invés de brincarem é um perigo enorme e real, da mesma forma que adolescentes conversando por whatsapp e acompanhando “vidas virtuais” pelas redes sociais ao invés de estarem criando as suas próprias experiências, compartilhando com os colegas.

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O tempo em que a criança e o adolecente estão na escola é tempo de vida real, de relações reais, interações, convivência. E tudo isso é prejudicado se o aluno estiver usando o celular. Atualmente existem muitos estudos que comprovam o impacto negativo do uso excessivo de tela para as crianças e adolescentes.

Crianças que passam muito tempo na tela apresentam menos flexibilidade para lidar com situações desafiadoras, tendem a se comportar de maneira mais impaciente, se irritam com mais facilidade, apresentam sedentarismo, ansiedade, têm o sono prejudicado, podem apresentar dificuldade de interação com grupos e menos habilidade de comunicação.

Muitos estudos mostram também que a tela em excesso atrapalha o processo de aprendizagem, interferindo na cognição. Inclusive o celular é capaz de viciar, devido aos neurotransmissores que a tela gera no cérebro. A proibição do uso de celular na escola vai evitar todos estes danos que podem ser causados pelo uso excessivo da tela, além de facilitar a conexão real no dia a dia da escola. Uso de celular e uso de tecnologia são aspectos distintos. Tecnologia nas escolas é um diferencial importante, em especial a partir do fundamental 1.

As escolas precisam ensinar sobre o uso de Inteligência Artificial, por exemplo, os alunos usam computadores para fazer pesquisas, impressora 3D para projetos, e tantas outras ferramentas tecnológicas que podem ajudar no processo de aprendizado. E nada disso tem a ver com o uso do celular pessoal.

O uso excessivo de telas pode causar tanta ansiedade em crianças e adolescentes que pode levar a um transtorno. E essa grande ansiedade pode causar uma depressão. O que temos visto é que crianças que fazem uso excessivo de telas acabam ficando muito ansiosas quando não estão com o aparelho, por exemplo, e assim começam a ter a sensação de que elas estão perdendo as informações. Elas não conseguem lidar com o ócio. A dependência do aparelho também faz com que a criança fique tão conectada e ligada às telas, ao volume alto, que isso também pode ocasionar crises de enxaqueca.

Além disso, estamos recebendo também muitas crianças que comem assistindo vídeos e televisão, o que faz com que percam a noção de saciedade, o que pode ocasionar transtornos alimentares.

O uso excessivo do celular também ocasiona prejuízos na atenção e na concentração, pois são crianças que não conseguem se concentrar por mais tempo. Sua atenção se limita a vídeos curtos, portanto, sua atenção dura poucos minutos.

Para os pais realizarem um desmame do tempo de uso do celular, uma redução do tempo de uso das telas e combater esse vício, caso já tenha chegado nesse estágio, algumas ações devem ser realizadas. Primeiramente, os pais precisam pensar em como estão usando as telas.

Como usam o celular, por exemplo? Em uma refeição em família, está cada um usando seu dispositivo eletrônico, enquanto come? Ou está toda a família assistindo televisão? Isso precisa ser pensado, pois essa rotina familiar precisa ser vista. Porque não adianta o pai chegar para o filho e falar que precisa reduzir, se ele próprio está dando um exemplo de uma pessoa que está o tempo todo conectada.

É preciso começar pelos pais, por essa reformulação da rotina familiar. Depois disso, é necessário estipular regras, reduzindo o tempo de uso. Num segundo momento, desinstalar alguns aplicativos do celular das crianças, entendendo que quem precisa controlar o uso do celular das crianças são os pais! Afinal, foram eles que deram o dispositivo para os filhos e precisam ter discernimento para entender a melhor forma para o seu uso.

É preciso que os pais compreendam essa dificuldade em dar limites e entendam que isso é um compromisso com a saúde dos seus filhos. Afinal, a criança em si não tem maturidade para administrar esse tempo, mas os pais sim. Evitar também deixar os dispositivos móveis e a televisão ligados próximo da hora de dormir.

O ideal é o uso na parte da manhã, até antes da hora do almoço. Depois disso, deixar o telefone celular guardado longe dos olhos, de preferência, para que a criança nem se lembre que aquilo existe e que esse tempo que seria usado nas telas possa ser substituído por outras brincadeiras, jogos e atividades ao ar livre.

*Diana Quintella é psicóloga e sócia diretora da Minime Educação Infantil