Alfabetização 360° oferece ao professor os insumos para um bom planejamento que gere melhores resultados no desenvolvimento de cada estudante
Redação Publicado em 08/09/2022, às 06h00
Quando você anda por uma rua movimentada, está cercado de elementos que precisam da sua compreensão: ler as placas de trânsito, os nomes das avenidas, o destino dos ônibus. Também é preciso interpretar os relógios que marcam as horas e a temperatura, além de olhar para as vitrines e entender os preços, descontos e promoções, ou analisar as pinturas e intervenções que estão espalhadas pelos prédios. Tudo isso é tão cotidiano que parece ser natural, mas boa parte dessa compreensão acontece por conta da alfabetização integral – não se trata só de ter textos e palavras, mas também de entender a linguagem matemática e artística, por exemplo.
Ser alfabetizado é ler o mundo. Se a alfabetização integral já se faz necessária em uma atividade tão simples quanto andar por uma rua, imagine como é viver no século 21 com dificuldades nas habilidades de leitura e interpretação? É esse o desafio enfrentado por milhares de pessoas do país. Somente na pandemia, 66% das crianças não foram alfabetizadas na série em que isso deveria acontecer, indicando um cenário de crise que tende a se refletir em toda a vida escolar do estudante, podendo impactar em consequências ligadas às suas relações sociais e pessoais, ao exercício da cidadania e em sua visão e atuação no mundo do trabalho.
Olhando para a história do país, a estimativa oficial é de que mais de 65% dos adultos eram analfabetos no Brasil de 1900. Embora esse quadro geral já esteja melhorando, sabemos que muitas vezes há uma lentidão no processo de alfabetização e, além disso, ele frequentemente não se completa de maneira satisfatória, gerando o chamado analfabetismo funcional - pessoas que conseguem decifrar palavras, mas têm dificuldade de interpretar frases e sentenças. Dados da última ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização), realizada em 2016, indicavam que somente 45% das crianças do 3º ano do ensino fundamental tinham alfabetização adequada em Leitura e Matemática.
Esta é a principal raiz dos altos índices de distorção idade-série, que se refere a estudantes com dois ou mais anos de atraso em relação à série que deveriam cursar por sua idade. Com uma lenta e frágil apropriação da linguagem e do cálculo, os estudantes não conseguem acompanhar conteúdos dos outros componentes, tendo dificuldades crescentes em aprender e, consequentemente, ficando para trás em seus resultados de aprendizagem.
A linha de frente dessa situação enfrenta inúmeros desafios. Desenvolver nos estudantes habilidades para compreender e praticar a leitura e a escrita com autonomia requer trabalhar a correspondência entre grafemas e fonemas, mas também o fortalecimento de aspectos socioemocionais como foco, determinação e curiosidade para aprender – fundamentais em todo o processo de desenvolvimento e, em especial, para a recuperação da aprendizagem. Promover o desenvolvimento dessas competências de forma articulada é a ideia central de uma alfabetização integral, que conecta diferentes linguagens para driblar os déficits de aprendizagem de estudantes ainda nos anos de alfabetização e evitar o aumento da distorção idade-série ao longo da trajetória escolar.
Os anos de 2020 e 2021 foram marcados pela pandemia de COVID-19, que impactou com a educação nacional com o fechamento das escolas e com a inserção do ensino remoto ou híbrido. Ainda não é possível medir concretamente o impacto dessa situação, mas a Organização das Nações Unidas estima que cerca de 1,6 bilhão de crianças tiveram sua educação prejudicada nesse período.
Alguns estudos permitem ter uma ideia do problema: o número de crianças pré-leitoras do 2° ano subiu de 52% para 73%, de acordo com um diagnóstico feito com 250 mil estudantes de dez estados brasileiros pela Fundação Lemann, Instituto Natura e Associação Bem Comum, em 2021. Dados obtidos de levantamentos da BID, Fundação Lemann, Fundação Itaú Social, Data Folha também mostram que, na percepção pais e responsáveis, 51% dos estudantes que estavam em processo de alfabetização ficaram no mesmo estágio (29%) ou desaprenderam o que sabiam (21%). Esses levantamentos, ainda que não possam ser comparados com dados de extensão nacional como da ANA, oferecem um prenúncio assustador do que se pode esperar de panoramas gerais.
Para Inês Kisil Miskalo, especialista em alfabetização do Instituto Ayrton Senna, a pandemia foi um gatilho para que se olhasse com mais profundidade a questão da alfabetização, que já tinha problemas e foi agravada, gerando a necessidade de fazer com que o ano letivo seja mais bem aproveitado do que era antes. “Os últimos anos deixaram um vazio na alfabetização. Preenchê-lo pressupõe um olhar para a BNCC para as competências necessárias para a sua formação plena. Com isso em mãos, é possível fazer um diagnóstico de onde o aluno se encontra para orientar um planejamento focado nas habilidades que o aluno ainda não desenvolveu”, destaca Inês.
É nesse contexto que a alfabetização 360° pode ser implementada para gerar impactos positivos. Ela pode ser definida como a estratégia de promoção de aprendizagem integral no ciclo de alfabetização, olhando o estudante em todas as suas dimensões.
Diversos aspectos dessa proposta são importantes para a sua implementação - um ponto importante diz respeito aos meios pelos quais o professor pode alcançar esse objetivo. Visando a integralidade e a forma como os estudantes devem se desenvolver em múltiplos campos de compreensão, o ideal é que as competências de leitura e escrita, por exemplo, sejam trabalhadas com materiais de outras áreas do conhecimento, como pesquisas científicas, expressões artísticas, aulas de humanas e educação física, entre outras. O desenvolvimento dessas competências tem potencial inclusive para promover a aceleração da aprendizagem, podendo ser um importante aliado para a recuperação do tempo perdido durante a pandemia em relação à diferentes linguagens e áreas do conhecimento.
Quer saber mais sobre a alfabetização 360°? Na humane, ambiente digital de formação do Instituto Ayrton Senna, você se cadastra e acessa gratuitamente o conteúdo completo sobre essa proposta e sua implementação! Acesse: https://bit.ly/3zf2UaG.