Mais do que limitar o tempo de uso de celulares, pais e mães precisam dar o exemplo, apresentar formas de entretenimento saudável e orientar como lidar com o tédio
Helen Mavichian* Publicado em 05/03/2023, às 06h00
O mundo digital faz parte do dia a dia de todos nós e é quase impossível pensar que essa dependência possa diminuir nos próximos anos ou décadas. Por um lado, os aparelhos eletrônicos, como celulares, computadores ou até tablets, facilitam a nossa vida e a das crianças, geram conexão e nos dão a possibilidade de utilizar as redes sociais, fazer pesquisas, aprender e ter entretenimento. Em contrapartida é importante observar que estes aparelhos podem se tornar uma armadilha para nossos filhos por serem uma porta de entrada para problemas de saúde mental e situações de vulnerabilidade.
De acordo com uma pesquisa recente da Mobile Time, em parceria com a Opinion Box, 44% das crianças brasileiras com até 12 anos têm um smartphone próprio e passam quase quatro horas por dia se distraindo dessa forma, e possivelmente isso seja um espelho do comportamento dos responsáveis, que também passam muito tempo com o aparelho na mão.
Em geral, especialistas apontam que crianças menores de 12 anos não têm ainda a maturidade necessária para administrar o uso do aparelho de forma saudável, ou seja, quando os responsáveis decidirem disponibilizar um celular para uma criança, é essencial que orientem e acompanhem o uso. Esse cuidado é essencial para evitar que as crianças tenham, por falta de maturidade e inocência, acesso a conteúdos violentos e impróprios para a faixa etária ou sejam vítimas de golpes e crimes digitais. É importante observar inclusive o tipo de programação e a recomendação etária dos filmes, jogos e desenhos.
Os pais e os responsáveis precisam dar limites em relação ao tempo que os filhos podem usar esses aparelhos. A grande e extensa exposição a esses equipamentos podem até atrapalhar a convivência familiar e social, o que é muito importante para a construção dos laços afetivos. Vale destacar que o uso excessivo de celulares e outros dispositivos conectados à internet pode desencadear uma série de sintomas e doenças nas crianças como transtornos do sono, insônia, sedentarismo, obesidade, dores de cabeça, transtornos alimentares como bulimia e anorexia, problemas na visão, dores musculares relacionadas à postura, irritabilidade, agressividade, condutas violentas, ansiedade e depressão.
Com isso, vem à tona a pergunta que não quer calar: o que pais, mães, tutores e responsáveis podem fazer para garantir que as crianças façam um uso mais saudável de celulares e outros dispositivos em um mundo tão conectado? Em primeiro lugar, dando o exemplo de como é um uso saudável de dispositivos, para assim manter a coerência na fala. Afinal, de nada adianta limitar o tempo de uso, quando os responsáveis usam celulares durante as refeições e até no banheiro! Crianças são esponjas do modelo comportamental dos pais, que também usam esse recurso para se distrair.
Além disso, é essencial promover formas de entretenimento que sejam apropriadas para a idade de cada criança, ensinando-as inclusive a lidar com tempos ociosos e o famigerado tédio. Quando a comunicação entre pais e filhos é transparente e respeitosa, problemas decorrentes do tempo de exposição a smartphones tendem a ser evitados. Porém, se mesmo com um monitoramento diário e medidas educativas, os pais perceberem que algo saiu do controle, não devem hesitar em pedir ajuda a um especialista.
* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.