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Nova Lei sobre Educação digital destaca importância do pensamento computacional nas escolas

A obrigatoriedade da Educação Digital nas instituições de ensino traz novos desafios para o ensino

Cristina Diaz* Publicado em 08/06/2023, às 10h00

Há uma enorme desigualdade de recursos quando se trata de tecnologia nas escolas brasileiras
Há uma enorme desigualdade de recursos quando se trata de tecnologia nas escolas brasileiras

Se o incentivo ao ensino de competências digitais seria uma prioridade na política educacional brasileira, não restou dúvida sobre a sua importância por ser uma das primeiras medidas sancionadas em 2023 pelo governo federal, a Lei 14.533, de 2023. Ela institui a Política Nacional de Educação Digital (Pned) com medidas de estruturação e de incentivo ao ensino de competências digitais e de Pensamento Computacional nas escolas.

A nova medida amplia o acesso das crianças e dos jovens à tecnologia e aos recursos digitais, independentemente de idade, origem social ou de localização geográfica. A Lei também abre a possibilidade de trabalhar a Educação Digital de maneira desconectada e desplugada, ou seja, sem a necessidade de computadores ou de internet, dentro do que é o Pensamento Computacional.

O que à primeira vista parece estranho, pode ser a grande oportunidade de mudar a cultura digital brasileira e de preparar nossas crianças e jovens para o futuro necessariamente tecnológico.

Em recente visita ao Brasil, a ativista Malala Yousafzai mencionou, em um contexto de desinformação e de implementação de uma nova lei sobre fake news no nosso país, que é importante que haja responsabilidade do uso de ferramentas e que é preponderante inserir Educação Digital nos currículos escolares para ensinar as pessoas sobre o funcionamento da tecnologia, das plataformas e dos algoritmos. Dessa forma, os jovens serão mais conscientes sobre as ferramentas digitais, compreendendo inclusive o que é informação falsa, incompleta ou tendenciosa.

A Lei brasileira veio alinhada com esse pensamento e traz para as Escolas temas como Pensamento Computacional, mundo digital, cultura digital, tecnologia assistiva e direitos digitais. O Pensamento Computacional, por exemplo, trabalha habilidades importantes de maneira transversal, dentro da grade curricular e sem a necessidade de implementações complexas ou recursos especiais.

Essas habilidades – decomposição, abstração, reconhecimento de padrões, pensamento algorítmico e análise - estão presentes em jogos, em atividades coletivas ou até mesmo na Matemática.

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Apesar deste trabalho já estar presente no cotidiano escolar, a obrigatoriedade da Educação Digital nas instituições de ensino traz novos desafios e dois dos principais são o preparo dos professores e a disponibilidade de bons recursos didáticos sobre o tema.

Lidar com mais essa demanda com os escassos recursos financeiros e humanos que eventualmente possuem pode fazer com que vários gestores se deparem com escolhas como: devo implementar a educação digital com os professores que já estão na Escola ou devo chamar professores especialistas em computação?

Se a opção for trabalhar com os professores que já estão na Escola, será necessário suporte e preparo para lidar com esses conteúdos e se a opção for por trazer especialistas em computação, a contratação desses profissionais que estão em um mercado superaquecido, pode ser desafiadora.

O que nos parece é que em um país tão heterogêneo como o Brasil, não há que se esperar uma implementação igual para todas as Escolas, sejam elas da rede pública ou da rede particular. Cada Escola irá se apropriar da Educação Digital à sua maneira e há bastante flexibilidade no tema para que cada uma delas possa escolher a sua forma de trabalhar - com mais recursos ou com menos recursos, com computadores ou sem, com acesso à Internet ou não.

O que precisamos garantir em nossas Escolas, a todos os Professores e estudantes é a familiaridade e o conforto em trabalhar raciocínios e maneiras de organizar informações em uma sociedade amparada pela tecnologia. Por exemplo, pensar de forma lógica e algorítmica, ou seja, criar ou usar um passo a passo para resolver um problema são competências gerais e abrangentes que podem ser aplicadas a diversas situações, plugadas ou desplugadas. Elas serão, sem dúvida nenhuma, imprescindíveis para os seres humanos do futuro e bastante necessárias para o pleno exercício da cidadania em um mundo que só tende a aprofundar sua relação com o digital.

O convite para a comunidade escolar está feito e como tudo o que é novo, será necessário um esforço coletivo para que a Educação Digital seja implementada com sucesso. É importante, contudo, entender que a inclusão da Educação Digital na vida de todos nós é inevitável e veio para ficar.

*Cristina Diaz é especialista em educação da UpMat Educacional